09 junho 2013

4. You Make Me Love You - Capítulo 12



Filmando...


Belieber's POV

  
Acordei bem humorada, naquela manhã, mesmo que não se comparasse aos outros amanheceres anteriores. Apesar do frio cortante, havia um calorzinho de felicidade dentro de mim, resultado da ótima noite que eu passara conversando e rindo com Cory e semeando alguns sorrisos nos rostos dos meus fãs. Fazia muito tempo que eu não ficava tanto tempo no twitter redirecionando minha atenção a coisas realmente importantes.

   Desligando o alarme do meu celular, me levantei da cama, arrumando-a cuidadosamente, apenas para gastar minha energia incrivelmente incomum. Após garantir que meu quarto estava em condições no mínimo apresentáveis, separei uma muda de roupas que eu gostava para vestir e me permitir me importar um pouco mais com isso. Embora eu não costumasse me produzir para ficar em casa, eu queria me sentir perfeitamente bonita por fora para assim manter a faísca de alegria por dentro.

   Segui até o banheiro, colocando em prática todo o processo de rotina de sempre. Assim, soltei o cabelo, ajeitando-o com as mãos, antes de me despir e entrar no boxe, logo após separar as roupas para lavar. Tentei relembrar de todas as músicas antigas que eu não escutava há muito tempo e comece a cantá-las da forma mais alta que podia, sem me importar em acertar todas as notas e manter os tons adequados. Aquele era o dia em que eu, afinal, iria me libertar parcialmente de todas as praticidades a qual eu buscava me apegar diariamente.

   Logo que sai do chuveiro e sequei meu corpo, vesti a roupa separada, cuidadosamente, analisando-me bem no espelho do banheiro e, por fim, penteei o cabelo, treinando alguns penteados novos, apenas por diversão. Involuntariamente, descobri um método para não ser tão autocrítica e, assim, acabei reparando que eu poderia me achar mais bonita do que pensava durante a maior parte do que tempo, em que eu estava deprimida.

   Me peguei criando explicações plausíveis para explicar o meu bom humor, enquanto saia do quarto e descia calmamente as escadas. E, não. Não havia nada diferente que pudesse explicar aquilo e... Era bom saber disso. Saber que, por alguma razão, isso vinha somente de mim, de uma vontade involuntária de não ficar tentando controlar as coisas ou pior, deixando que elas me controlassem.

   Cheguei à sala de estar, ainda com essa mentalidade, o que ajudou com que eu não me concentrasse em detalhes banais e que não tinham nada a ver comigo, como o fato de Justin e Manuela estarem se espremendo em uma poltrona, mesmo quando Pattie ocupava apenas um pequeno espaço do sofá, enquanto usava o telefone. Talvez, os dois gostassem de ignorar as leis físicas que diziam que dois corpos não podiam ocupar o mesmo espaço, ao mesmo tempo. O que importa?

   Esperando não chamar muita atenção – e sabendo que isso raramente aconteceria – continuei meu caminho até a cozinha, deixando que minhas necessidades me guiassem. E, no momento, eu necessitava muito de algo que fosse gostoso o bastante, a ponto de quase parecer um pecado. Nada me deixaria mais feliz do que encontrar logo algo que se encaixasse nessas características, mas...

   – Você acordada a essa hora? Sério mesmo?

   Chaz foi a primeira coisa que eu vi, ao entrar na cozinha e, bom, ele era legal, mas não era bem o que eu estava esperando. Inclusive sua taxa de deslocamento só aumentou quando notei que o mesmo estava a terminar de comer um pãozinho, encostado a bancada. Pãozinho. Isso, com certeza, destoava da possível bomba de caloria, na qual eu estivera pensando.

   – Não comece, Charles! – adverti, começando a procurar por algo na geladeira. – Então, vamos ao que realmente interessa... Você só comeu isso mesmo?
   – Pois é! – suspirou Chaz, provavelmente pensando o mesmo que eu – Eu também tinha votado por comprarmos uma torta de chocolate, mas Pattie falou algo sobre já estarmos ingerindo gordura demais ultimamente e sobre isso fazer mal a saúde...
   – Como se pão também fosse um exemplo de vida saudável, não é?
   – É, você não é a única a pensar assim. Pattie me recomendou comer algumas frutas, mas... Não!
   – Bom, independente do seu lado rebelde sem causa, eu vou ser um exemplo de pessoa saudável e ficarei com os morangos, ok? – informei, exagerando no padrão de politicamente correta.

   Ignorando os olhares de Chaz em mim, peguei o pequeno pote com morangos cuidadosamente e transferi grande parte destes para uma tigela decorada. Em seguida, voltei a guardar o restante no lugar de origem e separei a cauda de chocolate. Chocolate um derivado do cacau, com certeza algo plenamente saudável, que permitia que eu comesse sem culpa por estar me contradizendo.

    Ok, admito, estou me sentindo meio idiota por não ter pensado nisso antes... – ele me surpreendeu, dizendo exatamente o contrário do que eu esperava.
   – Essa é a diferença entre nós... – observei, enquanto despejava a calda devagar sobre os morangos – Eu sou inteligente e você... Bom, você é você!
   – Obrigado, hein? – ironizou – Na verdade, eu não deveria fazer isso, mas vou deixar você se redimir por sua grosseria, apenas ao me ceder um pequeno pedaço da sua primeira refeição, ok?
    – Então, eu acho que eu não vou me redimir, moço... – ri, afastando-o de suas intenções.

   Chaz me fitou com um certo ar de incredulidade, mesmo que não houvesse surpresa em sua expressão. Na verdade, era o modo habitual de ele me olhar quando queria uma coisa que eu lhe negava. Esse era apenas mais um dos fatores em que Chaz se assemelhava muito a uma criança, porém diferente de uma, era mais fácil fazer com que ele cedesse para o meu lado, sem muito esforço.

   – Espera! – falei, pausadamente, refletindo bastante sobre o que iria dizer – Talvez eu te dê um moranguinho ou mais do que isso, se você fizer um favor para mim...
   – Bom... Você sabe que eu simplesmente posso ir até a geladeira e pegar o mesmo para mim, não sabe?
   – Ah, Chaz, por favor... – miei – Não é nada demais. Apenas uma twitcam. Será divertida, você estará em minha companhia e poderá comer o que quiser, ok? Aliás, se você ficar muita questão, sei lá, eu começo a contrabandear doces nessa casa, mas... Faça isso por mim. Por favor!
   – E o que você não me pede sorrindo, que eu faço chorando, hein, (Seu Nome)?
   – Ah, você sabe que eu te amo... – suspirei, satisfeita por tudo aquilo ter levado menos de um minuto – Agora, venha!

  Assim, puxei Chaz porta à fora, apressando o passo a medida que nos aproximávamos do meio da sala. Diferente das outras milhares de vezes que eu já o fizera, ele não resistira ou fizera corpo mole. Pelo contrário, Chaz seguia logo atrás de mim, caminhando na mesma velocidade que eu, sem parecer muito incomodado. Muito possivelmente eu havia animado a manhã dele com aquela ideia, já que de certa forma antes de eu acordar suas opções se resumiam a ficar atacando tudo na cozinha ou ficar segurando vela na sala...

   Aliás, fora impossível não perceber os olhares de Justin e Manuela nos seguindo, supostamente de forma discreta. Ainda assim, tentei não ligar, tratar como se não fosse importante, porque não era. Aquilo tudo só poderia se resumir em duas coisas: curiosidade ou, então, pensamentos maldosos, que os faziam pensar que nós seríamos capazes de fazer o mesmo que eles dois faziam quando estavam sozinhos.

   Eca!

   Voltei minha concentração rapidamente aos meus planos anteriores – que não incluíam ninguém mais do que eu e Chaz –, já que ficar pensando nisso só fazia com que imagens terríveis viessem a minha cabeça, aumentando assim o risco de eu desenvolver algum trauma que me perseguiria para o resto da vida. Eu já estava meio abobada, não precisava também ficar louca por conta da minha imaginação detalhista demais.

   O som da porta do meu quarto batendo fora o suficiente para fazer com que eu parasse de dialogar comigo mesma em minha cabeça e começasse a dar atenção ao meu acompanhante. Assim, logo que Chaz se sentou na minha cama, deixei minha pequena tigela sobre o seu colo e separei meu notebook, colocando-o também sobre a cama. Apenas enquanto preparava as coisas, me lembrei de que não tinha ideia de o que iria fazer durante a twitcam, mas decidi ignorar essa questão. Pensar e planejar demais acabavam sempre por estragar tudo.

   – Então, quando começamos? – perguntou Chaz, já com a boca cheia de chocolate.
   – Em um minuto... – respondi, procurando por um batom qualquer – Espera só eu ficar um pouquinho apresentável e começaremos!
   – Apresentável? Você? – ele fez uma leve pausa, enquanto me analisava – Você sabe que cirurgias plásticas levam mais de um minuto, não sabe?
   – É, eu sei... – falei, entre dentes – Assim como sei que em menos de um minuto, eu posso quebrar isso que você chama de cara!
   – Que maldade! – sua expressão se fechou em um biquinho e ele pareceu, afinal, se aquietar.

   Com o silêncio no quarto, terminei de passar o batom e fiquei mais uns cinco minutos observando a roupa que vestia e tentando me decidir se deveria mudar ou não. Eu queria estar deslumbrante, queria estar bem, queria que quem estivesse assistindo me visse ali e pensasse “Ela está ótima, assim como da última vez que eu a vi”. Queria desesperadamente que todo mundo acreditasse que tudo continuava igual, porque assim era mais fácil fazer com que eu acreditasse também.

   – Então, como estou? – soltei, por fim.
   – Exatamente igual... – respondeu Chaz, sem realmente prestar muita atenção.
   – Sério? – surtei, decepcionada por ouvir aquilo – Eu tenho que me trocar por completo, então.
   – (Seu Nome)... – ele suspirou, pesadamente, como se eu estivesse deixando passar alguma coisa – Quando eu disse “exatamente igual”, eu quis dizer linda, ok?
   – Mas... – ironicamente, isso não fazia sentido para mim – Deixa para lá! Obrigada...

   Tentei me deixar levar pelas palavras dele, embora ainda não tivesse convencida por completo. Assim, me sentei ao lado de Chaz, ajeitando o notebook em cima de algumas almofadas, com preguiça de pegar um apoio no mínimo decente para que o mesmo ficasse em uma posição adequada. Aliás, não havia muita diferença, eu apenas teria que me concentrar em não deixar nada ir parar no chão e se destroçar em mil pedaços.

   Mesmo sem cronometrar, eu tinha certeza de que levara uns vinte minutos para conseguir configurar o site da twitcam decentemente. Por algum motivo, todas as mudanças e atualizações feitas no aplicativo, ao longo dos anos, só serviram para deixá-lo mais devagar e complicado de ser usado. Era como se o próprio universo questionasse se você realmente gostaria de expor sua cara na internet e, consequentemente, assustar pessoas ao redor do mundo.     

   – Então, está pronto? – perguntei, virando-me para Chaz, apenas para me certificar.
   – Eu nasci pronto! – ele falava com dificuldade, devido ao fato de que estava com a boca cheia de chocolate.
   – Chaz, me dê isso! – resmunguei, arrancando a tigela, já pela metade, de suas mãos. – Pare de comer e diga algo no meu twitter, anunciando que vamos começar, enquanto eu como o meu café da manhã que eu peguei exclusivamente para mim... E, caso ainda não tenha entendido, é meu. Meu. Meu!
  
   Chaz bufou, fazendo uma careta, antes de começar a atender ao meu pedido – que, na verdade, parecera mais uma ordem. Ele digitou uma frase curta e qualquer, rindo enquanto o fazia e, embora eu sentisse que devesse dar atenção a isso, continuei levando pedaços de morango à boca, fingindo que havia um ser completamente maduro ao meu lado, que não iria escrever qualquer besteira fingindo ser eu.

   Aliás, tentar deixar essa brincadeira passar me fez lembrar que, com certeza, não era a primeira vez que acontecia e, muito provavelmente, não iria ser a última. Chaz – assim como uma ex-amiga minha – era algum tipo de profissional em descobrir a senha do meu twitter e deixar uma mensagem idiota e boba para mim, normalmente brincando com alguma característica da minha personalidade desligada. Esse tipo de coisa era tão comum, que eu já não achava mais estranho visualizar minhas mentions e ver um “Oi, Chaz. É você?”.

   – (Seu nome)... – a voz dele ecoou novamente perto de mim.
   – O que foi?
   – Já começamos!
   – Hã? – levou um segundo para que meu cérebro funcionasse corretamente e eu pudesse me lembrar de que Chaz estava ao meu lado e que havia um webcam gravando e transmitindo minhas ações para qualquer lugar do mundo – Ah... Oi, vocês!
   – Caso não tenham notado, a (Seu nome) está um pouco emocionada por estar falando com uma câmera depois de tanto tempo, então... Deem um tempo até que ela se adapte e comece a agir como uma pessoa normal!
   – Chaz, fica quieto, por favor! – rosnei, deixando a tigela lado e, voltando minha atenção para as possíveis pessoas que estavam acessando aquele bendito link – Na verdade, eu apenas acordei essa manhã com uma enorme vontade de matar a saudade de vocês e, como não dá para sair em turnê de um dia para o outro, aqui estamos. Eu, vocês, todo amor do mundo e... Bom, o Chaz também está aqui para demonstrar que nada pode ser perfeito sempre.

   Houve uma longa pausa, preenchida apenas pelo barulho da nossa respiração, já que, diferente do que eu achava o garoto insuportável não falou nada, apenas me fitou e continuou a sustentar o meu olhar, enquanto eu olhava para ele. E, em seguida, para a câmera.

   – E eu espero que alguém esteja realmente nos assistindo, porque seria muito desagradável estar falando com o vento. Que solitário! – completei, após pensar um pouco mais.
   – Não, (Seu nome), não tem ninguém assistindo a gente. Aquele contador ali que não para de subir está de brincadeira, sabia?
   – Chaz, é melhor você limpar o queixo, porque tem uma gota de ironia escorrendo da sua boca... – retruquei, utilizando dos mesmo artifícios que ele.
   – (Seu nome), amor da minha vida, não sei se você reparou, enquanto estava sendo malvada comigo, mas... Tem milhares de perguntas nos comentários e você está, inconscientemente, ignorando-as.         
  
   Meus olhos se arregalaram ao visualizar a tela do notebook novamente. Eu ainda não tinha parado para prestar atenção, mas o número de visualizações permanecia subindo como louco, enquanto várias perguntas apareciam no canto direito da tela, me fazendo questionar como aquilo acontecera em menos de cinco minutos. Teoricamente, não era possível, porque ainda era cedo e possivelmente nem um oitavo dos meus seguidores estava usando o twitter a essa hora.

   Ou talvez sim.

   – Isso é bom, não é? – continuei, mais empolgada do que antes – Porque eu não tinha ideia do que iria fazer, porém vocês estão aí para serem um amorzinho, não é? Obrigada, de verdade!
   – (Seu nome), você sabe que eu gosto muito de você, mas para de falar um pouco, garota! – interrompeu-me com um ar sério, mesmo que sua expressão estivesse relaxada – É só ler as perguntas e fazer a felicidade geral da nação.
   – Tudo bem, Chaz! – bufei – Eu só estou sem graça, ok? E você não está ajudando... Mas vou satisfazer suas vontades, criança!
   – Ótimo! – concordou ele, sem ironias e gracinhas – Ei, por que você não começa com essa garota aqui? Pela foto do icon, ela aparenta ser bem gata...
   – Qual? – eu já estava começando a ficar perdida mais uma vez – Ah, esquece! Já atualizei para ficar mais organizado.
   – Hã, então, esse... – Chaz apontou para um ponto qualquer, especificando alguma pergunta – A Mari está questionando quando eles terão uma nova música sua, um álbum novo. Ela diz que te ama e que precisa de novidades.
  
   Era estranho e engraçado ouvir a questão sendo reproduzida por uma voz masculina, sabendo que fora feito por uma garota, mas tentei desassociar isso, enquanto buscava formular alguma coisa. Na verdade, o que eu queria mesmo era poder responder que estava planejando sair de porta em porta para visitar a residência de todos os meus fãs, buscando um pouco de colo e também querendo uma forma de poder agradecê-los por cada pequena coisa que eles já fizeram por mim. Mas, como nem tudo era fácil assim, eu tinha que me limitar e satisfazer com a verdade, cheia de talvez, que não demonstravam certeza alguma.

   – Bem...
   – Mari, respondendo sua pergunta... – Chaz voltou a falar, antes que eu pudesse fazê-lo – Vocês não terão músicas novas tão cedo, porque a (Seu nome) é uma grande preguiçosa, o que significa que vai demorar muito para ela levantar essa bundinha da cama e ir trabalhar!
   – Ei, eu não sou preguiçosa! Talvez só um pouco, mas bem pouco. – miei, tentando rebater aqueles argumentos com um bom fundo de verdade – De qualquer forma, eu ainda não sei. Eu já tenho várias músicas prontas para mostrar para vocês, que eu espero que agradem, mas eu acho que ainda vai demorar um pouco para começar todo o processo de gravação. Então, eu preciso de um pouco de paciência, por favor. A única coisa que vocês precisam saber é que eu amo vocês!

   Só após acabar de falar, notei que Chaz me fitava com a mesma expressão crítica de sempre, pronto para me fazer ficar constrangida novamente. Aliás, esse era o tipo de pergunta que eu me fazia todos os dias, “por que para todos os outros seres do mundo é tão divertido me irritar?”. Não tinha certeza se isso fazia de mim uma pessoa muito especial ou, então, muito idiota e pamonha o suficiente para ser alvo de todo mundo. Infelizmente, havia mais chances de ser a segunda opção.      
    
   – Então... O senhor tem algo a acrescentar ou podemos continuar? – indaguei, pronta para acabar logo com o suspense.
   – Não, não. Continua!

   Ótimo! Sequestraram o Chaz e colocaram um clone mal feito no lugar dele. Era só o que me faltava mesmo...

   – Tudo bem, então... – assenti, voltando minha atenção aos comentários novos – A Sheila está perguntando: “Você sente saudades da Europa? Vai voltar com alguma futura turnê?”.
   – Me levar para a Europa, que é bom, ninguém quer! – o tom de voz dele parecia tão ressentido, que eu quase me senti culpada.
   – Respondendo, Chaz, respondendo... – repeti pausadamente, apenas para dar ênfase na ideia principal. – Como eu estava dizendo, eu sinto saudades da Europa, sim, de todos os países pelos quais eu passei por lá e eu também sinto uma saudade dolorida daqueles pelo qual eu ainda não passei e dos fãs que eu ainda não conheci. Eu já citei que eu não tenho ideia de quando começará os trabalhos de um novo álbum, mas eu, particularmente, tenho essa vontade de passar por mais lugares do que na turnê anterior. Ainda não tenho certeza se vai ser possível, mas torçam comigo para que sim.
   – E torçam também para que, da próxima vez, ela se lembre de mim, enquanto estiver viajando e me traga presentes decentes... – continuou Chaz, como se isso por acaso fosse relevante.
   – Claro, porque eu nunca te dei nada, não é? – respondi, cheia de sarcasmo – Quer saber? Melhor continuarmos. Próxima pergunta!
   – Hã... A Lizzie diz “Eu te amo! Como você tem estado, minha princesa? E o... Justin? Ele... Está... Bem?” 
  
   A voz de Chaz foi falhando e diminuindo, à medida que ele ia chegando ao final e percebendo que ele escolhera uma pergunta não tão agradável. Obviamente, ele não havia feito de propósito, assim tentei evitar ao máximo fazer parecer que havia ficado com raiva ou até mesmo triste com tudo isso. Afinal, eu já tinha respondido esse tipo de pergunta tantas vezes, que possivelmente eu já tinha a resposta pronta, decorada e preparada para ser usada quando necessário, tornando assim o processo mais fácil do que costumava ser.

   – Oi, Lizzie! – comecei, me esforçando para parecer o mais natural possível, enquanto acenava para a webcam – Bom, eu tenho passado muito bem e eu espero que você também. E, quanto ao Justin, bom... Ele está bem, também, talvez melhor do que nunca. Aliás, eu até teria o chamado para participar da twitcam com a gente, mas ele está...
   – Tomando banho. – completou Chaz, me dando um auxílio necessário, já que nenhuma desculpa me passara pela cabeça – Aliás, vocês fazem perguntas para o garoto que está lá, se banhando, mas eu, que estou bem aqui à disposição, sou ignorado... Muito obrigado, mesmo!
   – Está vendo, pessoal? – ri – O Chaz é uma pessoa carente e, ao ignorarem, vocês magoam os sentimentos dele. Não façam mais isso!

   Ainda sentindo o olhar alheio sobre mim, comecei a procurar algo seguro entre milhares de frases, orações e períodos, mas, felizmente, a grande maioria se resumia a palavras fofas e declaraçõezinhas que acalmavam e confortavam meu coração, acima de qualquer coisa, independente da situação. Parecia meio bobo eu depender tanto assim daquilo para me sentir amada, mas nada poderia se comparar aquela ligação. Era diferente de qualquer outra coisa pela qual eu já passara ou sentira.

   Apesar de tentar concentrar minha total atenção no que estávamos fazendo, eu também estava tentando me dedicar a tranquilizar Chaz, já que eu não podia simplesmente dizer “Ei, não precisa se preocupar. Eu realmente não me importo com o fato do Justin estar se agarrando com outra”, na frente de milhares de pessoas que estavam nos assistindo. E também porque seria muita mentira em uma frase só. Afinal, eu me importava com isso, apenas tentava bloquear para que meus pensamentos não se restringissem somente a essa situação desagradável.

   – Hã... Eu estive reparando e vocês estão reclamando muito entre si que o vídeo fica travando o tempo todo. Eu sinto muito quanto a isso, amores, mas acho que não há nada que eu possa fazer, porque, aparentemente, essa falta de suporte é um tipo de problema que nunca será resolvido... – suspirei, enquanto continuava a rolar os olhos pela tela.
   – Não precisa se desculpar, (Seu nome)! – Chaz me contrariou, utilizando de um leve tom de banalidade – Aliás, mesmo o transtorno do site vale a pena, se for para eles ficarem admirando esse retrato da perfeição... Ou seja, eu.
    – Chaz, eu aposto que todas as pessoas que estão nos assistindo agora, devem estar se perguntando a mesma coisa que eu... Por que eu ainda não te sufoquei com um travesseiro até agora?
    – Simples. Porque você me ama demais e não aguentaria viver sem a minha presença, assim como essa garota, olha! – sua expressão mudou rapidamente, tornando-se mais iluminada, enquanto ele apontava para um comentário específico – Só para deixar claro para todos, há uma garota aqui, a... Hã... Jennifer, que diz o seguinte: “Ei, Chaz, eu te amo e eu nunca vou te ignorar, mas talvez eu te mate, se você ignorar minha pergunta”. Nossa, que violência, mas continuando... “Você e a (Seu nome) estão namorando?”.

   A única coisa que consegui perceber, no minuto seguinte ao final da leitura, foi os olhos de Chaz quase saltando do rosto, quando o mesmo percebeu o que acabara de ler. Provavelmente, se eu tivesse associado à questão como deveria, teria a mesma reação e, talvez, até engasgasse, começasse a tossir e me debater até enlouquecer, por completo, mas eu tinha preocupações maiores do que a suposição em si.

   Em meio ao que eu acabara de ouvir, a única coisa que me importara era a situação na qual aquela questão havia sido feito e, não no fato de que alguém achasse que minha relação com Chaz passava de uma mera amizade – porque nós sabíamos a verdade e era isso que realmente fazia diferença. Mas o problema em tudo aquilo era que essa dúvida não poderia existir, enquanto supostamente todos sabiam que eu era namorada do Justin. Ou, ao menos, era isso que deveriam pensar, por enquanto...

   Respirei fundo, discretamente, tentando engolir a vontade de acabar com a twitcam naquele momento e surtar, procurando em diversos fansites do Justin, qualquer possível notícia que confirmasse sobre o até então secreto fim do nosso relacionamento. Mas, ao invés disso, apenas tentei me concentrar, afastando pensamentos ruins da minha cabeça e buscando atingir meu objetivo, que era me distrair.

   – Então... – Chaz parecia um pouco menos vermelho, embora ainda estivesse visivelmente embaraçado pela pergunta que escolhera – Eu realmente não tenho ideia sobre onde você arranjou essa teoria, mas nós...
   – Nós estamos namorando! – afirmei, segura, me esforçando para manter a expressão séria. – Na verdade, eu e Chaz estamos perdidamente apaixonados um pelo outro e... Eu nem sei como eu consegui aguentar até agora. Chaz, por favor, beije-me!

   O garoto me encarou por um segundo, apenas o necessário para perceber o que eu estava pensando e, então, ainda aparentemente receoso, cedeu aos meus planos. Chaz se aproximou lentamente de mim, levando sua mão até a minha nuca, enquanto eu fechava meus olhos, tentando cronometrar seus movimentos. Essa situação deveria estar me deixando, ao menos, um pouco sem graça, mas eu estava apenas confortada por ele conseguir me entender tão bem, sem eu precisar realmente falar. Levando isso em consideração, era fácil adivinhar o que aconteceria em seguida...

   – Só que não! – Chaz riu, afastando-se rapidamente, fitando a pequena câmera.
   – Só que não mesmo. – concordei, sorrindo – Na verdade, eu e Chaz estamos namorando com outras pessoas e... Nós nunca poderíamos ficar juntos, desse jeito. Nós nos odiamos!
   – Verdade. Ela é insuportável!
   – Tudo bem. Vamos focar no que realmente interessa, moço! Ninguém está interessado em saber do enorme desgosto que você sente por mim... – afirmei, voltando ao assunto inicial, antes que nos dispersássemos novamente – Então, próxima questão!
   – Hã... Antes, me deixa dizer uma coisa! – interrompeu-me, puxando o notebook para si, permitindo que a webcam focasse nele – Se você está assistindo isso, Caitlin, saiba que eu estou sentindo a sua falta e que eu te amo muito mais do que você imagina. Mas, se você não está assistindo, não vai ficar sabendo de nada disso e eu vou ficar parecendo um idiota, na frente de milhares de pessoas.
   – Chaz, você é tão retardado! Mas... Esse é um bom ponto. Eu também sinto muito a sua falta, Cait, e ficaria muito feliz se você parasse de tentar sumir da minha vida!
   – E, só para deixar claro, tudo isso que ela está falando é mentira. Não passa de falsidade...
   – Cala a boca, garoto! – resmunguei, azeda – Então, melhor continuarmos com as perguntas. Na verdade, a maioria de vocês está comentando sobre a cena que fizemos há poucos minutos.  E, estranhamente, vocês realmente pensaram que nós iríamos nos beijar...
   – Nunca vai acontecer!
   – Correto. – confirmei, antes de continuar – Mas, acho que encontrei uma! O Victor está perguntando “Você pretende fazer uma parceria com o Justin, no próximo álbum?”.

   Está confirmado! Eu estou realmente me atrapalhando sozinha, inconscientemente...

   Como não era a primeira vez que acontecia, eu estava começando a ter informações suficientes para formar uma teoria sobre isso. Supostamente, havia uma parte defeituosa do meu cérebro, que sempre fazia com que eu tendesse para buscar aquele bendito nome em meio de milhares de outras palavras simplórias e banais. Ou seja, era uma sabotagem tão maléfica ao meu esforço, quanto uma barra de chocolate quando se está de dieta.

   – Bem, eu acho que, por agora, não vai acontecer nenhuma parceria entre nós, não. Porque, embora eu adore trabalhar com ele, nós não podemos ficar nos prendendo sempre a uma mesma coisa, então eu tenho planos de trabalhar com algumas outras pessoas com quem eu me relacionei ao longo desses últimos tempos. Mas, como eu já disse, nada está acertado ainda, ou seja, muita coisa ainda pode acontecer, por isso, eu prefiro não dar certeza de nada, por enquanto...
   – Odeio essas perguntas profissionais, que não dá para me intrometer, porque teoricamente é um assunto sério. – murmurou Chaz, contrariado – Muito sem graça!
   – Então, mudando de assunto, olhe essa pergunta... – sorri, sentindo os olhos brilharem por ler assim – Essa garota, a Julia, está perguntando o motivo pelo qual eu estou sempre por aqui e não volto a morar no Brasil...
   – Simples! Ela não mora aí, porque eu não permito. Eu já a escravizei e não autorizo uma barbaridade dessas, afinal, se ela não ficasse um pouco mais perto de mim, eu teria que pagar alguém para realizar serviços para mim e não seria tão proveitoso assim. Então, eu mantenho essa garota aqui como escrava, mas não contem a ninguém. A única coisa que vocês precisam saber é que ela é exclusivamente minha!
   - Gente, não escut...

   Não pude completar minha frase, já que Chaz levou a mão até minha boca, me obrigando a me calar. Obviamente, eu até tentei me desvencilhar dele, mas ele pressionava meus lábios com tamanha força, que por um momento achei fosse morrer sufocada. Porém, logo após perceber isso, seu aperto enfraqueceu-se um pouco, embora o olhar de mau ainda se mantivesse em seu rosto.

   – Eu disse que você é minha propriedade. Não ouse me desmentir! – resmungou ele.
   – Mas... – o som da minha voz saia abafado e quase inaudível, devido à tentativa de assassinato – Chaz...

   Antes que eu realmente pudesse me impor ou restaurar minha dignidade, ele tacou um travesseiro em mim, com tanta força, que o fazia parecer estar cheio de concreto. Apesar da situação e da minha consciência de que eu deveria manter a calma e deixar tudo isso passar, não foi tão fácil me controlar. Assim, em uma tentativa falha de me vingar, desencadeei uma série de tapas e travesseiro voando de um lado para o outro, sendo que mal conseguíamos atingir a nós mesmo.

   Infelizmente, como era de se esperar, não tive tanto sucesso na pequena batalha fora de hora, já que Chaz estava com uma visível vantagem. Ele deslocou todo o seu peso para cima de mim, impedindo que eu me mexesse ou, ao menos, me reestabelecesse em minha antiga posição. Desse modo, sem conseguir nem respirar direito, a única coisa que eu podia fazer era me debater e gritar por socorro – para que todos percebessem o que eu sofria nas mãos desse garoto. Essa tática improvável estava perto de dar certo, quando senti meu pé bater em alguma coisa. O impacto que se ouviu depois disso também não deveria significar uma boa coisa.

   Adeus, twitcam! Adeus, fãs! Adeus, notebook em bom estado! Mas, acima de qualquer coisa, adeus, Chaz, quando eu conseguir pagar alguém para te matar, sem deixar rastros!

----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Awn, capítulo 12, nenéns!
  Estou aqui, após longas semanas de provas, trabalhos e adeus a vida social, a twitter, a tudo que não dizia respeito a estudo. Porém, esse período acabou e eu não vou mais ficar, tipo quase um mês sem postar hahahahaha.
  Amanhã, não tem capítulo, porque eu tenho pesquisa para fazer, mas... Mas... Eu não pretendo/nem irei demorar tanto como agora. E vou tentar fazer essa demora toda valer a pena, ok?!
  Obrigada pela paciência, meninas. Amo vocês!

(A imagem do capítulo é da Summer Love)