12 maio 2013

4. You Make Me Love You - Capítulo 11



Quebrando o gelo


Belieber's POV
   Aquele, com certeza, era um dos momentos que iria aparecer no “sessão vergonha” se houvesse um filme sobre a minha vida. Lá estava eu jogada em cima dele, deixando que o mesmo suportasse todo o peso do meu corpo pressionando-o contra o chão gelado da patinação. Embora o cavalheirismo alheio tenha impedido qualquer reclamação, eu desejava sair dali e me esconder no primeiro buraco disponível, o mais rápido possível, porém o nível elevado de vergonha me deixava levemente paralisada.

   Acima de qualquer constrangimento da minha parte, outro fato que me impedia de me mover era o magnetismo em seus olhos tão profundo, que embora pudessem parecer comuns, diante da situação, definitivamente não eram. Aparentemente, minha ligeira submissão a esse detalhe não estava tão camuflada como eu preferia deixar. Conclui isso logo após notar que ele fazia uma intensa analise da minha expressão e então, em seguida, um sorriso tímido surgiu em seu rosto, o que o deixou mais encantador. Pessoas que fingem não se importar com os meus acidentes constantes cativam o meu coração rapidamente.

    – (Seu nome) está tudo bem?

   Todo o clima do momento estranho e embaraçoso se dissipou, assim que aquela conhecida – e, atualmente, irritante – voz feminina ecoou perto de nós. Ouvi mais alguns barulhos de patins sobre o gelo, aproximando-se, ao olhar para cima, enquanto começava a me levantar, ainda sem jeito. Notei Chaz, Manuela e Justin esperando por alguma reação sensata ou apenas uma resposta, que não obtiveram. Aliás, mais do que preocupada com a queda em si, eu só conseguia pensar nos observadores da cena, que não paravam para nos encarar, mas mantinham discretamente os olhos no que ocorria no pequeno tumulto que eu causara.

   – Me desculpa! – comecei, sem ter certeza do que iria e do que estava dizendo – Eu não estava olhando para onde ia e... Droga! Olhe o que eu acabei de fazer de novo! Você está bem... Ou, pelo menos, com todos os ossos intactos?
   – Ei, relaxa! – tranquilizou o estranho, parecendo realmente não se importar – Está tudo bem! Eu estou ótimo!
   – O que houve? – Manu perguntou novamente, mas sem me fazer ter a ilusão de que ela se preocupava com algo.
   – Não é claro? – Chaz respondeu com outra pergunta, enquanto mantinha os olhos fixos em mim – Eu disse que ela ia cair! Como se não bastasse, nem me avisou. Eu poderia ter filmado o momento e ganhado um bom dinheiro em cima disso...
  
   Revirei os olhos para as brincadeira de Chaz, já que aquilo não era o mais importante. Na verdade, só estava servindo para me deixar ainda mais frustrada. Afinal, até Manuela estava fingindo se preocupar comigo, enquanto Justin, bem ao lado dela, continuava imóvel, apenas observando, como se não soubesse o que fazer. Mas estava claro que mesmo que ele tivesse algo a fazer, continuaria em seu canto, imaginando o seu mundo seguro, onde eu não existia para confundir sua vida.

   – Nós não deveríamos ficar aqui! – o garoto ainda desconhecido voltou a se dirigir a mim, felizmente ignorando as palavras de Chaz – Venha. Eu te ajudo!

   Assim, ele se pôs de pé sobre os patins em um único segundo e, em seguida, estendeu a mão para que eu pudesse fazer o mesmo. Com ajuda, foi mais fácil me reequilibrar novamente, embora eu evitasse ao máximo fazer qualquer tipo de contato visual com aquele garoto. Eu tinha absoluta certeza que se por acaso nossos olhares se cruzassem mais uma vez, eu fingiria que morri, apenas para não ter que aguentar meu rosto ficando completamente vermelho de novo.

   – Obrigada! – murmurei baixinho, mantendo minha concentração apenas em meus pés, afinal, acabar me desequilibrando não era uma opção – Hã... Vocês já podem ir se divertir, pessoal. Como podem ver, eu provoquei o acidente e não fui vítima dele, então, a única coisa de que preciso é de um pouco de tempo sem me mover... 
   – Se você diz... – Manuela suspirou, antes de voltar a me olhar da mesma maneira provocativa de sempre – Tente não matar ninguém, durante o resto do nosso tempo aqui, ok?

   Em um ambiente público, as palavras dela soavam como brincadeira, o que significava que eu não poderia ser irônica ou verbalmente agressiva. Limitada demais para fazer o que queria, apenas sorri, esperando que todos começassem a se afastar. Como era de se esperar, Manuela foi a primeira, enquanto Chaz começou a implicar com Justin, até que ambos já estivessem longe o bastante dali.

   – Bom... Espero que eu não tenha te atrapalhado tanto assim! – voltei a me desculpar com o garoto ainda diante de mim, enquanto começava a me afastar – Desculpa!

   Devagar – e com muito mais receio de cair novamente –, voltei ao lugar onde eu estava, antes de ceder as vontades de Chaz e acabar passando vergonha. Agarrado ao lugar mais próximo da saída possível, eu tentava resistir a vontade de sair dali, de sair do shopping, de sair do país. E não estava sendo tão difícil assim, já que eu tinha consciência de que não iria me mover e perder a oportunidade de permanecer segura e, principalmente, de pé.

   – Então... Você vem sempre aqui?

   Era a mesma voz que eu havia ouvido há poucos minutos, assim, se eu fosse uma pessoa sensata, provavelmente ignoraria e perderia uma ótima chance de passar por mais vergonha. Mas, infelizmente, eu tenho um diploma em idiotice, que me impede de tomar decisões realmente decentes. Precisou de apenas um segundo de incerteza e, então, eu me virei, respondendo a voz do estranho que eu havia levado ao chão e que parecia bobo o suficiente para vir falar comigo.

   – Hã... Isso foi uma cantada? – arrisquei, empurrando a vergonha para o fundo do frasco.
   – Depende. Se ela irá servir para eu conversar com você, então, sim... Foi!

   Eu não tinha tempo para perceber – afinal, estava ocupada demais, tentando sobreviver ao momento –, mas o conjunto da obra era bem bonito. Além dos olhos completamente negros e lindos, ele tinha o cabelo castanho claro, despretensiosamente bagunçado, e a pele tão clara, que em uma olhada rápida, poderia o fazer parecer frágil, mas eu estava duvidando dessa hipótese.

   – Desculpe, eu estou constrangendo você! – ele sorriu como se, por acaso, isso fosse muito engraçado – Hã... Eu não te conheço de algum lugar? Talvez, não. Mas eu já te vi antes, possivelmente na televisão ou... Em meus sonhos!
   – Você sempre fala assim com as pessoas? – eu queria ser séria o suficiente a ponto de não sorrir, mas eu estava carente de alguém que brincasse comigo de qualquer forma, então não resisti.
   – Mas, é sério. Já disseram que você se parece muito com uma pessoa famosa. Uma cantora, talvez... – continuou, o que considerei uma resposta positiva à minha pergunta.
   – Eu não sei, talvez. Em quem, especificamente, você está pensando? – falei, deixando-me levar pelo jeito dele – Porque, caso você não saiba, há uma pseudocantora ridícula por aí, que copiou tudo de mim. O nome, o rosto, a voz, a casa, a vida, tudo... Uma tal de (Seu nome), conhece? Detestável!
   – Pois é, a vida não está fácil para ninguém...
   – E quanto a você? Qual é o seu nome?
   – Bom, mundialmente, eu sou conhecido como Tom Cruise, porém agora eu estou disfarçado como uma pessoa normal e, nesses casos, todos me chamam de Cory!
   – Por que você veio aqui hoje, hein, senhor Cruise? – indaguei.
   – Porque algo me dizia que eu iria encontrar você!

   Cory sustentou uma expressão de galã de novela, ao me responde, como se, por acaso, ele já não fosse encantador o suficiente. Deveria parecer mio incômodo estar conversando assim com um completo estranho, mas ele sabia tão bem como ser engraçado e quebrar o gelo – não literalmente, ainda bem – que eu não me sentia mais idiota por estar rindo de cada besteira que era dita.

   – Para falar a verdade, o único motivo por eu estar aqui, está bem ali!

   Ele apontou para um ponto um pouco distante e eu segui seu olhar. Aparentemente, Cory estava ali, por causa de uma garota, bem bonita, na verdade. Ela tinha cabelos loiros e cacheados e um corpo magro e pequeno, que somados as roupas fofas que usava, a fazia parecer uma fada, deslizando suavemente por entre as pessoas, com a maior facilidade possível. Ela parecia facilmente uma patinadora profissional, dessas que competem nas olimpíadas de inverno.

   – É sua namorada? – perguntei, apenas para ter certeza, já que era um tanto óbvio.
   – Continue olhando! – instruiu ele.

   Parecia meio ofensivo ele pedir que eu continuasse a assistir sua namorada perfeitamente singela, enquanto conversava comigo, a garota que não sabe usar um par de patins sem fazer com que alguém se machuque. Apesar disso, fiz o que ele pediu e, ironicamente, me surpreendi. Passou-se apenas mais alguns segundos, até que a loira fosse alcançada por um outro garoto – consideráveis centímetros mais alto –, que a abraçou por trás, enquanto a mesma ria. Eu não era uma pessoal muito sagaz, em geral, mas havia um claro clima de romance ali e, teoricamente, isso acabava com as chances de ela ser a namorada oficial do garoto ao meu lado.

   – Eu não entendi! – admiti, afinal.
   – Ela é minha irmã caçula! – Cory suspirou, aparentemente, preocupado. – E aquele é o namorado dela...
   – E você está aqui, apenas segurando vela, certo?
   – Não. Eu estou aqui para ter certeza de que esse garoto não vai ficar tentando passar dos limites com a minha irmã! – pela primeira vez, ele pareceu sério ao falar – Eu acho que ela ainda é muito nova para namorar...
   – Quantos anos ela tem? – estava começando a achar bonitinho a preocupação em excesso dele, mesmo que esta me lembrasse um outro alguém, nem tão agradável assim, por agora.
   – Quinze.

   Minhas sobrancelhas se curvaram no exato momento em que minha pergunta foi respondida. Eu não sei se fiquei surpresa por aquela garotinha ter quinze anos ou se pelo fato de Cory achar que não era uma idade apropriada para ela namorar. Quase involuntariamente, meus braços se cruzaram, enquanto eu começava a resmungar mentalmente o quanto aquilo parecia desnecessário. Porém, tive que guardar minha leve indignação para mim e tentar pensar de uma forma melhor, afinal, preocupação é sempre um assunto considerável, porque ninguém se preocupa com quem não ama.

   – Não me olhe assim! – me repreendeu Cory, notando a minha ligeira e indiscreta insatisfação – Para mim, ela ainda é uma criança para namorar, ainda mais com esse pedófilo...
   – Quantos anos ele tem?
   – Dezesseis!
   – Eu... Vou ficar quieta e fingir que concordo com seu ponto de vista maluco e completamente confuso, tudo bem? – esclareci, deixando claro que não havia nada mais sem cabimento do que seu pensamento ligeiramente paranoico.
  
   Houve um breve momento de silêncio, enquanto eu me permitia colocar suas palavras em um outro contexto. Mesmo que fosse apenas a saudade que eu sentia, ainda assim era impossível participar de um diálogo dele e não me lembro de tudo que o Lucas sempre me dizia sobre o meu relacionamento. Meio sem perceber, comecei a criar um teatrinho em minha cabeça em que Cory e sua irmã mantinham uma relação parecida com a minha com o Lucas – mas sem os raros beijos, já que isso, com certeza, era ilegal e... Estranho, no contexto.

   – E você? – ele voltou a falar, quebrando o silêncio – Está aqui por causa do Justin ou é o contrário?
  
   Involuntariamente, virei-me para fitar Justin se exibindo com algumas manobras e dancinhas, acompanhado de Chaz, participando de algum tipo de disputa particular. Ao observar aquela cena simplória, percebi que não havia resposta para aquela pergunta. Afinal, sim, eu estava ali, pelo Justin, e continuaria ali o quanto mais fosse necessário, já que ele fez favor de roubar meu coração há anos atrás e, aparentemente, colocá-lo no fundo do bolso. Mas, mesmo com essa certeza, eu ainda tinha dúvidas se realmente queria estar ali, assistindo ao amor alheio enjoativamente errado...

   – É, Justin queria vir para cá e eu não tive como dizer não... – menti, sem saber realmente o que deveria falar – E aqui estou eu!
   – Que pena! – Cory suspirou, pesadamente, me deixando parcialmente confusa – Se você tivesse respondido minha pergunta com algo negativo, eu já tinha uma nova cantada para soltar, porém melhor deixar para outra ocasião. Não quero ter problemas com um namorado mal humorado...
   – Você sabe em que ano estamos? Por que você utiliza cantadas ainda, hein? – soltei, rapidamente, impedindo-me de me perder em suas últimas palavras – Quero dizer... Isso realmente já deu certo alguma vez?
   – Bom, eu não tenho namorada, então... Acho que não!
   – E por que você continua?
   – Porque você está rindo, ao invés de me dar uma tapa na cara. Eu posso ser estranho ou parecer maluco, mas universalmente uma mulher sorrindo sempre é uma coisa boa... – explicou, parecendo seguro do que estava fazendo.
  
   Precisei morder o lábio para não sorrir com isso, embora não houvesse nada de mais nisso. Eu estava me sentindo tão estupidamente bem humorada que poderia sair sorrindo para todos os postes de luz da cidade. Nas últimas semanas, eu ficara tanto tempo sem sair de casa apenas para me distrair, que já havia esquecido como era bom começar amizades aleatórias com atuais desconhecidos. A diferença era que isso, geralmente, acontecia com fãs em uma saída qualquer e não com um homem vítima da minha falta de cuidado.

   – O que você faz, Cory? – indaguei, deixando minha curiosidade tomar conta.
   – Eu? Bem, respiro, na maior parte do tempo...  – sua expressão se fechou levemente, como se minha pergunta o tivesse pegado desprevenido.
   – Não. Eu quis dizer... O que você faz da vida?
   – Ah. Eu faço faculdade de medicina!

   Sua resposta, por algum motivo, me surpreendeu. Eu não o tinha julgado até o momento, mas também não me passara pela cabeça que ele pudesse ser um médico, futuramente. A minha surpresa me deixou meio desnorteada e escorreguei ligeiramente. Eu não estava prestes a cair de novo, apenas desconcertada, mas não havia como Cory prever isso, então, ele me segurou mesmo assim, me firmando novamente sobre o gelo.

   Recapitulando a cena, havia um estudante de medicina com as mãos em minha cintura e sorrindo para mim. Eu não sabia que tinha uma queda por garotos inteligentes, mas a minha falta de concentração parecia me informar isso. Ou, talvez, me informar de que o meu intelecto não era bom o suficiente para que eu pudesse ter uma conversa com uma pessoa que faz faculdade de medicina.

   Ok, isso é ridículo! Eu sou inteligente o bastante para conversar com alguém que quebra o gelo com uma cantada engraçada...

   – (Seu nome), você está me ouvindo? Dê algum sinal de vida! – pediu ele, balançando a mão freneticamente na frente do meu rosto, tentando me fazer voltar a realidade – O que foi? Você não vai me ignorar, porque o mundo inteiro te conhece e eu sou apenas um estudante, não é? Porque, se for isso, lembre-se... Eu sou o Tom Cruise disfarçado!
   – Eu não estou te ignorando! – avisei, afastando-me discretamente – Só estava pensando! Eu tenho um amigo que será um futuro médico. É pressão demais para mim...
   – Amigo? Então, agora, nós somos amigos? – Cory se fez de indignado com a minha escolha de palavras – Acho que a senhorita só está dizendo isso porque está interessada na futura fortuna que eu terei, após muitos anos de estudo e dedicação...
   – Ah, é assim? – dramatizei – Tudo bem, então. Você não precisa de mim e eu não preciso ficar aqui. Adeus!

   Me fazendo de esnobe, eu sai de perto dele, patinando devagar e suavemente, aproveitando para me exibir e deixar bem claro que eu não era tão atrapalhada quanto a primeira impressão que ele tivera de mim. Eu não sabia bem o que fazer, mas era competente em parecer ofendida ou indignada com alguma coisa, assim, continuei o caminho até a saída da pista de patinação.

   Felizmente, antes que eu pudesse chegar ao lado de fora – onde eu, com certeza, não faria nada, além de sentar em um dos bancos acolchoados –, senti uma mão em minha cintura novamente, me puxando devagar para trás. Embora fosse bom que ele estivesse gostando de minha companhia, ainda assim, patinar de costas não parecia algo muito sensato, pelo menos, não quando eu estava envolvida. Eu já podia ver nós dois indo de encontro ao gelo, mais uma vez. Mas, se acontecesse, dessa vez não seria culpa minha.

   Fiquei aliviada quando Cory me fez rodopiar, ficando frente a frente com ele de novo. Eu ainda mantinha a expressão de durona, mas me sentia ligeiramente satisfeita por ele ter me feito voltar, afinal, isso significava que a minha companhia era agradável e fazia com que eu me sentisse menos boba por estar gostando tanto de conversar com meu novo amigo não tão mais desconhecido.

   – Ei, não seja dramática! – resmungou – Eu sou seu amigo, sim, ok?
   – Sei! – respondi, irônica – Aposto que está dizendo isso, por causa de todos os números na minha conta bancária, não é?
   – Não tem graç...
   – Cory!

  
Uma voz feminina chamou por ele ao longe e eu não precisei me virar para saber que quem o chamava era sua irmã. Assim, em pouco menos de meio minuto, ela nos alcançou, vindo com o seu namorado logo atrás. Tentei não parecer desconfortável, mas era meio claro que eu estava sobrando ali. E, aparentemente, isto não estava óbvio só para mim.

   – Acho que já está na hora de irmos embora! – informou a loira, antes de afinal olhar para mim, parecendo me analisar lentamente – Hã... Você fez uma amiga!
   – Vanessa, você... – Cory tentou falar, mas foi interrompido subitamente.
   – Ei, eu te conheço! – os olhos dela se arregalaram de surpresa.
   – Ah, com certeza, sim. – intrometeu-se seu namorado, arrastando as palavras ao falar – É ela! Aquela garota que você comprou uma revista com ela na capa e... Tinha um ensaio dela de biquíni. Com certeza, é ela. Eu reconheceria aquele corpo em qualquer lugar. Aquelas fotos...

   Eu já podia sentir minha cabeça explodindo de tanta vergonha, mas quando eu achava que não poderia piorar mais, a situação ficou ainda mais desagradável, já que obviamente não era legal para Vanessa escutar isso. Assim, seus olhos fuzilavam o namorado e eu tinha a impressão de que quase podia ouvi-la rugindo, enquanto o mesmo continuava a me estudar de cima a baixo e eu quase rezava para conseguir sair correndo dali, sem chamar muita atenção.

   – É melhor nós irmos, agora! – falou a loira, deixando um pingo de raiva escorrer de sua boca, enquanto empurrava o namorado para longe – Você também, Cory. Nosso tempo acabou!
   – Eu já estou indo... – respondeu Cory, tão baixo que eu duvidei que ela realmente tivesse escutado.

   Enquanto uma loira enciumada se afastava, saindo dos limites do gelo, eu questionava internamente o que eu havia feito para passar tanta vergonha em um único dia. E, como se não fosse suficiente, Cory permanecia me fitando com uma expressão que deixava claro que ele achava toda aquela situação muito engraçada. Cadê aquela regra de cavalheirismo que diz que não se deve rir da desgraça alheia?

   – Acho que devo prestar mais atenção nas revistas que minha irmã compra... – sussurrou ele, ainda olhando para mim – Fotos de biquíni, é?
   – Por favor, não fale nada! – pedi, afundando o rosto em minhas mãos, sem conseguir superar aquele momento embaraçoso.
   – Não vou! Afinal, eu já estou indo, então não tenho tempo para nenhuma gracinha, por hoje. – falou, fazendo uma carinha triste, que pela primeira vez não pareceu dissimulada – Então, acho que nós paramos por aqui!
   – Não... – miei, sem graça – Eu quero conversar com você, mais vezes.
   – Sério? – suas sobrancelhas se arquearam – Bom... Nesse caso, por que você não me passa o seu número?
   – Hã... Meu número? De celular, você quer dizer? Bem... Eu...
   – Ok, já entendi. Você não pode me passar o seu celular, porque eu posso ser um maluco que divulgará isso em algum jornal ou emissora de televisão e... Isso não seria bom, não é?
   – Claro que não!
   – Diga a verdade... – pediu, me deixando sem graça.
   – Tudo bem! É por isso, sim! – disparei, sem me sentir bem com isso, afinal, dar o número do meu celular a alguém não deveria ser uma grande coisa, mas parecia que sim – Eu gostei de você, mas é complicado. Isso já aconteceu uma vez comigo e o meu celular simplesmente ficava tocando 24 horas por dia, até que eu tive que trocá-lo, porque eu não podia lidar com algo assim!
   – Então... Você tem alguma sugestão? – perguntou, parecendo esperançoso de alguma forma.
   – Hã... Você tem twitter?
   – É uma pergunta séria? – sua expressão deixava claro que ele estava se perguntando qual era o meu nível de sanidade – Eu tinha um, mas eu não uso há milênios. Ninguém utiliza twitter mais!
   – Ah, sim, claro! Em um universo paralelo... – ironizei, amarga – O twitter é a única rede social que, eu tenho certeza, se manterá firme e forte por mais uma década, pelo menos. Mas não importa! Me passe o seu antigo user, que eu te sigo e você volta a usar, para poder conversarmos por DM.
   – Espera! É algum método novo para me ignorar? – ele pareceu levar essa hipótese realmente a sério – Você não tem milhares de pessoas te enviando DMs o tempo todo?
   – Talvez... – admiti – Mas eu darei um jeito de responder você. Prometo!

   Cory revirou os olhos, como se ainda duvidasse dessa possibilidade, mas cedeu à minha expressão de real interesse. Peguei meu celular no bolso e, após entrar no twitter, pedir que ele digitasse o user dele na busca – realmente, segundo o seu último tweet, fazia mais de um ano, que ele não utilizava aquilo – e o segui bem na sua frente, para deixar claro que não era apenas uma maneira de enrolá-lo. Embora parecesse estranho, eu queria manter algum tipo de conversa com o garoto que eu acabara de conhecer.
   – Eu realmente irei te mandar algo, então, é bom que saiba que partiria meu coração ser ignorado! – dramatizou.
   – Não vou te ignorar! – ri, segura do que dizia.
   – Ótimo! Bem, eu tenho que ir agora, afinal, a Vanessa está sozinha com aquele garoto safado e sabe-se lá o que eles estão fazendo na minha ausência...
   – Isso é paranoia! – falei, começando a ficar chateada com o fato de ficar sem distração novamente – Mas, tudo bem! Então... Nos vemos em breve?
   – Isso é uma promessa?
   – Espero que sim!
   – Tchau, gatinha!

   Cory me deu um leve beijo na bochecha, antes de se afastar. E, enquanto o fazia, virou-se para mim, com o mesmo sorriso de quando havíamos nos esbarrado, e piscou, conversando o seu estereotipo de conquistador. Diante disso, quase me dava vontade de parecer fria, apenas para interromper a cena dele, mas não consegui conter o sorriso, enquanto acenava ao longe e observava-o se afastar mais e mais.

   – Então... Ele é um gato, não?

   Me assustei discretamente ao escutar a voz de Manuela tão perto de mim e, mais ainda, quando virei-me e percebi que ela já estava ao meu lado. Silenciosa e fatal, qualquer semelhança com uma cobra não é mera coincidência!

   Mesmo que eu soubesse que não tinha uma ligação surpreendente com aquele garoto que eu conhecera há pouco tempo, não gostei de escutar Manuela dizendo aquilo. Não eram as palavras, mas sim por quem elas eram ditas. Por algum motivo, Manu sempre fazia parecer que estava de olho em cada movimento meu e, consequentemente, pronta para arrancar qualquer coisa que, por um segundo, me pertencesse. Isso me apavorava!

   – Era? – perguntei, me fazendo de desentendida – Eu nem percebi. Ele só veio aqui para ser simpático. Provavelmente percebeu que eu fiquei sem graça com o acontecido e veio tentar amenizar isso...
   – Você é uma garota de sorte, (Seu nome)!

   Precisei respirar fundo para controlar a incrível vontade de fazer minha mão se chocar bruscamente com a cara dela, afinal, aquilo não era piada para se fazer, ainda mais nas circunstâncias atuais. Será que ela se lembrava como a minha vida estava? Ou melhor, será que ela se lembrava de que estava saindo, beijando e roubando o meu namorado perfeito?
 
   – Vocês vão ficar de fofoca, agora? – Chaz veio em alta velocidade, me fazendo pensar que ele se chocaria comigo, mas não aconteceu.
   – Claro que não, porque agora nós vamos embora... – berrou Justin, fazendo o mesmo que Chaz, porém com Manuela.

   Ele ficou incrivelmente perto de abraçar Manuela rapidamente, mas pareceu desistir no segundo seguinte. Eu deveria considerar agradável algumas horas completas sem presenciar beijos e abraços vindos dos dois, mas era tão óbvio que, na cabeça de Justin, era isso que eles estavam fazendo. Chegava a me deixar levemente nauseada e, ainda assim, me sentia na obrigação de engolir essa sensação, junto com todo o meu amor próprio, que possivelmente não existia mais.

   – Sério? Por quê? – perguntou Chaz, fazendo com que eu ficasse surpresa, já que ele não fora o incentivador desse programa.
   – Porque nós não podemos morar aqui... – respondeu Justin, banalizando a dúvida alheia
   – Então... O que estamos esperando? – Manuela já estava se afastando, quando começou a falar – Eu não estou aguentando mais ficar com isso nos pés. Da próxima vez, vamos escutar o Chaz e esperar a água da piscina congelar...
   – Fresca! – berrou Chaz, tomando sua frente.

   Alheia às provocações deles, acabei ficando para trás, seguindo devagar até os limites da pista, tendo Justin ao meu lado. Eu demorei a perceber isso e, quando o fiz, desejei que ele tomasse a dianteira logo só para eu não ter que criar expectativas de que, por algum motivo incompreensível, ele puxaria assunto comigo. Infelizmente, não houve qualquer iniciativa de sua parte em sair do meu lado, então tentei concentrar minha atenção nos assentos em que as pessoas sentavam para se desfazer dos equipamentos. Porém, aquele que eu procurava já havia ido, como era de se esperar.

   – Está tudo bem? – o som da voz de Justin fez com que eu me odiasse por não ter corrido para lugar nenhum, quando foi possível.
   – Por que não estaria? – tentei sorrir, mas não cheguei nem perto disso.

   Fugindo da situação, me apressei para me sentar no primeiro lugar disponível para me desfazer dos patins, enquanto tentava restaurar e manter qualquer sinal de orgulho que eu ainda poderia ter. Na verdade, eu já estava começando a duvidar até da existência disso, quando me peguei perguntando por qual motivo eu não havia aproveitado a chance para ter uma conversa decente com Justin. Mas no fundo, eu sabia que havia uma razão para eu evitar tudo aquilo.

   – Você conhecia aquele garoto?

   Foi realmente surpreendente notar Justin a uma distância normal de mim e não extremamente afastado como ele parecia preferir. Embora desse para perceber o esforço dele para não cruzar olhares comigo, o simples fato do mesmo estar em pé diante de mim, sem outras pessoas conhecidas em volta, já era suficiente para fazer com que eu questionasse o meu nível de lucidez.

   – Não exatamente. Mas estamos nos conhecendo, eu acho... – esclareci, nada confortável.
   – Você deveria tomar cuidado! – aconselhou, me fazendo pensar por um segundo minúsculo que ele tinha interpretado minhas palavras de um outro modo.
   – Eu... Vou me lembrar disso.

   O silêncio retornou entre nós e eu gostei. Eu não tinha certeza se era pela falta de costume, mas sempre que Justin abria a boca para falar comigo – em ocasiões extremamente raras –, eu sentia como se ele apenas se obrigasse a fazer isso. Porém, mesmo com essa consciência, não fui forte o bastante para evitar olhar para ele e, como sempre, foi nesse exato momento que me decepcionei. Justin mantinha os olhos fixos no chão, mesmo que a testa tivesse repleta de rugas derivadas de possíveis dúvidas e eu sabia que ele não se esforçaria para fazer estas acabarem.

   – O que foi, Justin? – a voz de Manuela se aproximou rapidamente, na mesma velocidade em que ela chegou até nós – Você disse que não iríamos morar aqui, mas até agora é o único que ainda não tirou os patins dos pés!
   – Hã... Era o que eu estava indo fazer, ok, senhorita chata? – explicou ele, não sendo muito convincente.

   Pela primeira vez, fiquei feliz em ter Manuela levando Justin dali, afinal, significava que pelo menos eu não teria que passar por mais nada embaraçoso durante aquele dia. Aliás, se eu tivesse que escolher entre esbarrar em dez estranhos todos os dias ou passar por mais uma conversa curta e que não levaria a nada – exceto a fazer meu coração ficar ainda mais destruído –, eu ficaria com a primeira opção, sem nem precisar pensar.

   Me juntei a Chaz novamente, enquanto íamos devolver nosso equipamento ao atendente da recepção, porém Manuela tomou seu lugar minutos depois ao voltarmos a percorrer o shopping, partindo para o estacionamento. Após uma pequena argumentação, fizemos uma parada em uma dessas lanchonetes de fast-food a pedidos da Chaz e sua fome anormal. Com o estômago completamente embrulhado, recusei tudo, ao contrário dos outros três que fizeram pedidos completos para a viagem.

   Eu podia ouvir todo um clima de animação em meio à conversa, quando entramos nos limites do estacionamento e fomos até o carro de Justin, mas não era algo do qual eu sentia a necessidade de participar. Na verdade, eu estava ocupando minha mente com um pequeno filme do meu dia, que, embora não estivesse muito animado, parecia mais satisfatório do que todos os dias anteriores.
     
    Apertei o cinto de segurança, observando todos fazerem o mesmo. Discretamente, notei Manuela e Chaz começando outra discussão baseada no quanto o batuque dele no assento da frente a incomodava e, ainda, Justin rindo, antes de se preparar para sair dali. Esperei que tivéssemos saído do shopping para começar a me desligar do que acontecia a minha volta e mexer no meu celular, pronta para entrar no confortável mundo do twitter.

   Observei a timeline por alguns segundos, chequei minhas menções, respondi e retweetei alguns fãs desesperadamente empolgados e notei as menções de contas verificadas, as quais acabei por não responder por pura preguiça. Assim, depois de um longo período de protelação, resolvi dar uma rápida olhada nas DMs por pura ansiedade, já que fosse pouco provável que houvesse algo diferente lá.

   Mas havia.

   Em meio a DMs de alguns fãs que eu seguia – as quais respondi mentalmente, tentando me lembrar de fazê-lo de verdade, mais tarde –, estava o user de Cory. Eu não tinha notado antes, mas a foto que ele usava era claramente antiga, já que ele parecia ainda mais novo e inocente, deixando claro que ele realmente não ligava mais para o twitter há muito tempo. Porém, tudo isso só servia para fazer aquelas palavras mais especiais...

   “Seria estranho se eu virasse um fã obcecado e passasse a te perseguir? Porque estou pensando seriamente nisso. Não posso arriscar ficar sem ver você de novo. Afinal, imagina que péssimo seria se você se esquecesse de mim?!”

   E então surgiu um sorriso por saber que alguém só estava me vendo como eu era e, não como tal pessoa vivendo tal situação ou possuindo tais bens. Não era como se eu fosse uma pseudo adulta conhecida por todos, mas, apenas uma garota completamente normal, sem mais preocupações, além de estudar para uma prova na quarta-feira. Eu sentia falta dessa garota...
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Capítulo 11 para a alegria geral da nação. Ou não, né?
   Então... Acho que algumas pessoas não vão gostar desse capítulo, outras irão criar expectativas (seria muito maldade se "alguém" as destruísse, né? rs rs rs), porém ele já está aí. Não pode mais ser desfeito! kspoaksaoksopakspoksoskasskk
   Por hoje, vai ficar só nisso mesmo, porque eu deveria estar fazendo uma pesquisa sobre rede elétrica inteligente ou estudando para os milhares de testes que terei essa semana, porém estou aqui com as minhas meninas lindas! :)

   Aliás, aproveitando o meu sumiço, hora de indicar uma fic para vocês acompanharem, enquanto eu decido desaparecer, né? Hahahaha. Bom, essa é a da Bruna (linda, salvei o link do blog aqui, passo por lá assim que der, ok?).

http://www.justimaginewithme.blogspot.com.br/

   Aproveitando a deixa, eu escrevi um textinho na page do blog, explicando o motivo pelo qual eu teoricamente sempre """"ignoro"""" (muitas aspas, porque eu realmente NÃO faço isso) algumas coisas que vocês me pedem! Para saber do que eu falei, clique aqui.

   Então, é isso, lindas. Eu vou ficando por aqui, torçam para que as provas trimestrais venham e acabem logo, porque aí conseguirei um tempo realmente decente para cuidar do devaneio. Enquanto isso... Saibam que eu fico morrendo de saudades. De postar, dos comentários, de vocês. De tudo. :)
   Boa noite e... Um feliz dia das mães para todas as moças maravilhosas que criaram e cuidaram de vocês!