Teclas brancas
Música do capítulo: Heaven - Bryan Adams (cover)
Se você estiver perdida, depois de tanto tempo, recapitulei a história toda em um pequeno resumo, bem aqui. Vai lá!
Belieber's POV
Cheguei em casa
naquele dia me sentindo indescritivelmente exausta – como se o desgaste
emocional da minha conversa com Manuela tivesse se espalhado por todo o meu
corpo. Uma espécie de vírus horrível que tinha como catalisador aquele estúpido
menino que vivia sob o mesmo teto que eu, na companhia da minha querida melhor
amiga. Esta parecia, mais do que nunca, estar do lado errado da situação.
Por mais difícil que parecesse, eu
não estava muito afim de me deixar levar por aquele desconforto, afinal, todo
mundo tem um certo limite quando o assunto é ficar mal e, bom, eu havia chegado
ao meu. O que eu mais queria no mundo naquele momento era transformar todo
aquele furacão das últimas semanas em algo produtivo, algo que parecesse
prazeroso a meu ver.
– E aí? Se divertiram? – perguntou Harry,
sentado no sofá da sala de estar, mexendo no celular.
– Não... – fechei a cara para
expressar meu cansaço. – Ficar bonita é muito exaustivo. Espero que aprecie os
sacrifícios que faço por você...
– Tenho que concordar! – murmurou
Manuela, jogando-se no sofá também.
– Até parece, (Seu nome)! – ele
revirou os olhos, rindo – Você faz isso tão bem, sem precisar de qualquer ajuda
ou esforço.
– Obrigada, você é um amor mesmo! – sorri, antes de me aproximar e beijar suavemente sua testa. – Mas, agora, eu
preciso muito de um banho para depois ficar jogada em qualquer lugar. Não me
espere para dormir hoje, ok?
Harry assentiu, enquanto me lançava
aquela típico olhar de “o que você vai aprontar hoje, moça?”. Não consegui
controlar uma risada sem graça quando comecei a me afastar e me pus a subir as
escadas. Eu adorava quando alguém me olhava daquele jeito, desde pequena,
simplesmente porque me dava, de fato, vontade de aprontar, embora àquela noite
eu não fosse fazer nada digno de preocupação.
Ao chegar ao meu quarto, comecei a me
despir de todas aquelas peças de roupas que já começavam a me sufocar. Peguei
uma toalha e um pijama de seda qualquer e corri para o banheiro, onde coloquei
a banheira para encher, despejando na mesma um pouco da minha loção de banho
preferida.
Retornei ao quarto por meio minuto
para pegar meu caderno de anotações e uma caneta. Em seguida, me apoiei na
beira da banheira e comecei a escrever o que quer que viesse a minha cabeça e...
Nossa! Eram muitas palavras mesmo. Palavras que talvez não se conectassem tão
bem num mesmo verso, mas as escrevi mesmo assim. Li uma vez que às vezes você
só precisa externar.
Nem tudo tem que fazer sentido.
Já estava chegando ao final daquela
página quando percebi a banheira finalmente cheia. Fechei a torneira rapidamente,
larguei o caderno na bancada da pia e retirei a toalha que era a única a
envolver o meu corpo.
Tomei um banho rápido, ansiosa por
continuar a fazer o que estivera fazendo. Algumas vezes, afastada do meu
trabalho e na correria de um cotidiano louco, eu simplesmente me esquecia de
como eu me sentia ao escrever – fosse uma canção, um poema, uma crônica, um
desabafo completamente insano. Pegar uma caneta entre os dedos e fazê-la tocar
o papel era como ter um conversa comigo, ao mesmo tempo em que eu me libertava
daquela “eu” maluca por fazer tudo metodicamente certo.
Escrevendo, eu não era a (Seu nome),
estrela da música. Eu era eu. E, por mais que muitas vezes eu tornasse isso
parte da minha imagem pública, os sentimentos enquanto eu me abro comigo não
fazem parte apenas de uma pose em um holofote.
Saí do banheiro com o corpo
fresquinho, me sentindo bem mais disposta do que eu estivera nas últimas horas.
Enquanto guardava tudo no lugar, me peguei sorrindo para mim mesma ao pensar no
tempo que eu queria reservar para ficar sozinha. Pela primeira vez em algumas
semanas, não era um desejo impulsionado por raiva, angústia, tristeza. Era um
simples querer estar livre.
Com o meu caderno e uma dose de
empolgação em mãos, sai do quarto e me coloquei a subir as escadas para o
terceiro andar. Entrei na minha adorável sala de música e, com um suspiro de
satisfação, observei meus instrumentos acomodados no lugar de sempre. Difícil
de acreditar, mas a presença deles naquele cômodo expunha para mim um dos meus
maiores sonhos que eu já havia realizado.
Liguei as luzes, sentei-me ao piano e
posicionei o pequeno caderno sobre o apoio ali disposto. Hesitei antes de tocar
as teclas, com medo de que a melodia imaginada ficasse totalmente distorcida na
letra que eu havia criado minutos antes.
Eu me sentia um pouco enferrujada em
trabalhar sozinha. Quando você tem uma grande produção por trás da sua música
automaticamente você também tem um monte de gente querendo palpitar, o que nem
sempre é bem vindo.
Mas tudo fluiu de uma forma tão
satisfatória que eu senti um pequeno Réveillon dentro de mim enquanto
sussurrava as palavras no ritmo que eu queria que elas tivessem.
– You're in your world and I laughing about what stayed
behind...
Uma curiosidade engraçada sobre
mim era que, frequentemente, eu me pegava agindo como uma criança, da forma
mais literal possível. No momento em questão, precisei segurar uma gargalhada
muito alta de contentamento. Era mais ou menos como quando você é menor e
começa a construir um castelo de areia na praia. Você está indo bem e, então,
ao olhar como está ficando, simplesmente não consegue se conter. Era essa
sensação.
Guardando meu êxtase pessoal, eu
voltei a me concentrar em mudar um verso que achara que podia ficar melhor do
que havia soado na primeira vez. Porém, de súbito, ouvi o ruído suave de alguém batendo na
porta. Ironicamente, é incomum eu conseguir prestar atenção em qualquer outra
coisa quando estou em um momento assim, mas há sempre uma exceção.
– (Seu Nome)? – era a voz do Justin.
– Pode entrar! – respondi, sem tirar
os olhos das anotações diante de mim.
Ouvi o ressoar da porta se abrindo e
um arfar de surpresa partindo de Justin. Me deu vontade de rir, mas eu segurei.
Ainda assim, não me dirigi corporalmente a ele, apenas continuei debruçada
sobre os meus pensamentos. Sem qualquer vontade de me estressar, eu precisava
continuar focada em mim.
– Atrapalho? – perguntou e, de alguma
forma, dava para perceber o receio em sua voz, baseado nos nossos encontros
anteriores.
– Para falar a verdade, não. – retruquei. – Eu só não sei se poderei te dar total atenção agora. Estou um
pouco ocupada!
– O que você está fazendo?
– Uma música, como eu acho que é bem
notório. – Ri para mim mesma, ainda concentrada.
Houve um longo minuto de silêncio após o meu comportamento e eu me perguntei se Justin achara que eu tinha
sido rude, porque – e parece estranho alegar isso – não foi a intenção.
– Posso ouvir? – a bomba veio depois.
Eu não estava estressada, não estava
me sentindo incomodada, nem preocupada em parecer demasiadamente hostil. Mas o
fato é que eu não era acostumada a mostrar minhas composições mais íntimas
quando elas ainda estavam em estágio de criação. Fazia com que eu me sentisse
exposta demais e, por mais que eu já devesse ter me acostumado com isso, o
turbilhão de confusão que se passava por mim ainda deveria ser preservado como
só meu.
Tentando parecer dócil, eu me virei
para encarar Justin e poder dizer que infelizmente seu pedido não poderia ser
atendido. Não naquele momento.
O problema era que, ali, naquela
sala, eu estava aberta a tudo, estava livre de mim e dos meus desejos e manias
egoístas. Estava desarmada.
Assim, quando me virei para ele, com
a resposta na ponta da língua, hesitei. Enquanto olhava para o rosto
estranhamente inocente de Justin, eu não soube o que dizer exatamente e fui
atingida por tantas verdades, tanta coisa que eu tentava esconder de mim.
Querendo ou não, ele ainda era o Justin e, até onde eu podia me lembrar, esse
era o nome de um dos caras que mais detivera minha confiança há alguns anos.
Por que agora tinha que ser tão diferente?
Não tinha. Eu simplesmente queria que fosse desse
jeito.
– Pode! – suspirei, sentindo o
coração apertar tão forte que quase me impedira de respirar – Senta aqui!
Cheguei para o lado no assento e ele
tomou metade do lugar destinado a uma pessoa só. Tirando as situações forjadas
na qual ele se obrigava a fazer contato comigo, aquele foi o momento em que
estivemos mais próximos fisicamente e estava acontecendo por minha causa. Eu
lhe dei liberdade para tal. Por uma fração de segundos, eu quis isso. Quis que ficasse tudo bem.
Respirei bem fundo antes de permitir
que os meus dedos voltassem para o piano, impulsionando a mesma melodia calma
de alguns minutos atrás. Quinze segundos depois, as palavras estavam saindo por
entre meus lábios enquanto eu me concentrava em manter o tom.
Para falar a verdade, estava
preocupada em estar errando muito, porque eu sentia que agora era diferente.
Não era um sentimento pré-definido socialmente, mas meus queridíssimos órgãos
pareciam estar dançando dentro do corpo. E, com certeza, eles não acompanhavam
o ritmo da minha música – aliás, parecia algo mais como Twerk. Devo admitir que
não era ruim, mas também não me deixava muito segura do que estava fazendo.
Um minuto e parecia que eu não sabia
mais tocar piano. Considerando todas as aulas que eu tivera, alguém iria ficar
muito desapontado comigo.
Ao chegar ao fim daquela canção
aparentemente ainda incompleta, ouvi um suspiro um pouco tenso ao meu lado e
meu instinto perfeccionista me colocou em estado de desespero. Quero dizer...
Eu tinha escrito aquela letra, aquela melodia com toda a entrega possível do
meu coração. Se, por algum motivo, ela não parecesse boa o suficiente para a
primeira pessoa que a ouvira, eu estava pronta para ir para o quarto, chorar em
posição fetal.
Mesmo que aquela “primeira pessoa” fosse
Justin Bieber.
Naquele momento, não fazia muito
diferença.
– Uau! – ele soltou, por fim, sem de
fato retirar todas as minhas preocupações. – Ficou linda!
– Sério? – minha sobrancelha se
arqueou de forma involuntária, minha descrença foi real.
– É – ele sorriu como se não
acreditasse que eu não acreditava. – Quero dizer... Não é que eu duvide da sua
capacidade, não me entenda mal, mas é muito melhor do que qualquer coisa que eu
poderia explicar. É leve, bonita, harmoniosa...
– Isso parece bem diferente de mim!
– Você quem está dizendo, não eu. – ele riu da minha piada e depois abriu um sorriso de satisfação.
Seu humor era quase como uma
gentileza se fosse considerar o meu comportamento nas últimas semanas, mas,
ironicamente, era por conta daquela sutileza para comigo que minha insegurança
estava chegando a níveis alarmantes.
Eu tinha me acostumado a manter
distância de pessoas que não estavam dentro do meu círculo habitual de
amizades. Além de isso ser algo incrivelmente prejudicial quando posto no
contexto do meu trabalho, era pior ainda perante a meu bem-estar.
Minha ficha estava lentamente
caindo.
Eu tinha me jogado em um buraco
imutável e estava me aproveitando do conforto dele, incapaz de conseguir
desejar sair dali.
– Eu não quero parecer estar forçando
uma situação aqui... – Justin retirou-me violentamente dos meus pensamentos
deprimentes, me deixando feliz por fazê-lo. – Mas, acredite ou não, há um
formigamento de vontade e receio de cantar com você de novo. Nas vezes muito
anteriores que o fizemos, pareceu bom!
– Ora, ora... Quem diria que você
iria achar qualquer coisa que fez comigo no mínimo agradável. Muito me
surpreende!
– (Seu nome)... – ele suspirou,
abalado.
– Relaxa, Justin! – deixei que um
sorriso confortador se desenhasse em meus lábios enquanto falava – Eu estou só
brincando!
Foi engraçado ver Justin tentar
disfarçar o extremo alívio que sentiu ao ouvir minhas palavras, forçando o
gestual para algo mais natural. Ele parecia o retrato de um ser completamente
desajustado, mas eu lhe dava o crédito de querer manter seu orgulho longe dessa
imagem.
– Então... O que você acha? – recomeçou a falar, de súbito.
– Hã... Do que estamos falando
exatamente?
– Canta comigo! Tipo agora. Sem
pressão. Edição. Equipamentos. Só eu e você.
“Sem pressão”.
Sem.
Pressão.
Será que ele tinha noção do peso de
toneladas que as suas palavras tinham sobre mim?
Aquilo era muita pressão, senhor
Bieber!
Ok, para falar a verdade, não deveria
ter nada demais naquilo, nós éramos profissionais. Mas, vamos admitir, não era
algo profissional que ele estava propondo e, sim, bem íntimo, como se nós
fossemos – eu não sei – amigos.
Eu estava disposta a levantar a
minha bandeira branca, cansada de confronto, do veneno das pequenas discussões
diárias, mas eu não podia negar que, ao abaixar todas as minhas armas e também
a autodefesa, bom... Justin fazia com que eu me sentisse engraçada, como uma
adolescente no colegial de novo. Não dava para saber se aquilo era bom ou ruim.
– Bom... – suspirei. – Eu acho que
não tenho como negar isso. Algo em mente?
– Eu gosto das músicas clássicas,
você sabe... Aquelas que nunca perdem o charme? Então, posso escolher ou
você...
– Fique à vontade. Eu e minha voz
estamos a sua disposição!
Justin suspirou lentamente como quem
reflete de forma íntima sobre algo bem importante, o que, de fato, deveria ser
mesmo. O momento em que a bruxa dona da casa deixa o coração amolecer e decide
ser boa e gentil com o inquilino desordeiro, cedendo-lhe um dos seus pedidos.
Mero súdito do acaso esse tal de Justin Bieber!
Eu já havia
começado a rir secretamente em minha cabeça, pensando nas minhas embaralhadas
histórias cínicas pessoais, quando os dedos de Justin deslizaram por sobre as
teclas claras e brilhantes do meu piano de cauda. As notas aveludadas e
harmônicas chegaram aos meus ouvidos como um doce ruído de nostalgia. O coração
apertou devagar, eu amava aquela música.
Sempre amei. Por algum motivo, porém, ela ficou para trás.
– Oh, thinking about all our younger
years, there was only you and me. We were young and wild and free…
A voz de Justin, ao cantar, era
mais agradável do que eu parecia querer me lembrar. Sem a perda de qualidade
para as gravações, sem qualquer efeito de áudio de algum estúdio super
conceituado, sem produtor, sem milhares de outros ruídos em conjunto, sem toda
e qualquer coisa que diminuísse o foco da belíssima canção que ele emitia,
bem... Como a música bem dizia, era como um paraíso.
Involuntariamente sorri sem jeito.
Olhar para Justin naquele momento e pensar nele como uma pessoa que eu acabara
de conhecer era engraçado. Eu não fazia esforço para pensar dessa forma, mas,
deixando minha autoproteção para trás, era isso que parecia. Eu estava
conhecendo aquele homem pela primeira vez (de novo) e ele parecia muito com uma
daquelas pessoas que lhe arrancam suspiros de conforto na primeira conversa.
Definitivamente, não foi assim
quando a gente, de fato, pôs o olho um no outro pela primeira vez. Depois,
talvez tenha ficado exatamente dessa maneira. Ou melhor...
“Vem!",
Justin quebrou o silêncio, levantando-se da cama. "Quero te mostrar uma
coisa..."
Preparei um protesto resmungão,
incapaz de sentir vontade de me levantar, mas isso não seria nada gentil.
Então, lutando contra toda a minha má vontade, me levantei, contornei a cama e
fui para seu lado.
Justin segurou firme minha mão e
andamos pelo quarto até a janela mais próxima. Observei enquanto ele afastava
as cortinas e a abria. Um vento frio soprou em meu rosto, de repente, me fazendo
hesitar.
"Feche os olhos!", pediu,
sorrindo.
"Você... Não vai me jogar daqui,
né?", indaguei, com suspeitas não muito agradáveis. "Se você se
frustrou com os meus problemas, saiba que foi você que perguntou, ou seja, não
pode se livrar de mim assim."
"Deixa de ser boba, (Seu Nome)!
Eu não vou te jogar daqui. Confia em mim!"
Suspirei, buscando paciência para
agir de forma gentil. Fechei os olhos devagar, permitindo que ele pudesse fazer
o que bem entendesse. Senti suas mãos em minha cintura e precisei dar mais
alguns passos para frente, até bater no parapeito da janela. Meus músculos se
enrijeceram por um pequeno momento, até que meu bom senso me alertou que Justin
era uma das pessoas mais confiáveis que eu conhecia.
"Agora, faça o que eu disser,
ok?", sussurrou calmamente em meu ouvido.
"E eu tenho escolha?"
"Na verdade, não.", sua
risada tilintou suave em meus ouvidos. "Ok. Pense em todas as coisas boas
na sua vida."
Minha cabeça se encheu de um fluxo
rápido de informações. Eu provavelmente imaginei tudo o que já me acontecera
desde que eu passei a me entender por gente.
O carinho extremo dos meus pais. A
estrelinha que a professora grudou na minha testa no jardim de infância. A
primeira vez que eu fui à praia. Tinta azul sobre minha mão após a primeira
tentativa de um quadro. Lucas. O orgulho que meus pais demonstravam por mim.
Chocolate no café da manhã. Minha primeira paixão platônica. Manuela. A risada
dos meus amigos após um programa nem tão bem sucedido. Viagem à Nova York.
Chaz. A “primeira vez”. O primeiro show. A primeira turnê. Fãs. Justin.
Deixei escapar um pequeno e
incontrolável sorriso, sabendo que estava sendo observada. Tentei me focar em
uma lembrança só, mas eu não conseguia controlar nem a mim mesma. Eu não sabia
que tipo de bruxaria o meu namorado estava fazendo, mas estava dando
incrivelmente certo.
"Você está pensando em mim?", perguntou ele, rindo.
"Eu não sou obrigada a te dizer
nada.”
...
Infelizmente, pensar em todas essas
coisas ainda era melancólico.
Afastei meus devaneios depressa e
respirei fundo.
– And baby you’re all that I want when you’re lying
here in my arms. – Juntei minha voz a dele no momento do refrão. – I’m finding
it hard to believe…
Estar naquela posição era mais
complicado do que eu esperava e, aposto, do que qualquer um poderia desejar.
Uma parte de mim – bem grande – estava apreciando a calmaria em que se
encontrava. A outra, crescendo, sentia o coração voltar a apertar.
Não era culpa de ninguém. Mas as
minhas lembranças com o Justin nunca iriam ser apagadas. A pior parte era que,
querendo ou não, certeza de que um dia eu iria saber lidar com elas, isso eu
não tinha. Mesmo se tivesse, ainda assim, aquele não seria o momento em que
isso aconteceria.
– Oh, once in your life you find someone, who will
turn your world around – quando o refrão acabou, Justin me deu espaço para
continuar só. – Bring you up when you’re feeling down…
Tentar ignorar todas essas
coisas seria fácil, se ao menos eu sentisse naquele momento que só eu estava em
um impasse, mas não era o que parecia. A última coisa que eu estava era sozinha
nessa confusão causada por um paradoxo entre passado e presente.
Isso só ficou ainda mais claro ao
final daquela estrofe.
“Our love will light the way”.
Justin sutilmente parou de tocar
quando essas palavras se espalharam por entre meus lábios e, então, eu
suspirei, voltando a sentir os vestígios daquele cansaço emocional. Dessa vez,
contudo, ele veio de mãos dadas com certa solidariedade. Eu sabia que não era a
coisa mais fácil do mundo para Justin também.
O dia de ontem não havia sumido.
E quando seus olhos focalizaram,
profundos, nos meus, eu soube que não ia sumir tão cedo.
Ele não precisou falar nada e eu me
perguntei se eu gostaria que tivesse falado. Quando seus lábios se contraíram e
sua mão esquerda se apoiou suavemente na lateral do meu rosto, meus impulsos
físicos pareciam prestes a explodir. Naquele momento, eu sabia o que eu queria
e queria muito e, ao mesmo tempo, eu estava me odiando, completamente incapaz
de sentir culpa por isso.
Justin me beijou. Ou eu beijei o
Justin. Acho que, no final das contas, não fazia muito diferença, porque nenhum
dos dois pareceu avesso ao que estava acontecendo. E, com o perdão da palavra,
ainda bem que não!
Beijar Justin era contraditório. Por um
lado, durante aquele instante suficientemente longo, eu me sentia calma, em
paz, quase como se fosse uma quarta-feira chuvosa e eu pudesse só ir para a
casa dos meus pais, me enrolar no cobertor e comer chocolate, enquanto assistia
filme. Era como se fizessem carinho no meu coração.
Por outro lado, contudo, eu sentia
como se estivesse levando, no mínimo, vinte e seis tapas na cara ao mesmo
tempo. Aquele aroma, aquela boca, aquela pele roçando suave na minha, aquele
cabelo pelo qual meus dedos deslizavam, aquele calor que era tão exclusivamente
dele. Eu me sentia gritando de saudade dessas coisas e, ainda assim, gritava me
achando completamente insana e era nesse momento que a sanidade, de fato,
espancava meu psicológico.
Eu iria acabar morta no segundo em
que minha cabeça explodisse por tanta coisa.
– Não quero ter que me desculpar por
isso... – ele sussurrou, os lábios ainda perto dos meus.
– Não tem problema – me afastei
sutilmente, tentando recuperar a normalidade dos meus sentimentos.
– Você gosta de mim, não gosta?
Eu só queria outro beijo daquele. Por
que ele tinha sempre que complicar as coisas?
– Justin, por favor, não... – meu
tom foi um pouco mais seco do que o anterior. Coincidentemente a tensão estava
voltando também. – Não é porque eu disse que não tem problema que isso muda
alguma coisa. Você só está me afastando da minha ética e, na verdade, eu não
consigo superar pensar nisso. Então, por favor, não haja como se fosse mudar
alguma coisa.
Silêncio.
– Era só uma pergunta – Justin havia
voltado a se comportar de forma amuada e eu me senti culpada por isso.
Respirei bem fundo, pouco depois de
engolir em seco. Eu realmente não sabia onde estava com a cabeça. A triste
verdade era que eu não teria outro beijo naquela noite e, se os deuses do
universo me reouvessem a sanidade, nunca mais. A única coisa que havia sido
acesa novamente era aquela carga de perguntas complicadas, que não pararia por
ali. Só que isso precisava parar. Quanto antes, melhor.
– Eu gosto de mim, Justin. E da minha
vida do jeito que ela naturalmente caminha – expliquei. – Mas eu não sinto
como se fosse possível ter espaço para você nela agora.
– Mas...
– Eu não posso! – Interrompi,
temendo que sua objeção pudesse me atingir de alguma forma. – Sinto muito...
Voltamos a ficar em silêncio por um
tempo e eu me senti invadida por uma onda de constrangimento arrebatadora.
Fazia um bom tempo desde a última vez que eu tive que ser firme de uma forma
pacífica e cuidadosa. Além disso, falar aquilo para Justin – para aquele Justin
que havia me atado aos seus beijos – era complicado e incômodo.
Por que eu sempre conseguia me
colocar nessas situações? Por que a vida não vem com um roteiro pronto e
bonito, que tire todas essas complicações da cabeça e nos guie para o caminho
certo, sem qualquer resquício de dúvida?
Bom, fica aí a sugestão para o
universo. Quem sabe no próximo Big Bang consigamos nos aproximar disso?
– A gente pode ser só amigos – ele
suspirou, parecendo um pouco desolado e me deixando com vontade de pegá-lo no
colo, sensação que não me lembrava como era há muito. – Ao menos isso.
– Bem... Como isso funcionaria?
– Eu não sei – ele riu, sem jeito. – Talvez você possa me contar sobre a sua vida nesses últimos tempos. Quero
dizer, as coisas que você tem feito, além de shows e preparar um casamento.
– Isso parece bom! – Enquanto
falava, usei todas as forças que havia em mim para conter um enorme sorriso de
entusiasmo, mas fracassei.
– E, claro, eu teria que te contar
sobre a minha incrível aventura de ter ficado preso em um elevador de um hotel
na última vez que estive no Brasil.
E a minha criança interior dava as
caras novamente. As bochechas queimavam de alguma timidez que eu não me
lembrava de ter com Justin e o meu riso se mostrava completamente solto e
frequente.
Foi nesses termos, contudo, que
passamos as cinco horas seguintes. Entre um assunto e outro, uma piada muito
sem graça de fazer a barriga doer, eu olhava para Justin e via o homem com mais
jeito de garoto desorientado possível e, por algum motivo, eu queria saber tudo
e rir muito sobre qualquer coisa que ele tivesse para me dizer.
Nós falamos sobre nossa relação com a
Manuela, a relação com nossas famílias, as vergonhas que passamos em viagem
através do mundo, as manias idiotas que tínhamos, a comida preferida. Logo
mais, estávamos descendo as escadas, no breu em que a casa se encontrava, e
assaltando a cozinha como se aquilo, de fato, não fosse meu. Assim, terminamos
largados no sofá da sala, com algumas embalagens vazias, e rindo, enquanto eu
tentava esfregar o meu lindo pé no rosto de Justin ou ele me pegava em uma
péssima chave de braço.
Eu não conseguia me lembrar da última
vez em que estivera tão próxima de Justin. E eu não estou falando da parte
física.
De uma forma resumida, posso
claramente afirmar que foi uma das piores noites da minha vida.
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Meninas, acreditem ou não, VOLTEI (agora para ficaaaa-aaaar, porque aqui-ii, aqui é o meu lugar!)!
Eu, de verdade, não sei como serão as coisas a partir de agora, se terei algum retorno de vocês, mas, por favor, acessem esse post aqui e leiam a explicação para meu sumiço iminente e, acima disso, sobre como as coisas serão a partir de agora no blog.
Eu espero poder contar ainda com alguma leitorazinha perdida por aí, apesar de saber que todas nós mudamos muito ao longo desses últimos tempos (Justin idem hahahaha), mas, enfim, espero que possamos terminar isso juntas!
Peço, inclusive que, devido ao fato de estarmos recomeçando, as leitoras que AINDA tiverem interesse em receber aviso quando capítulo sair, me peçam no @fallingfordrew, porque, devido ao meu afastamento, não vou continuar mandando para os mesmo users de antes; só para os que demonstrarem interesse a-g-o-r-a. Ok?
Ainda amo vocês!!! Até a próxima!