29 maio 2016

5. You Make Me Love You - Capítulo 31

Nostálgica


Belieber's POV
Congelada, estática, praticamente morta. Era exatamente assim que eu me sentia ou, pelo menos, sentia o meu corpo, que não parecia ter qualquer perspectiva de como reagir aos estímulos do meio naquele momento.

— Lucas?

A boca secou logo após pronunciar o seu nome como se o meu próprio organismo duvidasse da minha sanidade. Afinal, quem poderia dizer que aquilo não era só uma ilusão causada pelo cansaço e estresse?

Apertei os olhos com força. Uma péssima ideia ao considerar que eles já começavam a se inundar de lágrimas, mas era um fator que eu não havia percebido até o presente momento quando finalmente notei que não era nenhuma bobagem da minha cabeça. Estava acontecendo e a imagem de uma Manuela satisfeita encostada à bancada da cozinha deixava isso bastante claro.

Um sorriso se abriu no rosto daquele bem diante de mim e eu corri para encerrar a distância que ainda existia entre nós – uma distância bem menor daquela que nos separava até pouco tempo atrás. Assim que ele abriu os braços para mim, todos os pelos do meu corpo se arrepiaram instantaneamente.

Eu estava em casa de novo.

Fazia mais de um ano que eu não via Lucas e, com certeza, um bom tempo desde a última vez que ouvira a sua voz, mas nada mudara. Talvez o corte de cabelo não estivesse mais o mesmo – aliás, estava muito mais bonito – ou as feições do seu rosto tivessem mudado um pouco mais. Mas era o mesmo perfume, o mesmo abraço, os mesmo olhos dissimulados de quem sempre tem uma carta na manga para qualquer situação.

Quando ele riu da minha reação, apertando-me mais forte sobre os seus braços, e eu percebi que era exatamente a mesma risada, toda minha estrutura corporal fraquejou. Senti como se precisasse do som daquele riso para me manter viva, porém não percebera isso até o presente momento. No máximo do egoísmo, quis guardar aquele homem em uma gaveta trancada para ele nunca mais poder ficar tão distante.

A máxima do “a saudades faz o amor aumentar” nunca foi tão verdadeira.

— Amor da minha vida — ele ainda falava comigo com exatamente o mesmo cuidado —, você não tem ideia do quanto eu estava com saudades de você!

— Ah, eu tenho, sim... — Ri, a voz totalmente embargada de uma considerável vontade de chorar.

Vale ressaltar que o meu emocional claramente não estava em ordem nos últimos dias. Qualquer fato irrelevante se tornava algo tão maior. Eu poderia chorar até mesmo se o zumbido de uma mosca atrapalhasse minha concentração. Mas o Lucas não era uma mosca – ainda bem, muitas garotas ficariam acabadas com isso — e chorar por ele era uma coisa que sempre valeria a pena.

Isso não significava, contudo, que ia me deixar desatar em um pranto de emoção com todas aquelas outras pessoas presentes na cozinha.

Aliás, por falar nelas...

— Vocês...

Soltei Lucas por um instante, girando o corpo lentamente para ver não só Manuela, mas Justin e Harry, que haviam seguido até a cozinha, segundos depois de mim. Finalmente, a minha ficha caiu!

— Vocês sabiam. — Arfei. — Vocês armaram para mim! Anda, confessem!

— O que você acha? — Manuela revirou os olhos, sorrindo, como se fosse óbvio demais até para uma pessoa tapada como eu.

— Que audácia! — Minha expressão se fechou em um biquinho de vergonha. — Isso não se faz...

Lucas havia deixado claro que só conseguiria chegar para o meu casamento em cima de hora, de forma que eu só o veria na cerimônia e não teríamos um tempo para ficar juntos. Aluno de medicina na faculdade mais conceituada do Brasil, ele ainda caminhava para o último período e começara a estagiar em um hospital particular para ter contato com a vivência do seu futuro dia-a-dia. Tempo também não era algo do qual ele dispunha muito.

Vê-lo ali, mesmo que tudo estivesse corrido, era tão reconfortante. Saber que a gente teria disponibilidade de curtir a companhia do outro, apesar de ser por um curto período, era o melhor presente de casamento que qualquer um poderia me dar. Mas eu esperava de verdade não ter que passar pelo constrangimento de me emocionar na frente dos meus amigos.

Era para isso que servia o casamento. Para eu chorar na frente de todos aqueles que conhecemos e, então, eles terem material para rir de mim posteriormente. Ou seja, eles poderiam esperar mais um pouco.

— Quer saber a melhor parte? — Manuela deu alguns passos na nossa direção, encostando levemente do braço de Lucas ao falar. — Adivinha de quem foi a ideia de não te contar nada?

Estreitei o olhar e arquei a sobrancelha ao fitar o loiro diante de mim.

— Não me olha assim. — A expressão do loiro era a mesma que ele usava quando alguma de suas “namoradas” o flagrava aprontando alguma coisa, depois de avisar que ele não era para namorar. — O que você esperava de mim?

— Você não muda, não é?

— Você gosta.

Seu sorriso cafajeste tilintou para mim e eu amoleci. Cheguei a abrir a boca para falar mais alguma coisa, mas, por alguns instantes, seu olhar se perdeu para algo que estava atrás de mim.  Me lembrei de Justin e Harry parados na porta da cozinha e eu soube que teria muito que conversar com o meu melhor amigo. Ele não iria pegar leve com as perguntas e eu... Eu não conseguia sequer responder a mim mesma.

Suspirei, incapaz de pensar nessa situação. Virei-me para a direção em que meu noivo se encontrara, pronta para repreendê-lo por não ter me contado sobre o que Lucas planejara. Obviamente, eu sabia que nada para eles – nem para mim – seria tão especial quanto a surpresa, mas se eu soubesse, as coisas seriam diferentes. Por exemplo, eu não precisaria ficar emburrada e nem ter me sentido rejeitada pelo meu próprio futuro marido.

Essas coisas são relevantes na vida de uma mulher.

Contudo, quando já me preparava para falar, observei Justin sutilmente dar as costas para a situação e retornar para a sala. Não sei por qual motivo exatamente isso me chamou atenção, mas algo em sua expressão não parecia bom. Me perguntei se Lucas, com sua gentileza digna de um elefante, já não teria feito com que ele se sentisse mal de alguma forma. Considerar isso não me deixou muito feliz, mas era possível.

— O que foi? — Harry me distraiu da apreensão ao começar a falar. — Nem adianta olhar para mim, eu só segui as coordenadas da Manuela. O plano era te tirar de casa e te trazer de volta em tal horário...

— Você é muito levado! — Soltei, tratando-o como criança, enquanto me aproximava.

Abracei-o devagar, achando toda aquela situação muito engraçada. Ao mesmo tempo, eu me sentia meio malvada e desorientada, mas, dessa vez, era em um bom sentido. Aliás, tudo parecia ir para o melhor dos significados possíveis quando Lucas estava por perto. Em certo ponto, participando de toda essa armação cara de pau, Harry ganhava tantos pontos comigo que dava até vontade de pedi-lo em casamento. Mas, por alguma razão, isso não parecia mais necessário.

Até porque, devido à situação que eu provocara lá embaixo, não tenho muita certeza se ele iria aceitar.

— Desculpa — sussurrei em seu ouvido, evitando que outros ficassem cientes da nossa privacidade. — Se eu soubesse, eu nunca teria te provocado desse jeito. Achei que teríamos tempo...

— Tudo bem. — Ele sussurrou de volta, em um tom ainda mais baixo do que o meu. — Eu tenho um pouco de culpa nisso também. Mas não pense que eu esqueci o que você falou sobre a lua de mel. Não se esqueça você também, porque eu vou querer tudo...

Segurei o riso e me afastei de seu abraço, trocando olhares que eram tão inapropriados que eu nem consigo expressar seus significados. Obviamente, eu não trocaria a chegada de Lucas por nada no mundo, mas a face de Harry realmente me fazia pensar que não seria tão ruim a gente ter enrolado só mais um pouco na garagem...

— Bom, por ora, ela é toda sua! — Falou, dirigindo-se a Lucas, enquanto me dava um beijo na testa. — Mas não abuse.

— É mais capaz de ela abusar de mim — ao lado de Manuela, Lucas respondeu sorrindo. — Vocês estão juntos há bastante tempo, acho que já ficou óbvio o quão preguiçosa ela pode ser...

— E folgada.

— Abusada.

Estava aberta a temporada de meter o pau na futura noiva. Olha, claramente, eu não era obrigada a me submeter àquelas gracinhas debaixo do meu próprio teto.

— Ok, gente, já entendi o amor de vocês por mim. — Interrompi, dramaticamente cruzando os braços. — Agora chega, né?

— Tudo bem — Harry suspirou, contendo um riso. — Boa sorte aí, cara!

Revirei os olhos para as palavras do moreno e ele riu. Dando-me a língua, se despediu, retornando até a sala de estar, onde imaginei que ele não ficaria por muito tempo, já que era consideravelmente tarde.

Por fim, restara naquela cozinha só eu, Lucas e Manuela, sozinhos. O quarteto fantástico de três pessoas. Que nostalgia!

Naquele momento, no entanto, eu estava em paz. Completa e serena. Ter Lucas ali era a melhor coisa que poderia acontecer. A aura dele me dava forças, de uma forma que ele não precisava fazer ou falar nada, só precisava estar ao meu lado e respirando. O mínimo de esforço que ele pudesse ter já era suficiente para transbordar o meu coração de todos os sentimentos bons que eu cultivava por aquele loiro.

Além disso, não era só a usual boa sensação que ele trazia. Era a saudade. Uma saudade que, no dia-a-dia, eu tinha que me obrigar a fingir que não existia, enquanto seguia na minha vida agitada. Só que ela era inerente a mim, tão radicalmente que mesmo Lucas estando ali, eu ainda a sentia. E, por mais que às vezes doesse, eu adorava saber que essa saudade tão intensa era uma parte inseparável de quem eu era. Era ela a responsável por não me deixar esquecer nunca o quanto eu amava esse homem e muito menos dos momentos que a gente passara junto.

Em um minuto, eu estava abraçando tanto Lucas quanto Manuela com toda a energia e força que eu ainda tinha no corpo – o que obviamente era tão parca que se tornava impossível de ser quantificada. Nós estávamos ali, nós três, como nos velhos tempos. Com todas as mudanças esmagadoras da vida e com um novo status de pessoas adultas, mas ainda éramos nós e eu queria gritar de felicidade.

— Acho que eu vou morrer de empolgação! — Disse, ainda no meio do abraço. — Ou, ao menos, desmaiar. Isso com certeza.

— Ei! — Manuela se pronunciou, parecendo ultrajada com o que eu dissera. — Esse papel é meu. Ponha-se no seu lugar.

Risos encheram a cozinha. Eu, porém, não ria por conta do que ela falara. Eu simplesmente não conseguia conter o tangível êxtase de estarmos ali, rindo e fazendo piada que faziam referências ao passado. Aquele era basicamente um daqueles momentos em que sua vida parece um episódio emocional do seu seriado cômico favorito. Meu riso vinha dessa percepção e do furacão de sentimentos que ela despertava.

— Lucas — interpelei, assim que consegui controlar minha alegria frouxa —, você está intimado a me contar cada mísero detalhe da sua vida. Se prepare, porque essa vai ser uma longa noite, eu quero falar de tudo.

— Bom... ­— Seu tom não parecia muito amigável às minhas vontades. — (Seu nome), você sabe que eu te amo e, olha, essa seria a coisa que eu mais apreciaria fazer. Mas, acho que você tem outros planos para hoje...

Franzi o cenho, contrariada. Dentro do meu conhecimento, o único plano que eu tinha feito para aquele dia envolviam sexo e Harry Styles, mas eu já o havia cancelado. É válido, ressaltar ainda, que não tinha como Lucas Barros estar ciente daquilo. Inclusive se tivesse alguma forma de isso chegar até ele, bom, eu já teria me matado muito antes que acontecesse.

— Na verdade, nós temos — Completou Manuela, dando ênfase ao pronome utilizado.

Precisei de um minuto para varrer minha memória, procurando algum momento em que eu tivesse marcado algo, porque geralmente não era de esquecer compromisso. Foi então que – mais uma vez de uma forma muito lenta — a minha ficha caiu e eu percebi o que estava acontecendo. Ou melhor, o que não ia acontecer.

Eu iria me casar em dois dias. Como poderia ser mais óbvio?

— Ela não fez isso... — Sibilei, fitando Lucas, já desesperada.

— Repito: É a Manuela. — Ele sorriu e eu pude sentir naquele sorriso vestígios de pena. — O que você esperava?

Pensei em pegar uma faca e enfiá-la algumas vezes dentro do meu cérebro para me convencer de que aquilo não estava acontecendo. Mas estava e eu tive que me contentar em virar devagar para Manuela e tentar matá-la com o meu olhar mais seco e cheio de ódio que eu conseguia imprimir.

— (Seu nome), nem adianta querer comer a minha cabeça — falou, sem mal olhar para mim, aparentando tanta tranquilidade que chegava a dar mais raiva.

— Por que você faria uma coisa dessas? — O mais chocante era eu estar incrédula ainda.

— Porque eu sou sua melhor amiga — defendeu. — Eu não podia deixar que você casasse, que sua vida de solteira se esvaísse assim sem que você tivesse a chance de presenciar caras lindos e gostosos seminus dançando na sua cara, enquanto bebe e ri com suas amigas.

— Olha, tirando a parte dos caras, ela tem um bom ponto — Lucas, como sempre, se intrometendo na hora errada. — Talvez você nunca volte a ser solteira de novo.

— Talvez? — Me indignei. — Qual o nível de credibilidade que você dá para o meu casamento, moço? Posso saber?

— Ei, calma aí! O seu problema é com ela...

Lucas tinha razão. Eu não conseguia imaginar o que Manuela tinha na cabeça ao organizar uma despedida de solteira bem debaixo do meu nariz. Não tinha nada a ver comigo. Mas esse comportamento "morde e assopra" tinha tudo a ver com aquela garota. Ela sabia que a chegada de Lucas iria me amolecer para qualquer coisa e estava usando disso a seu favor.

Dessa vez, eu não ia me deixar levar tão fácil.

— Manuela Magalhães — respirei fundo ao pronunciar seu nome —, eu quero que você me dê um bom, na verdade, um ótimo motivo para eu comprar essa sua ideia.

— Que tal esse: eu já chamei todas as suas amigas daqui e, inclusive, algumas já estão esperando por nós. Não seria constrangedor ter que cancelar tudo agora? — A forma como ela falava não transmitia muita segurança e ela sabia que eu percebia isso.

— Até aí o problema é seu! — Rebati. — Não me importo para o constrangimento.

— Ah, é? — Ela cruzou os braços, decidida. — E se eu te disser que não ter uma despedida de solteira dá azar para o casamento. Vai arriscar?

Meus olhos se esbugalharam de pânico.

— Lucas, isso é sério?

— Eu sei lá, acho que não. — O loiro deu de ombros, despreocupado. — Mas, sendo ou não, você vai acabar indo de qualquer forma.

— Ah, é? E por que eu faria isso?

— Porque a Manuela é sua melhor amiga, você a ama e é mais provável que um raio caia sobre mim agora do que você consiga dizer ‘não’ para ela...

Pude ouvir Manu soltar uma risadinha, claramente concordando com o que ele havia dito. Nesse momento, quis bater o meu pé e me recusar a sair de casa, só para provar para os dois que eles estavam errados.

Mas não estavam.

Inclusive, nenhum raio caiu sobre Lucas.

Sorte dele. Azar o meu.

— Eu odeio vocês! — Declarei, cruzando os braços.

— Se divirtam, meninas! — Ele riu, caminhando em direção à cozinha. — E, (Seu nome), não se preocupe, quando você voltar, vamos falar sobre tudo o que você quiser. Sem exceção, serei seu.

Eu sabia que Lucas estava falando aquilo como forma de apaziguar a situação, até mesmo o fato de ele ter basicamente entregado minha vida nas mãos de Manuela, ao expor minha dificuldade em dizer “não”. Mesmo assim, não consegui deixar de ficar feliz com isso, em pensar que ele “seria meu” como há tanto tempo não era.

Assim, quando me virei para encarar Manuela com uma expressão bem má, eu já estava completamente dócil por dentro, o que não me deixou ter tanto sucesso. Mas o que eu poderia fazer? Era Lucas. E era Manuela. Eles poderiam fazer as maiores loucuras do mundo e teriam a total liberdade de me incluir nelas, porque retinham anos e anos do meu amor e entrega.

Decidi que iria levar os planos de Manuela de forma leve, sem fazer birra.


Só que, quando encontrei seus olhos novamente e ela sorriu de forma suspeita para mim, eu vacilei. Precisava de muito pouco para eu conseguir ler em sua forma de se expressar que seria uma longa noite, em que tudo podia e ia dar muito errado. A pior parte... É que eu sentia que ia gostar.

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Migas,  capítulo 31 aí direto para o coração de vocês.
Capítulo levinho, sem muitas delongas, mas muita nostalgia.
Espero do fundo do coração que vocês gostem, porque o menino mais safado e fofo do mundo está de volta nessa fic e ele não é do tipo que deixa as coisas caírem na monotonia. Quem gostou de ver o Lucas de volta?

Se vocês gostaram do capítulo, me contem. Críticas, pedidos e sugestões são muito bem vindos. Comentem! :)

Um beijo no core de cada uma...


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