25 maio 2014

5. You Make Me Love You - Capítulo 24

Ponto de vista
Música do capítulo: More Than This - One Direction

Justin's POV
    Já passava das quatro da manhã e eu ainda não tinha conseguido dormir. As últimas horas haviam se resumido a pensar, repensar e me torturar, refletindo sobre o que eu tinha feito no quarto da (Seu nome). Eu deveria me remoer de arrependimento, me sentir completamente idiota pelo jeito impulsivo, mas, na verdade, dentro de mim, tudo estava bem longe desse drama todo.

    Afinal, de uma forma bem estranha, eu tinha gostado.

   Tudo bem, eu podia aguentar o título de pessoa mais estranha do mundo, porque, de algum jeito ainda desconhecido, parecia que eu estava me sentindo atraído pela garota pela qual eu sinto que preciso manter distância. Não, não dá, eu preciso de um minuto para poder rir de mim mesmo. Como eu posso ser tão estupidamente lerdo para concluir as coisas? Essa fase de boiolagem já não deveria ter passado?

    Eu deveria simplesmente agir como homem que sou, voltar naquele quarto, praticamente arrombando a porta, pegar aquela garota de jeito e lhe dar o melhor beijo da sua vida. Depois, obviamente, carregá-la até o porta-malas de algum carro e fugir daqui para nunca mais volta. Espera... O quê? Eu disse homem, não futuro presidiário. Melhor começar de novo...

    Eu deveria agir como o homem adulto que sou, colocar meu rabinho entre as pernas e sair dessa casa, sem nem olhar para trás, deixando de me intrometer na vida dos outros e, principalmente, deixando de ter que conviver com uma garota impossível, com personalidade semelhante à de uma criança mimada de cinco anos de idade, que está prestes a casar com alguém que claramente não deveria.

    Isso seria muito mais sensato da minha parte, porém, talvez, exatamente por isso que eu faria o oposto.

    O problema era que eu não conseguia levar a ideia de ir embora a sério. Era como se aquela casa tivesse alguma aura sobrenatural que me prendesse ali, até que eu finalmente entendesse o motivo para tal. E, ao que me parecia, eu estava chegando perto. Afinal, o que acontecera ontem à noite, somado ao modo como (Seu nome) mentiu impiedosamente para mim, não era uma coincidência. Isso estava mais do que claro naquele lindo par de olhos medrosos e mentirosos.

    Era engraçado, porque eu ainda não me sentia à vontade do lado dela. Tocá-la, olhá-la e  com certeza  beijá-la me provocava sensações tão extremas e sem nome que seria fácil fazer com que todo o meu corpo explodisse. Era quase como andar em uma montanha russa: você sabe quando o pico mais alto está se aproximando, porque tudo fica mais devagar, e está ciente do que vem depois disso; mas a “queda”, a trocentos quilômetros por hora, sempre te faz achar que pode morrer a qualquer segundo. E nem por isso você deixa de ir à montanha-russa. Com a (Seu nome) era igual: quanto mais meu lado racional dizia “não”, mais eu sentia vontade de estar com ela e ultrapassar as barreiras que eu mesmo me impusera.

    Eu sabia que não fazia sentido, mas ela também não era a garota mais sensata do mundo...

    E, aparentemente, também não era a mais sincera.

    Eu tinha total certeza de que eu não estava ficando louco  pelo menos, não tanto. Minha mente não tinha capacidade de criar tudo aquilo de forma tão real, sem algo em que se basear. Além disso, aquela dor absurda não viera do nada e eu não podia simplesmente dizer que era efeito da minha atitude condenável  afinal, Harry Styles que me desculpe, mas culpa foi a última coisa que senti ao beijar sua querida esposa. Soava como se uma multidão tivesse acabado de pisotear o meu crânio e, depois, como se houvesse um fluxo enorme de informação tentando chegar ao meu cérebro, ao mesmo tempo, e elas apenas se embolassem no caminho.

    Mas não importava, porque eu sabia que não havia qualquer desculpa para aquilo; eu tinha lembrado algum episódio perdido do passado e ninguém poderia me tirar essa certeza. Era a (Seu nome), eu sabia. Ela estava um pouco diferente, mas definitivamente era ela, até o perfume era o mesmo: essência de shampoo, flores, e o sabor da minha bala favorita – era assim que parecia para mim.

    A única coisa que não parecia clara era o motivo pelo qual ela precisava mentir. Eu estava lembrando daquilo que ficara no escuro por muito tempo e, mesmo que ela tentasse esconder, eu sabia que ela tinha o mínimo de consideração por mim para apreciar esse pequeno momento e querer me ajudar. Apesar de saber que (Seu nome) era completamente louca e desequilibrada, aquele seu bloqueio para comigo tinha que ter algum fundamento. Não era justo!

   Eu ainda estava de pijama, quando peguei meu celular sobre a cama e me levantei no escuro do que restava da madrugada para ir atrás de respostas para as minhas perguntas. Eu já estava cansado de ficar me consumindo com todas as minhas questões malucas somadas à insônia. Além disso, dessa vez, eu não estava dando um tiro no escuro; eu sabia exatamente o que procurar. Tudo bem, era errado até demais, mas, desde que eu chegara àquela casa, eu nem conseguia me lembrar de qual foi a última coisa certa que eu fiz...

    Abandonei o cômodo, seguindo até o corredor completamente escuro. Embora já não fosse tão tarde, não dava para enxergar absolutamente nada naquele ambiente, a prova disso foi eu ter que tatear as paredes até encontrar o que eu achava ser a porta do quarto da (Seu nome), o que demorou um tempo maior do que o necessário. Mas, contanto que eu não fosse pego no flagra, estava tudo bem.

    Entrei no cômodo, utilizando da minha máxima leveza para não ousar fazer nenhum mísero barulho, nem ao encostar a porta novamente. Diferente do breu lá fora, eu conseguia distinguir algumas coisas naquele ambiente, talvez por ter ficado as últimas horas apenas pensando em algo que havia acontecido no mesmo. Assim, eu mal tinha dado um passo pelo quarto, quando percebi (Seu nome) deitada sobre a cama, dormindo como um anjo. Ou quase. Harry fizera o favor de quase esmagá-la sobre a cama e atrapalhar a minha boa visão.

    Eca!

    Tudo bem, Justin, você veio aqui por um motivo e, por mais repulsiva que seja essa cena, você não está em direito de ficar passeando com toda a tranquilidade pelo quarto dos outros. Seja rápido! Aliás, onde ela colocou aquele troço mesmo?

    Esforçando-me para ignorar meu desgosto, apressei o passo até o pequeno móvel próximo a cama e comecei a tatear sobre ele, tentando abrir uma das gavetas, mas nenhuma parecia estar destrancada. Sem vontade de desistir, peguei meu celular para iluminar a superfície do móvel, onde possivelmente poderia estar alguma chave ou qualquer coisa. E, assim que o fiz, tive um primeiro susto inicial.

    Um caderno branco rendado repousando ali, próximo a algumas canetas, quase me enganou e fez com que uma descarga de adrenalina descesse pelo meu corpo, mas percebi a tempo que não era exatamente aquele que estava com (Seu nome) mais cedo. Porém não era só porque não era exatamente o que eu estava procurando que eu não ia aproveitar e dar uma olhada só para matar a curiosidade.

    Eu mal tinha aberto o tal caderno – que era mais uma agenda na verdade – e, de imediato, me arrependi completamente. Era apenas um amontoado de detalhes sobre o “casamento do século”: lista de padrinhos e madrinhas, grupos de convidados, diversos nomes de decoradores, estilistas, cerimonialistas, preferências nos detalhes, datas de compromissos e o resto das coisas desinteressantes. Havia até uma foto deles colada em uma página qualquer, porém eu não tinha motivos para reclamar, afinal, eu havia me intrometido por livre e espontânea vontade.

    Voltei a colocar a agenda sobre o móvel e aproveitei para acender o pequeno abajur em cima do mesmo. Eu não tinha sequer raciocinado, mas hesitei quando a luz chegou ao rosto de (Seu nome), temendo a possibilidade de acordá-la. Felizmente, ela nem se mexeu, completamente absorta em algum sonho qualquer. Algumas vezes, quando eu olhava para ela, não podia deixar de me perguntar como eu podia cobrar atitudes adultas  como não se casar com o primeiro maluco que aparecer  daquela mulher com cara de menina?

    Suspirei, voltando a me concentrar no motivo pelo qual eu estava ali. Sabendo que as gavetas estavam trancadas e que não havia qualquer sinal das chaves, eu provavelmente deveria dar meia volta e retornar ao meu quarto. Mas era uma questão de honra achar alguma informação sobre o passado  alguma informação viva, uma informação que viesse dela. Além disso, não poderia ser tão difícil. (Seu nome) era muito metódica, eu já notara, ela gostava de escrever, de ter as coisas anotadas. Havia muito mais que eu poderia achar naquele quarto e eu não iria desistir até fazê-lo.

    Assim, voltando a me utilizar do celular, verifiquei a outra mesa de cabeceira, que estava destrancada, mas cheia apenas de algumas canetas, prendedores de cabelos, balas e alguns remédios. Olhei também debaixo da cama, mas também não havia nada, além de um par de chinelos e uma pilha de CDs que ela devia ter mexido ultimamente. Chequei também a penteadeira, mas não havia nada relevante, nem mesmo os bilhetes presos ao espelho.

    Por fim, antes somente de olhar no banheiro – um sinal claro de que eu estava perdendo as esperanças –, abri o enorme armário encostado à parede. Definitivamente, ele não tinha uma organização muito usual. Quer dizer, obviamente as gavetas estavam repletas de roupas íntimas, meias, alguns pijamas e roupas mais simples, também havia edredons nas prateleiras mais altas, porém o centro, que deveria estar completamente abarrotado de roupas, não tinha uma peça sequer.

    A única coisa que tinha, nas três divisões centrais do armário, eram caixas coloridas – e ursos de pelúcias, na última, muitos ursos. Agarrando às minhas últimas esperanças, comecei a verificar o que havia em cada uma e não fugia muito do óbvio. Na última divisão, além dos ursos, as caixas estavam abarrotadas de cartas de fãs e, embora fossem muitas, eu duvidava que estivessem todas ali. Na do meio, as caixas estavam quase que, em sua maioria, repletas de esmaltes, pincéis, lápis de cor, panos e materiais semelhantes, com as quais ela, jeitosa, poderia facilmente trabalhar. Já nas caixas da primeira divisão, havia papéis, incontáveis papéis. Composições musicais, desenhos, anotações colegiais, textos avulsos e, aparentemente, o que eu estava procurando.

    Tinha que ser aquilo!

    Nas duas caixas do topo, havia vários cadernos, alguns com a foto da (Seu nome) estampada na capa e outros com um modelo delicado e semelhante ao que estava com ela, hoje, mais cedo. Não hesitei em levar a caixa ao chão e pegar o primeiro dos cadernos que preferi, quase enfiando a cara nas páginas para poder enxergar na luz inadequada que vinha do celular.

    Felizmente, percebi que eu estava certo: eram realmente diários – embora as anotações não fossem feitas diariamente, como deveriam. Porém, ao mesmo tempo, fizera a escolha errada e o caderno que eu escolhera remetia ao ano passado, ou seja, era apenas um furacão de Harry, Harry, Harry, show, Harry, Harry, fãs, e mais, muito mais Harry mesmo. Será que ela não enjoava? Afinal, com certeza, não era tão difícil. Eu já tinha enjoado.

    Peguei mais uns dois cadernos que também remetiam somente à sua vida de turnê, a rabiscos de futuras músicas e mais Harry – algumas partes estavam em um idioma que eu não conhecia, mas o nome dele continuava lá. Assim, decidi voltar um pouco mais no tempo e, finalmente, pareci acertar uma. A página do último caderno que eu abrira estava indicando “17 de setembro de 2016”...

    “Eu quero matar o meu namorado ou qualquer coisa que esse garoto idiota seja...

    Deveria ser um crime fazer esse tipo de coisa comigo. Bom, deixe-me recapitular, para não ficar confuso. Eu e Justin brigamos há algumas semanas, assim como eu fiz questão de deixar bem claro aqui, junto a todo o meu ódio por ele, durante esse enorme espaço de tempo. Mas alguém consegue acreditar nisso? Quero dizer, acreditar que eu realmente odeio esse garoto?

    Bom, deveria, porque eu realmente o odeio. Sério!

    Afinal, que tipo de ser humano horrível faz com que eu termine um relacionamento, depois me ignora durante séculos, me fazendo ficar tão mal quanto uma condenada à cadeira elétrica, só para depois vir em um dos meus shows e cantar a música mais linda para mim, antes de fazer com que eu me sentisse totalmente idiota? Pois é, senhoras e senhores, apresento-lhes Justin Bieber, um bobão que eu chamo de namorado nas horas vagas.

    Para ser sincera, eu fiquei bastante receosa quando o vi entrando no palco, porque, em teoria, eu já estava começando a aceitar que nós realmente havíamos parado por ali  eu estava morrendo um pouco a cada dia, mas coisas da vida, relevemos  e, então,  ele, mais uma vez, faz uma bolinha com todas as minhas certezas e a arremessa no lixo mais próximo. Às vezes, eu me sinto tão boba perto dele.

    Nós conversamos no meu camarim, depois do que aconteceu e foi horrível. As palavras dele são tão lindas e eu sou tão sem jeito, que me dá vontade de rir por não ser tão eloquente, só que, ainda assim, Justin faz parecer que essa é a característica que ele mais gosta em mim. Definitivamente não posso lidar com isso. Sério, dá para ouvir meu coração batendo? Não, né? Bem, Justin o transformou em farofa, depois de definir a preocupação que eu lhe causo como algo “perfeito”.

    Agora, ele está dormindo bem ao meu lado e ele sorri enquanto o faz. Uma perna dele está sobre a minha e, embora isso esteja me provocando uma câimbra terrível, eu não acho que eu vá me mexer tão cedo. Às vezes, quando eu estou sozinha, pensando nas minhas idiotices super bem desenvolvidas, chego à conclusão de que o seu toque é a minha única certeza de que ele é real, porque essa aparência de anjo não ajuda muito...

    Isso deveria ser considerado um crime: amá-lo dessa forma. Não é certo, é?

    Chega a ser engraçado, porque estar com ele e perceber que eu nunca senti nada tão forte assim por ninguém é meio assustador, mas não é algo que eu consiga parar ou mesmo controlar. Eu sei, apesar das nossas brigas, do meu jeito teimoso e de minha mania de bater o pé quando eu acho que estou certa, eu tenho total ciência de que Justin tem o meu coração por completo e, mesmo que o próprio não saiba disso, se ele quisesse simplesmente quebrá-lo em um único momento, eu não seria capaz de fazer nada para impedir isso. Iria doer e, apesar de já ter me decepcionado outras vezes, eu tenho certeza de que Justin não fará isso, por isso eu não me preocupo tanto assim.

    Mas eu duvido que não tenha alguma lei ou qualquer coisa que configure isso como crime hediondo; ou, então, algum diagnóstico que confirme ser uma doença crônica – ou talvez algo próximo de um infarto –, porque, sinceramente, eu não me sinto nem um pouco no controle da situação...

    Mesmo esperando que a resposta seja negativa eu não consigo deixar de me perguntar: será que algum dia isso vai passar?”


    Suspirei, antes de olhar por sobre o meu ombro. (Seu nome) ainda continuava adormecida completamente inconsciente da minha presença em seu quarto  até porque se ela somente desconfiasse disso, bom, eu não teria mais uma vida com a qual me preocupar. Ali também continuava Harry, com o corpo tão perto do dela que se tornava até uma visão meio imoral.

    É, (Seu nome), aparentemente, tudo isso já passou.

   Resolvi adiantar um pouco as coisas, pulando várias páginas e cheguei a um ponto em que à medida que os dias relatados ali iam passando, as folhas iam ficando um pouco enrugada em alguns pontos. Algumas páginas eram só alguns desenhos bem rabiscados com traços grossos e bem marcados, como se ela tivesse cravado bem fundo a caneta sobre o papel. E, então, eu cheguei ao dia 1º de dezembro do mesmo ano...

    "Eu não estou aguentando mais!

    Os dias têm parecido se arrastar cada vez mais e eu simplesmente não consigo mais fingir que eu estou completamente bem e confortável com o que está acontecendo. Afinal, é tão óbvio que eu não estou e é, infelizmente, óbvio para todo mundo  até para meus fãs que nem sequer tem um contato muito grande comigo cotidianamente. Como isso é possível?

    Definitivamente, não estar bem me irrita, mas não é como se eu conseguisse parar e restaurar um humor agradável. Eu simplesmente não consigo. E, mesmo sabendo que isso é algo interno, que, em teoria, depende só de mim, eu não posso fingir que não tenho raiva do mundo, das forças do universo, de algum carma terrível ou corrente de azar que virou minha vida de pernas para o ar de um dia para o outro. É nessas horas que eu realmente acho que sou uma pessoa detestável, porque é a única razão lógica para eu ter que passar por torturas assim.

    Felizmente, uma etapa já foi.

    Explicando melhor, Justin sofreu um acidente. Eu não tive muito tempo de escrever sobre isso antes, porque eu não queria pensar nisso. Foi horrível. Ele estava voltando para sua casa na Califórnia, durante o crepúsculo, quando seu carro foi atingido por outro e acabou rolando um barranco. Em pensar que nada disso teria acontecido se ele não tivesse que voltar exclusivamente para ficar comigo...

    Então, ele ficou internado no hospital durante algumas semanas e eu posso seguramente dizer que foi a pior semana da minha vida até agora. Era terrível. Eu não conseguia comer, dormir, pensar ou mesmo respirar sem sentir uma dor absurda pela incerteza de que ele sairia bem daquela situação, ou ao menos vivo. Eu tinha pânico de que algo desse errado e, por algum motivo, eu não pudesse mais ter o privilégio de olhar para aquele par de olhos perfeitos, nunca mais (aliás, pensar nessa possibilidade ainda dói).

     Mas nós(?) superamos isso, em partes. Eu já estava começando a ficar completamente desacreditada, quando aconteceu. O médico informou que ele havia desenvolvido uma amnésia ou algo assim, mas não importava, porque ele estava bem, acordado e com aquele jeito só dele, o qual eu senti tanta falta.

    Eu admito, foi um choque para mim quando ele perguntou meu nome, completamente inconsciente da minha identidade. Mas não fez tanta diferença, porque eu sabia que era uma consequência de algo que ele não tivera culpa, eu não podia reclamar. Além disso, a visão de seu sorriso ao conversar com seus pais conseguia suprir meu desconforto  depois de tanto tempo sem, seu sorriso parecia fazer uma massagem no meu coração preocupado.

    Só que, mesmo que pareça egoísmo, agora, depois de um tempo relativamente considerável, eu não consigo fingir que está tudo bem. Justin se lembra, a cada dia mais, de um pedaço significativo da sua vida, antes da internação... Com exceção de mim. Eu sei que isso está muito longe de ser culpa dele, mas eu não consigo ignorar isso. Dói e muito, porque todos os meus pensamentos tem girado em torno dele, quando o mesmo nem ao menos me olha nos olhos.

     Eu não sei em quem me apoiar para conseguir passar por isso, porque não é tão fácil quanto parece. Pattie tem sido doce comigo, como sempre, mas eu não posso cobrar dela mais do que é justo, embora ela pareça sempre completamente disposta a ajudar. Além disso, Manuela anda um pouco afastada de mim, eu não sei por que, mas talvez seja bom. Ficar sozinha me dá mais liberdade para desabar de um jeito que ninguém entenderia.

    Aliás, eu não conversei sobre isso com o Lucas ainda, nem com os meus pais. Eu sei que essa situação faria com que eles pedissem para que eu fosse correndo para o Brasil, além de dar-lhes uma impressão ruim da minha relação com o Justin, o que definitivamente não é o que eu quero. E, por mais que eu não esteja me sentindo forte o suficiente para me manter aqui sem nenhuma base que realmente me sustente, não dá. Não é uma coisa pela qual eu possa exigir das pessoas compreensão, mas eu também não aguentaria ninguém dizendo que "vai ficar tudo bem", quando não vai.

     É horrível. Eu não consigo sentir mais meu coração bater, eu juro. Quero dizer, eu sei que isso está acontecendo, porque (infelizmente?) eu ainda estou sobrevivendo, mas eu não tenho sentido nenhuma reação do meu corpo mais, só um dor insuportável que começa no peito, chega à cabeça e deixa todos os meus músculos dormentes. Eu nem sei mais como eu consigo levantar todas as manhãs, porque é como se meu organismo tivesse tentando explodir para não precisar encarar isso. E eu não o culpo!

    Eu não gosto de soar tão depressiva e dramática, mas é realmente o que eu estou sentindo e isso me incomoda. Eu chego a me sentir errada, desconfortável e desagradável por passar pelo que eu estou passando desse jeito, mas, ao mesmo tempo, eu não consigo me desvencilhar dos meus sentimentos embaçados. É como se eu estivesse vivendo dentro de uma prisão de mim mesma.

    Mas eu não tenho o direito de reclamar. Como eu disse, se não fosse por mim, nada disso estaria acontecendo. Apesar de Manuela ter insistido algumas vezes para eu tirar essa ideia da cabeça, eu não posso simplesmente ignorar a verdade. Se não fosse por mim, Justin não precisaria voltar à Califórnia naquela noite, ele teria ficado na segurança de seu quarto de hotel em Los Angeles, não teria ocorrido nenhum acidente e, provavelmente, talvez agora ele estivesse já quase terminando o seu mais novo trabalho. Pensar nisso acaba de me destruir...

    Justin tem buscado não falar comigo nesses últimos tempos, mas se eu, ao menos, conseguisse a oportunidade de ter alguns poucos minutos com ele, com certeza, pediria desculpa, mesmo que ele não soubesse o motivo, eu me desculparia. Às vezes, eu sinto tanto por somente ter entrado em sua vida.

     Mas ele já arranjou um jeito de me tirar dela, aparentemente. Por mais que isso esteja me machucando, eu não tenho o direito de exigir dele as nossas lembranças  apesar de eu mesma estar vivendo delas ultimamente.

    Talvez o que mais me magoa é que, enquanto ele não se lembra de nada, eu me lembro de tudo. Lembro as nossas provocações, o jeito dele de me olhar fazendo com que eu me sentisse a pessoa mais especial do mundo, o modo como ele cuidava de mim quando eu estava mal mesmo que por um motivo banal, o tom maravilhoso da sua voz quando ele cantava para mim, antes de dormir. Lembro as nossas brigas que começavam pelos motivos mais bobos do mundo, o meu ciúme ensaiado da sua ex-namorada, a birra dele com o meu melhor amigo e a nossa teimosia que nos levava aos extremos. Lembro o modo como ele segurava a minha mão, a sensação de ter seus braços ao redor do meu corpo, o jeito como ele me beijava no meio de uma risada, mandando meu fôlego para o espaço, a maneira como a companhia dele era o suficiente para mandar todas as coisas ruins embora. Lembro-me de cada detalhe meio torto e eu gosto de todos eles, mais do que deveria.

    A pior parte é saber que, enquanto ele tenta me evitar a qualquer custo; a cada segundo que se passa, o meu coração sente mais a sua falta..."


    Havia pontos estratégicos da página que se enrugavam, pois tinham involuntariamente entrado em contato com lágrimas  eu supunha. Logo que acabei de ler, notei haver mais locais molhados do que antes e, então, finalmente me dei conta, com muito pesar, de que eu mesmo não havia conseguido me manter indiferente às suas palavras tão magoadas.

    Assim, rapidamente sequei o rosto e tratei de fechar aquele caderno, guardando-o em seu devido lugar. Aquilo que eu viera descobrir, eu não tinha achado, de fato, mas, depois do que eu lera, também não importava mais. Então, apenas coloquei todas as caixas de volta ao seu devido lugar, sem ter mais coragem de revirar nada, completamente absorto em culpa por alguma vez na vida ter feito alguém se sentir do jeito que (Seu nome) relatara.

    Antes de sair, dei uma última olhada no quarto para me certificar de que tinha deixado tudo em seu devido lugar, afinal, a última coisa que eu queria era deixar rastros das minhas atitudes criminosas. A única coisa da qual eu havia me esquecido era a luz do abajur, que eu deixara acessa e que continuava a iluminar, sem muita intensidade, o rosto sereno de (Seu nome).

    Aproximei-me lentamente para desligar a mesma e, antes de fazê-lo, não resisti ao enorme nó que havia se formado em minha garganta. Com suavidade, deslizei meus dedos pelo rosto delicado de (Seu nome) e suspirei, ainda pensativo. Eu havia lido e sentido a visão dela sobre aquela época da minha vida, mas, assim como eu não conseguia ligar as palavras ao acontecimento, eu também não conseguia imaginar uma situação em que ela pudesse ser culpada de algo tão inusitado. Como ela podia se sentir assim, afinal?

    Me abaixei devagar ao seu lado, ainda tocando o seu rosto e encarei sua expressão suave. Não era como se eu sentisse pena do que (Seu nome) tinha passado, não era exatamente isso. Eu ainda não estava confortável com o comportamento dela comigo, mas talvez, depois de ler tudo aquilo, eu não pudesse culpá-la por qualquer coisa. Aquela mulher totalmente inconstante, teimosa e irredutível se tornara uma menina assustada e magoada naquelas páginas. Isso era surreal para mim!

     Me desculpa  sussurrei, antes de beijar sua bochecha rosada.  Eu realmente sinto muito por não lembrar...

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Capítulo 24, anjos (:
Eu não tenho muitos comentários para fazer, porque já tenho que sair aqui. Porém, deixo um aviso muito meigo para vocês: podem comentar nos capítulos, tá, babys? Juro que não me importo, hahahaha. Sério, gente, desculpa se eu pareço carente, mas quando eu vejo o número de visualizações e o número de comentários, eu me sinto tipo quando você está falando com uma amiga(o)/gatinho/qualquer um no facebook ou wpp e a pessoa te ignora completamente. Não é de partir o coração? Pois é...

Mas, enfim, anjos, eu espero que vocês gostem do capítulo, porque ele saiu do fundo do meu coração para a tela do computador/celular de vocês. Por hoje, é só. Tenham uma boa noite!   

16 maio 2014

5. You Make Me Love You - Capítulo 23

Embaçado

Música do capítulo: Give Me Love - Ed Sheeran
Belieber’s POV
    Já passava das sete da noite. Harry havia saído para pegar Louis e a namorada no aeroporto. Um gesto apenas simbólico, pois segundo os mesmos, eles preferiam ficar em um hotel para não atrapalhar a "privacidade do casal"  como se nós soubéssemos o significado de privacidade, tendo papparazzis do lado de fora da nossa casa e Justin Bieber dentro. Era como estar em uma prisão, mas eu fingia não me sentir tão desconfortável, apesar do aspecto claustrofóbico.

    Eu, aliás, estava deitada no chão do meu quarto, rodeada por infinitas almofadas, devorando balas de chocolate e hortelã, enquanto assistia televisão, esperando que Manuela entrasse no cômodo, como tínhamos combinado. Obviamente isso só iria acontecer na manhã seguinte, já que Ryan fizera o favor de ligar para ela bem quando eu estava precisando de companhia. Mas tudo bem, eu não iria bancar a amiga egoísta e possessiva.

    Eu não era tão solitária a esse ponto!

    Em uma forma de me distrair, peguei meu diário sobre a cabeceira da cama e comecei a rabiscar qualquer coisa sobre a última página. Eu sabia que aquilo não seria capaz de reter minha atenção, pois tudo que vinha na minha cabeça resumia-se apenas a um momento bem específico dos últimos dias. Um momento nem tão agradável assim, mas que, por algum motivo, não liberava meus pensamentos para algo mais agradável.

    “Eu não estou querendo parecer intrometido, mas eu acho que você deveria pensar melhor. Talvez adiar um pouco isso, você ainda é tão nova. Por acaso, lembra quantos anos você tem?”

    Sim, Justin, eu me lembro perfeitamente. Lembro tão bem que eu sei que provavelmente você não lembra.

    “Olha, é muito bacana da sua parte se importar, mas tem um problema... Eu não dou a mínima para o que você acha ou deixa de achar sobre o meu casamento ou sobre a minha vida.”

    É o meu casamento, é a minha vida. Eu não vou voltar atrás; eu não quero voltar atrás!

    A caneta em minha mão parecia ir muito bem em seu ofício e algo começava a ganhar forma sobre o papel. Era um desenho meio torto que deveria ser a face de um leão, mas lá para o meio do traço, uma linha desavisada escapou e eu comecei a escrever frases e trechos de músicas no rodapé. Deveriam ser apenas palavras soltas, mas não eram. Elas tinham algo além do usual, mas que chamavam atenção.

    "I even see you in my dreams
     Is it meant to be? Could this be happening to me?"

    "Baby, I hear melodies when your heart beats..."

    "Don't tell me you're my heartbreaker cause my heart is breaking."


   
Uma música mais idiota que a outra. Tenha dó!

    Eu estava prestes a riscar aquela baboseira, quando fiz a genialidade de começar a pensar sobre  sim, eu sou idiota. Era algo tão bobo apenas imaginar que Justin tinha algum efeito sobre mim, mas, no entanto, era o que eu estava supondo. Eu sabia que tinha conseguido ficar anos e anos sem ousar ouvir essas músicas decrépitas dele. Na verdade, eu não sentira sequer essa necessidade de ignorar tudo relacionado a ele, eu ignorava com naturalidade como se ele fosse apenas um capítulo minúsculo do meu livro felizmente enorme.

    Só que, pensando nas suas palavras em relação ao meu casamento – que pareciam se adequar ao pensamento de muitos que observavam o momento de fora , eu não podia simplesmente continuar fingindo que ele não existia. 

    Na verdade, nos últimos dias, a voz dele vem me perseguindo como um serial killer obcecado por sua próxima vítima. Às vezes, chego a pensar que estou desenvolvendo algum tipo sério de esquizofrenia ou algo parecido, porque eu posso escutá-lo a cada pausa da minha respiração, a cada vez que meus olhos piscam, a cada mísero momento em que eu exerço meu direito de existir. É como se ele estivesse entrando em minha casa, meu quarto, minhas coisas, meu corpo, minha mente...

    A porta do quarto se abriu devagar.

     Hã... Oi! Eu bati na porta, mas como você não disse nada, eu achei que sequer estivesse aqui. Desculpe-me! Atrapalho?

    Quem mais poderia ser?

    Eu poderia ser sincera e dizer a verdade, que eu estava, de fato, muito ocupada e, sendo assim, sua presença estaria me atrapalhando, mas era óbvio que eu não faria isso. Eu não era esperta o bastante para afastar pensamentos indesejáveis da minha cabeça ao mesmo tempo em que deveria dar uma resposta decente. Foi por esse motivo que deixei escapar um...

     Não, não atrapalha! Pode entrar, Justin!

    Seguindo as minhas instruções, ele adentrou o quarto, fechando a porta logo atrás de si. Ironicamente senti um arrepio me descer pela espinha. Eu odiava a ideia de ter que ficar sozinha com ele, sem testemunhas, num ambiente fechado onde não dava para ouvir meus gritos. Ah, meu Deus, por que ele sente a necessidade de andar em minha direção? Quero dizer... Nós poderíamos apenas ter uma conversa a distância, a uns dez quilômetros, não?

     Hã... Você pode se sentar, se quiser.  falei, educada, quando Justin finalmente chegou até mim e ficou me encarando de pé.
     Obrigado!

    Ele não pareceu tão confortável assim com a minha boa educação, pois fitou o chão disfarçadamente com uma expressão reprimida de desgosto que mais parecia que eu o tinha convidado a se sentar no corpo de um morto. Talvez Justin estivesse esperando que eu estendesse um tapete vermelho para a sua chegada e lhe desse um trono para se acomodar. Engraçado é que não havia qualquer razão para que ele pensasse dessa maneira, levando em consideração os últimos dias.

     Eu precisava falar com você!  começou ele, acomodando-se sobre uma das almofadas.  Está tudo bem? 
     Na medida do possível, sim. E com você?  tentei ligar o modo automático e apenas ser cordialmente educada, sem precisar pensar muito; eu sempre me enrolava por pensar demais.
     É, eu acho que sim. 

     Justin suspirou e se calou, fitando o chão como se nem fosse ele quem tivesse vindo puxar assunto comigo. Obviamente era uma tentativa de me confundir, como ele costumava fazer. Eu só não entendia o porquê; a única coisa da qual eu tinha certeza era que esse silêncio era cortante, como milhares de pedacinhos de vidro entrando em meu corpo. Era desconfortável e impróprio. Se uma pessoa vai me procurar para ficar calada, então, não me procure. Eu gosto do meu silêncio, mas não gosto de ter que reparti-lo com outra pessoa  uma em especial.

     (Seu nome)...

    Assustei-me quando ele voltou a chamar meu nome com tanta veemência, voltando-se para mim, como se tivesse muita urgência em se livrar de seus pensamentos. Mas, então, quando eu me virei para ele, ainda chocada, o mesmo se calou. Por um instante inteiro, meus olhos se encontraram com os deles e eu senti mais uma vez toda a pressão de ter aqueles olhar estupidamente envolvente sobre mim. Como podia ser tão quente? Como podia fazer com que eu me sentisse tão boba?

    Justin desviou o olhar mais rápido do que eu fora capaz e olhou para as próprias mãos, onde enlaçava os dedos devagar. Esse garoto ainda iria acabar de me deixando louca, porque eu simplesmente não conseguia identificar a intenção por trás de suas ações malucas. Eu só queria, por um período mesmo que curto, ter a certeza de que havia um propósito decente por trás de toda aquela sua estranheza.

      (Seu nome)...  ele retomou a palavra, de forma mais contida  Eu não aguento mais ficar nesse clima ruim com você. A gente só briga e fica irritado um com o outro o tempo todo e, bom, eu estou sobre o teto da sua casa, não deveria ficar cultivando esse tipo de relação. Eu não quero mais te deixar chateada, eu quero que isso, nós dois, dê certo!

    "Nós dois". Devo rir?

     É, eu concordo com você!  as palavras dele me chamaram atenção suficiente para que eu me forçasse a refletir um pouco, antes de me pronunciar sobre  Eu também não gosto de ficar brigando com as pessoas e eu realmente apoio o que você falou, mas isso não me dá garantia de que vai dar certo. O que nós podemos fazer em relação a isso?
     Eu não sei, mas estou aberto a sugestões. Há algo que eu faça que te desagrade de alguma forma?

    Respirar.

     Bom... Para ser sincera com você, há uma coisa, sim.  só uma?  Eu não gosto que você invada a minha privacidade, Justin. Você está aqui e isso é realmente muito legal, você é uma boa pessoa, mas essa ainda é a minha casa, então, eu preciso ter certeza de que eu vou ter o meu espaço!

     Me senti ligeiramente orgulhosa de mim ao reduzir todos os detalhes de Justin que me irritavam a apenas um e, mais ainda, ao conseguir traduzi-lo de forma tão singela e contida, quando a minha real vontade era de berrar para que ele me esquecesse, me deixasse sozinha e sumisse da minha vida.

      Tudo bem, eu peço desculpas se em algum momento eu pareci invasivo, mas...

    "Em algum momento"? Que tal todos?

     Realmente não era a minha intenção, (Seu nome)!  Justin fez um biquinho, parecendo pensativo  A única coisa que eu estou tentando fazer durante esse tempo todo é me aproximar de você. Eu só quero conhecer você de verdade, não dessa forma superficial, será que eu não posso?
     Não, não pode!  o meu lado impulsivo falou mais alto.
     Por que não?  alguns tons de indignação tingiram sua voz.

    Porque você jogou fora todas as chances que eu te dei de me conhecer mais uma vez. Agora eu conheço a mim mesma e isso basta completamente.

    Fechei a cara de frustração, encarando o vazio. Eu odiava saber que não era determinada o bastante para destilar o pouco de veneno que me restava e cutucar aquela ferida. Aliás, era justamente por isso que eu não tinha coragem, porque a ferida era exclusivamente minha. Era algo que havia me machucado, enquanto Justin sequer tinha ciência disso. Então, por que eu deveria humilhar a mim mesma, fazendo parecer que eu me importava?

     Você está chateada?  Justin pareceu receoso ao notar que eu não responderia.
     Não.

    E retornamos ao silêncio.

    Não me dei ao trabalho de virar-me para ele para responder, apenas permaneci com meus pensamentos embaralhados. Era quase como se Justin não estivesse ali, mas estava. As células do meu corpo ainda estavam em estado de alerta, o que, como era usual, denunciava sua presença, sua proximidade.

     Então...  havíamos chegado ao estágio em que ele começava a puxar assuntos aleatoriamente  O que é isso?

    Justin aproximou-se lentamente de mim, esticando o pescoço para visualizar o caderno ainda aberto em meu colo. O caderno todo decorado e rabiscado. Minha pequena bagunça particular.

    Recuei imediatamente, levantando-me e fechando o objeto em minhas mãos em um único segundo. Com passos duros, me afastei de Justin, chegando próxima à mesa de cabeceira, na qual eu sempre guardava o dito caderno. Eu estava me sentindo meio nervosa por ter meu espaço mais íntimo invadida assim  e, mais do que isso, pela pergunta ter sido feita justamente por aquele que tinha algumas quotes rabiscada naquelas páginas  por isso acabei levando um tempo bem mais do que necessário nessas ações.

     Nada. Absolutamente nada!  respondi, áspera.
     É tipo um diário?  insistiu, totalmente alheio ao fato de que ele já me incomodara uma vez, sendo contrário a algo que havíamos acabado de combinar.
     Justin, será que você não consegue entender que isso não é da sua conta?  berrei, já completamente impaciente e alterada  Isso daqui não é nada que possa vir a te interessar, ok?
     Ah, e agora você também vai negar que está irritada?  pressionou, levantando-se com a mesma vivacidade com a que eu fizera.

    Respirei fundo e contei até dez, tentando ignorar toda a explosão de fúria que se expandia dentro de mim, mas, sinceramente, parecia impossível. Eu já quase conseguia sentir a sensação de ter minhas mãos socando seu lindo rosto até que ele ficasse completamente amassado e a boca incapaz de sair por aí, falando asneiras. Embora eu não costumasse ser tão obsessivamente violenta, não havia nada além disso quando se tratava de Justin. Ele era insuportável. Eu já tinha aceitado isso!

     Claro que vou negar, porque eu não estou nem um pouco irritada, ok?  continuei, exaltando-me  Você está vendo alguém irritada aqui, por acaso? Porque, sinto muito, eu não vejo ninguém!
     Realmente, não há ninguém irritada aqui.  constatou, caminhando em minha direção  Você não está irritada, está furiosa, sem causa aparente e, me desculpa, mas só sendo completamente cega para não enxergar isso.
     Eu não estou irritada!  insisti, fazendo uma longa pausa entre cada palavra.
     É claro que você está, (Seu nome).
     Eu não estou.
     Está sim!
     Justin, será que você pode me deixar em paz? Pelo menos um segundo na sua vida, quer parar de fingir que saber de tudo? Porque, olha, você não sabe!  eu estava quase entrando em erupção, mas aquela ainda era a minha forma contida  Você não consegue dizer se as pessoas estão irritadas ou não, chateadas ou não, drogadas ou não. E sabe por quê? Por que não é algo que lhe diz respeito. Então, o universo agradeceria se você parasse de meter esse seu nariz na vida dos outros. Isso sufoca as pessoas!

    Respirei fundo, tentando recuperar o fôlego que eu havia mandado para o espaço com o meu momento de explosão. Ao fazê-lo, notei que Justin me encarava de uma forma incrédula e quase divertida, como se tudo o que eu havia dito fosse uma enorme piada, o que apenas serviu para me deixar com ainda mais nojo da sua presença naquele cômodo. Porém havia mais. Seus olhos também traziam alguns traços de impaciência, como se minha teimosia não fosse tão fácil de lidar. Quanto a isso, eu só podia lamentar, porque eu não ia mesmo admitir que estava irritada.

    Eu não estava irritada!

    Eu apenas queria aproveitar aquela proximidade absurda em que Justin se encontrava de mim e fazer com que a minha mão estapeasse aquele rosto algumas centenas de milhares de vezes, até que ele saísse correndo até o Canadá e ficasse por lá. Mas isso não é estar irritada!

     Sabe o que sufoca as pessoas, (Seu nome)? Essa sua teimosia ridícula, esse seu jeito infantil de não conseguir admitir nada, de bater o pé e ficar emburrada quando você não está certa!  Justin me assustou um pouco ao parecer se impor finalmente e me confrontar  Eu não sei se você é sonsa ou se você é maluca assim mesmo, mas você mente para todo mundo e acredita na mentira que você está dizendo. (Seu nome), claramente, você está irritada comigo e quer saber? Eu já desisti de entender o porquê. 
    E faz muito bem, considerando que eu não estou irritada.  abaixei o tom de voz, por fim.
    Ah, é? E que tal eu te provar o contrário? 
    Eu adoraria te ver ten... 

    Antes que eu pudesse terminar minha frase intimidadora, Justin me puxou para perto e pôs seus lábios nos meus. Urgentemente, ele me arrancou um beijo e, por mais que os músculos do meu corpo tentassem resistir a isso, essa tentativa não durou mais do que dois segundos, porque foi exatamente esse o tempo necessário para que eu perdesse o controle. Eu podia sentir, distintamente, o sangue correndo por todas as minhas veias mais veloz do que eu achava ser capaz e, ainda assim, não conseguia fazer nada.

    Enquanto as mãos de Justin se apertavam em minha cintura e meus braços permaneciam duros em seu peitoral, aquele beijo meio inesperado ia tomando proporções bem maiores. Era rápido, quente, feroz e, acima de tudo, com vontade, como se nós dois tivéssemos tentando suprir anos sem um mínimo contato físico, como se isso tivesse feito uma falta enorme em nossas vidas.

    Mas não. Eu não sentia saudades disso. Saudades dele. Saudades do passado. Não! Aquilo não me fazia falta...

    Eu estava tentando organizar os pensamentos dentro da minha cabeça para conseguir acabar com aquilo, mas nada era claro; parecia que havia um nó dentro de mim e eu não conseguia desatar, não enquanto estava ali. Porém, felizmente, alguns poucos segundos depois, esse fluxo embaralhado foi desacelerando e eu fiquei feliz por estar assumindo o controle novamente. Só que era só uma ilusão.

     E agora?  Justin se afastara milimetricamente de mim, fazendo com que seus lábios apenas tangenciassem os meus  Já está irritada?

    Pensei em como a sensação de ter seus lábios só próximos aos meus fazia com que meu interior ardesse e como seu hálito quase era capaz de gelar a minha alma. Mas, em contrapartida, pensei também em todas as coisas que eu poderia lhe dizer naquele momento  naquele momento em que eu sequer abrira os olhos para encarar a realidade de estar diante dele  e nenhuma delas seriam boas, apenas ásperas e grossas. Só que, ainda assim, eu não fiz nada. Ou melhor, fiz...

    O beijo que se seguiu, um segundo depois, não foi nem de longe forçado e eu nem poderia fingir que sim.

    Levando minhas mãos até sua nuca e deslizando meus dedos por seu cabelo, eu deixei que Justin suprisse qualquer micro espaço que ainda pudesse existir entre nós e engatasse um beijo ainda melhor que o primeiro – ou, pelo menos, era o que eu esperava. Mas quando seu toque tornou-se suave em meu corpo; quando sua língua estava em perfeita sincronia com a minha; quando sua boca ficou mais doce do que a minha sobremesa preferida; quando seu perfume fez com que eu quisesse ficar em seus braços por um tempo indeterminado, foi quando eu notei que as coisas estavam fugindo do que poderia ser aceitável. Foi o momento em que eu notei em que era bem melhor do que eu pensava.

    E, ao mesmo tempo, pior também.

    Enquanto tudo aquilo ia acontecendo externamente, eu não conseguia ignorar as reações que aconteciam de forma interna. Não conseguia ignorar, mas também não conseguia entender. Não havia motivo para meu coração estar inchando ao mesmo tempo em que algo o massacrava de forma cruel e impiedosa. Era uma mistura de bom e mau, de frio e quente, de claro e escuro. Era uma confusão que doía, mas não que me fazia querer parar.

    Eu estava tentando controlar tudo isso dentro de mim, mas era pedir demais para mim e eu não consegui impedir que extrapolasse um pouco. Tornando o momento mais molhado do que o necessário, uma, duas ou muitas lágrimas começaram a deslizar devagar pelo meu rosto, encerrando e salgando o doce da sensação de beijar aquele homem misturada à consciência de ser tão errado.

    Como dizem, há males que vem para bem!

     (Seu nome)...  foi a primeira palavra dita por ele, após finalmente colocarmos um ponto final naquilo  (Seu nome), o que foi?

    Eu ainda não tinha criado coragem para abrir os olhos e encarar aquela linda criatura, mas, quando o fiz, me arrependi amargamente. Justin me fitava com uma expressão de preocupação tão grande, que eu não consegui  nem mesmo me esforçando ao máximo  sentir raiva dele. Nem por um milésimo de segundo. Nada. Eu apenas senti raiva de mim, por não conseguir sentir nada que fosse possível definir.

     Justin, eu...  minhas palavras eram atropeladas por soluços de um choro que eu já não conseguia conter.

    Meus esforços para terminar uma única sentença inteligível em meio ao meu prato patético foram inúteis, porque, em um instante, minha preocupação tornou-se outra. Desviando sua atenção de mim, Justin gemeu baixinho, levando sua mão até a lateral da testa e correndo para se sentar na cama. Quase me engasguei na tentativa de tentar segurar o choro, mas não importava. Aliás, naquele momento, nada importava, além da reação estranha de Justin a algo que eu não entendia.

     Hã... Está tudo bem?  indaguei, sentando-me próxima demais dele, involuntariamente.
     Não.  ele miou, como uma criança agonizando  Minha cabeça... Está...
     Calma, calma! Eu estou aqui...

    Eu não sabia se estava sofrendo de algum distúrbio emocional sério ou algo do tipo, mas meus sentimentos furiosos de minutos atrás pareciam um enorme vazio na situação em que eu estava. Assim, eu não consegui fazer outra coisa, se não abraçar Justin, fazendo com que ele repousasse a cabeça em meu ombro. Eu não sabia o que estava acontecendo, mas ele realmente parecia transtornado, o que fez com que eu não hesitasse em deslizar meus dedos por seu cabelo, na tentativa de fazê-lo relaxar.

    A respiração dele estava irregular e ele, talvez sem perceber, apertava fortemente meu braço com uma das mãos. Não tive coragem de reclamar, apenas continuei em silêncio, com a certeza de que se voltasse a abrir a boca, todas as lágrimas voltariam, me fazendo ficar mais uma vez em uma situação embaraçosa. Eu dispensava isso.

    Passaram-se apenas alguns minutos, até as coisas voltarem a ficar estranhas novamente. Eu já estava totalmente distraída apenas reparando que a respiração dele voltara a ficar normal, quando senti Justin inspirar fortemente o meu perfume  embora eu não usasse nenhum  e, antes que eu pudesse dizer algo, ele apenas se afastou de mim. Sua expressão não demonstrava muito clareza, o que me fez hesitar em perguntar.

    Após respirar profundamente, Justin voltou a me fitar com uma expressão incrédula, me fazendo ficar dividida entre achar tudo muito estranho e tentar buscar explicações ou me perguntar internamente porque os olhos dele me faziam ter a sensação de que ele podia ler todos os meus pensamentos com a maior facilidade do mundo.

     É você... Em um vestido vermelho!  sussurrou, quase como se estivesse contando um segredo  Eu sei que sim. Não é só minha imaginação!
     O quê? Do que você está falando?  perguntei, duvidando de suas capacidades mentais.
     Eu me lembro...

    Gelei. Será possível continuar vivendo quando seu coração simplesmente para de bombear sangue para o resto do corpo e o cérebro não consegue comandar nem esta, nem qualquer outra ação teoricamente simples?

     Sobre o quê?
     Eu... Eu não sei bem, mas era Natal. Você estava com um vestido vermelho e... Você estava linda.  ele suspirou, antes de parecer se esforçar ainda mais para captar algo em sua mente  Eu... Acho que te dei alguma coisa, mas eu não... Por que você não me ajuda com o resto? Quero dizer, isso quer dizer alguma coisa, não é?

    “Eu tenho que ser legal e fingir que não sei que você planejou isso?”, perguntei, sorrindo.
    “Eu? Planejar uma coisa dessas? Eu nunca faria isso. É só coincidência que esse visco esteja aqui, sendo que fui que ajudei com a decoração externa. E, coincidentemente, eu fiz você vim até aqui agora...”, disse Justin, dissimulando uma expressão de surpresa. “Bom, você sabe o que deve acontecer agora, não é?”
    “Sei... Mas você sabe que não costumamos fazer muito isso no Brasil, não é?”, argumentei, enquanto me espremia contra a árvore.
    “Nós não estamos no Brasil...”, ele sussurrou.

    Justin mantinha sua mão acariciando meu rosto, enquanto levava a outra até a minha cintura. Eu estava bem mais nervosa do que o normal. O beijo embaixo do visco era uma tradição – acho – e eu não sabia se era durona o suficiente para quebrar tradições.

    “Me avise se quiser que eu pare...”

    Engole o choro, (Seu nome)! Engole o choro, agora!

     Não... Isso não... Não significa nada para mim! Me desculpa, Justin!
     Você tem certeza?  perguntou, cheio de falsas esperanças.
     Claro!  menti, com a cara mais lavada do mundo  E, eu sinto muito, mas eu realmente estou precisando ficar sozinha agora, se você não se importar...

    Eu mal tinha acabado de falar, mas já havia me levantado e puxava delicadamente Justin para que ele fizesse o mesmo. Aproveitando que seu momento de tensão já havia acabado e ele parecia inteiramente contido, tentei me desfazer da minha preocupação, do meu lado cuidadoso e principalmente da culpa que parecia manchar cada milímetro da minha reduzida dignidade, expulsando-o do meu quarto da melhor forma possível.

     Espera! Mas eu...  ele tentou falar, enquanto nos aproximávamos da porta.
     Justin, não!  falei, em um claro tom de súplica  Não é o momento. Está tarde, eu preciso dormir e acho que você também. Nós conversamos amanhã, tudo bem?

    Ele não se opôs ao meu pedido, talvez percebendo que eu realmente não estava mais para ter qualquer tipo de conversa naquela noite. Porém, quando já estava começando a ficar contente por ter conseguido resolver pelo menos essa etapa, Justin parou diante de mim, com a porta já aberta. Ele não precisou dizer muito, mas o modo como seus olhos se fixavam nos meus já falava por si só. Eles imploravam desesperadamente a verdade.

    Mas o que era a verdade? Além disso, àquela altura do campeonato, o que importaria?

     Por favor...  miei, implorando para que ele parasse.

    Justin suspirou, por fim, admitindo que estava encerrando por ora. Assim, ele tocou a maçaneta já se preparando para sair e fechar a porta atrás de si, mas não sem antes repousar seus lábios suavemente sobre minha bochecha, voltando a fazer o meu rosto arder de forma imperceptível. E, então, finalmente, fiquei sozinha.

    E eu esperei.

    Um minuto. Dois. Era mais do que eu podia aguentar.

    Devagar, sentei no chão, encostada a porta e desabei. Mordendo meu próprio braço, tentando permanecer silenciosa, chorei como não fazia há anos e, a cada mísera lágrima, uma dor estonteante se agravava, como se meu coração estivesse desidratando de forma gradativa e insuportável. Eu tentei buscar em meus pensamentos alguma palavra que pudesse traduzir aquilo, mas, nada na minha vida, tivera aquela intensidade até então.

    Pedi internamente mil vezes para que aquilo parasse, para que as lágrimas secassem, para que acabasse as pilhas do meu coração e eu simplesmente não precisasse sentir mais nada, mas foi inútil, porque o cheiro do Justin ainda estava em mim, massacrando qualquer vestígio de sanidade que ainda podia me restar. E, apesar disso, eu só não conseguia entender o motivo daquela auto-tortura, se aquele momento não tinha significado nada...

    Não podia significar mais nada. Não importava o que ele fizesse, não importava o que ele lembrasse, não importava o meu vestido vermelho, o ursinho de pelúcia ou o beijo embaixo do visco. Não mudaria nada!

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Então, é isso, minhas gatas!
Por hoje, é só! Eu não tenho muitas observações a fazer, mas espero que vocês gostem desse capítulo, embora ele pareça meio desleixado, meio desconexo, meio sei lá hahahahaha Muitas críticas, embora eu pretendia que fosse para lacrar. Bom, deixa para uma próxima vez.
Eu não tenho muito tempo agora, lindas, mas eu queria agradecer a todas vocês que não abandonaram o blog, quando eu fiquei meio ausente (realmente, meninas, é muita coisa para eu dar conta!); agradecer aquelas que amavelmente pediam por mais capítulos; e, principalmente, agradecer a todas vocês que acessaram o blog nesse meio tempo, ver o gráfico de visualizações crescendo, apesar de tudo, me incentivou muito mais a correr para cá o mais rápido possível, assim que tivesse tempo. Sério, muito obrigada por tudo!

 Lindas, por hoje, eu fico por aqui, porque, como eu disse, estou apressada. Ao longo da semana, pretendo postar mais regularmente e atualizar vocês sobre o que anda acontecendo comigo ultimamente e o motivo específico por trás da demora. Mas até lá, fique bem!
   Eu amo vocês e espero que gostem! (:

5. You Make Me Love You - Capítulo 22

Reconsiderar?

Belieber's POV
    Já era tarde quando acordei mais uma vez com um dos membros do Harry esmagando o meu pobre corpo. Com a mesma dificuldade já rotineira, me levantei, esforçando-me para não acordá-lo, e segui até o banheiro, onde tomei um banho rápido, prendi o cabelo e livrei minha pobre bexiga de uma explosão que iria acontecer em breve, caso eu não tentasse impedir de alguma forma.

    Eu estava um tanto quanto exausta por conta da noite passada, afinal, Harry fizera o favor de deixar trocentos quilos de culpa em mim. Definitivamente eu não era tão boa assim para resistir àquele magrelo e, mesmo que tenhamos ficado só nas preliminares, eu estava me sentindo extremamente fraca por não ser tão compromissada com a minha palavra.

    Voltando ao meu equilíbrio interno, verifiquei se não havia muita coisa fora do lugar no cômodo, coloquei uma roupa cheirosa e fresquinha, abandonei o quarto e segui até o primeiro andar pelas escadas.

    Eu estava esperando encontrar alguma bagunça, na sala, criada na noite anterior enquanto eu me matava de tanto dançar repleta de frustração, mas, na verdade, tudo estava na mais perfeita ordem. A casa parecia brilhar ainda mais, enquanto uma melodia agradável preenchia o ambiente. Justin estava sentado no sofá, ao lado de Manuela, dedilhando suavemente as cordas de seu violão.

     Boa tarde?  sugeri, meio indecisa em relação ao horário em que nos encontrávamos.
     Oi!  sorriu Manuela, virando-se para mim.
     Oi.  Justin não parece sequer se mover ao me responder completamente frio.

    Eu teria estranhado aquela reação se fosse pensar nos últimos dias no qual ele fizera coisas desnecessárias para me impressionar, mas provavelmente ele ainda estava chateado pela discussão da tarde anterior. Relevei o fato de que aquilo era totalmente desconcertante  pois ele também não havia sido muito gentil também  e continuei meu diálogo com Manuela, fingindo não perceber o comportamento gelado de seu amigo.

     Então, que tipo de empregada por um dia você contratou, hein, Manu?  ri, me referindo a arrumação impecável de todo o primeiro andar.
     Gostou?  ela pareceu satisfeita com a minha percepção de seus serviços  Eu decidi ser um pouco útil por aqui e te ajudar... Então, enquanto você dormia, eu arrumei um pouco as coisas com a ajuda do Justin e fiz o almoço! Sem piadinhas sobre as minhas habilidades culinárias, ok?
     Tudo bem, tudo bem. Considerando a atual situação, vou guardar todos os comentários venenosos para mim e ir comer alguma coisa.
     Espere, eu vou com você.  a morena se levantou em um pulo do sofá, se colocando ao meu lado  Justin, não pare de tocar, ok? Eu ainda posso te escutar da cozinha. Além disso, eu volto rapidinho.

    Manuela me acompanhou até a cozinha como se aquela casa a pertencesse e eu quem fosse a visita. No caminho, parei para pegar o telefone, que se encontrava esquecido sobre uma mesinha de canto muito bem arrumada, e aproveitei a interrupção para lançar mais um breve olhar sobre Justin e tentar entender até onde ia a raivinha infantil dele. Como o mesmo sequer percebeu que eu o encarava de forma nada discreta, imaginei que a resposta para a minha pergunta ainda não tinha uma definição.

     Então, o que aconteceu, hein? - perguntou Manuela, assim que passamos pela porta da cozinha.
     Do que você está falando? - questionei, ainda distraída, já planejando a pequena birra que faria em relação a ele.
     Sobre o que aconteceu ontem, entre você e o Justin, na academia...  continuou, enquanto ia até um dos armários da cozinha para pegar alguns talheres e pratos.  Ele me contou hoje de manhã.
      Eu nem fico mais surpresa...  suspirei  Fofoqueiro do jeito que ele é, era de se esperar mesmo. Mas aposto que, do jeito que aquela criança se comporta, ele não deve ter falado uma só palavra sobre o quanto ele também não foi nem um pouco agradável comigo, não é?
     Na verdade, (Seu nome)  prosseguiu ela, pronta para defender o coitadinho  ele não entrou muito em detalhes comigo, disse apenas que vocês estavam dançando juntos e, então, você voltou a ficar inacessível e, como sempre acontece quando vocês estão juntos, ambos se estressaram e nada acabou bem como deveria.
     Pela primeira vez, eu concordo com ele. Não consigo ficar perto daquele ser humano mantendo totalmente a calma. É impossível!
     Entendo, mas... Então, vocês ficaram dançando sozinhos lá em cima, é?
     Aham.  concordei, sem pensar muito, encarando o visor do telefone  Foi bom, na verdade.
     Hum, você diria que foi até bom demais?  provocou a morena, dando ênfase às palavras erradas.
     Manuela, não viaja. Em primeiro lugar, o verbo foi conjugado no passado perfeito, porque Justin consegue estragar tudo por completo. E, em segundo lugar, eu disse que foi bom, não que foi especial. Eu danço com pessoas diferentes quase todos os dias e ele foi apenas mais uma dessas. Não significa nada!
     (Seu nome), você adora tornar tudo mais complexo do que realmente é.  ela fez um biquinho, indo até as panelas que ainda estavam sobre o fogão  Isso me frustra às vezes, sabia?
     Eu digo o mesmo, Manuela...  ri, apertando finalmente o botão para discar do telefone  Então, você pode facilitar as coisas para mim, pelo menos uma vez, e montar um prato para a sua melhor amiga que precisa muito usar o telefone?
     E eu tenho opção? 

    Sorri em resposta e me afastei da mesma, andando até a sala de jantar, onde sabia que teria mais privacidade. Embora não fosse algo absurdo ou íntimo, nada me deixava mais sem graça do que alguém escutando minhas conversas desse jeito. Principalmente sendo com aquela pessoa...

    Foram necessário milhares de toques para finalmente eu conseguir notar que fora atendida e, assim que isso aconteceu, me desmontei devagar. Eu estava completamente ansiosa para ouvir aquele som doce de novo. Mesmo sabendo que o poderia fazer dali a alguns dias, eu não estava aguentando mais esperar. A rotina bagunçada às vezes quebrava um pouco o contato, mas não com ele...

     Alô?  a voz do outro lado da linha soava distraída.
     Oi!  sorri, imediatamente radiante  Então, você ainda se lembra de mim ou eu devo me apresentar formalmente?
     (Seu nome)?  aquele tom deixava claro que ele estava sorrindo, o que me fez sorrir também  A futura noiva mais linda do mundo, correto?
     Depende do ponto de vista...
     Claro que é. Infelizmente não será o casamento mais bonito do mundo, porque o noivo não chega nem perto do seu nível de beleza. Se você tivesse casado comigo talvez não corresse esse risco...
     Sua humildade toca a minha alma, Cory!  ironizei  Mas, talvez, se você tivesse me pedido, eu estaria no altar com outra pessoa daqui a alguns dias. Está vendo? A culpa é toda sua!

    Uma das coisas que eu mais gostava em Cory era que ele não mudara comigo, nunca. Ele era o mesmo bobo, galanteador e pseudo metido de sempre e isso me encantava. Aquele garoto havia me conquistado de muitas maneiras diferentes e era exatamente por tal motivo que eu propusera que ele fosse um dos padrinhos do meu casamento. Eu não poderia passar um dos dias mais importantes da minha vida sem o brilho daqueles olhos estonteantemente negros.

     Isso é sério?  indagou  Porque, se o caso for esse, ainda dá tempo de fugirmos antes de você sequer chegar perto de se casar, de verdade.
     Isso é uma opção?  retruquei.
     Eu não sei, você está considerando?

     Ironicamente, eu parei para pensar.

     Não, eu obviamente não tinha dúvidas sobre o Harry, mas, quando Cory disse isso, não pude deixar de procurar em todo o meu banco de dados mental por alguém que fosse capaz de fazer com que eu deixasse aquele pedaço de palmito de lado. Sinceramente, eu não busquei com tanta força assim por puro anseio do que estaria por vir e acabei por desvirtuar minhas respostas para personagens literários.

    Eu tinha uma queda inegável por Romeu do clássico "Romeu e Julieta" e sempre fora apaixonada por um tal de Percy Jackson. Embora eu amasse Harry, não havia competição ali, afinal, Romeu tinha seu nome no título de uma das maiores histórias de amor da eternidade e Percy era um semideus. Semideus!

     Então...  eu tinha certeza de que tinha deixado a conversa de lado por um minuto desnecessário  Você está bem? 
     Sim, eu suponho.  no momento em que sua voz se tornou um pouquinho distante, me senti culpada. Era claro que meu silêncio o havia chateado.
     Está se cuidando direitinho?
     Na medida do possível, sim.
     Eu não gosto dessas palavras, sabia, senhor Cory?  frisei, enfatizando cada palavra.
     Eu não disse nada demais, oras. Você é quem entende tudo meio torto, (Seu nome)!  ele riu de forma contida.
     Ah, é, Cory?  falei, com a voz dopada de ultraje e pronta para cutucar uma ferida boba  Tudo bem, vamos falar de quem "entende as coisas meio tortas" por aqui. Posso saber como andam suas namoradas, moço?
     Bom, é um assunto complicado!
     E a Kate?
     Bem... Ela... Er... – ele enrolou um pouco, antes de parecer se recompor – (Seu nome), você sabe que nós não estávamos mesmo namorando.
     Eu sei, mas será que ela sabia? – continuei.
     Se não sabia, deveria ter se informado melhor. Todo mundo sabe que eu não namoro...
     Aliás, eu não sei o porquê disso, sabia? Você sempre me disse que era um homem para casar e com essa cara de bom moço, quase acreditei que você gostasse de namorar, de estar em um relacionamento sério...
     E eu gosto mesmo, oras!
     Então, por que não parece?

    A ligação ficou muda do outro lado da linha e eu esperei. Esperei, completamente arrependida de tudo que havia dito. Será que eu havia passado dos limites? Será que eu estava me tornando tão boba e inconsequente a ponto de soltar brincadeiras que magoassem as pessoas? Mas... Ele estava brincando também, no início, então, por que minhas palavras podiam parecer são ásperas, se não era sério? Será que era presunção minha me meter na vida amorosa dos outros quando estava prestes a casar?

    Argh!

   Eu adorava o Cory, mas odiava o fato de que, com ele, eu nunca sabia de nada ao certo.
Ele era tão fechado, tão eu, que me irritava. Seria tudo tão mais fácil se ele sempre me dissesse o que pensava, dissesse o que incomodava e onde estava doendo, quando acontecia, mas não. Parecia muito mais confortável ficar quieto e assistir enquanto eu me remoía de culpa e preocupação.  Sério, se eu, no máximo do meu lado introspectivo, provoco isso nas pessoas, espero que me coloquem em uma palmatória durante horas para eu aprender a ser mais sensata.

     Então, essa sua ligação tem algum motivo específico?  desconversou, por fim.
     Mais ou menos. Eu estava com saudades de você.  não retornei ao assunto, sentindo que já fora um pouco invasiva demais  Mesmo sabendo que eu te verei daqui a alguns dias, eu decidi já ir me antecipando um pouco em alguns aspectos. Eu já quase nem lembrava direito o timbre da sua voz...
     Está vendo? Essa é a vantagem de ter uma irmã que possui vários dos seus CDs...  acrescentou ele, me deixando levemente corada do outro lado da linha.  Eu posso ouvir sua voz a hora que eu quiser!
     Tudo bem, eu estou em desvantagem aqui!  resmunguei  Mas eu ainda vou te ver daqui a alguns dias, não é? Você tem um compromisso comigo!
     Fica tranquila! Estarei aí em poucos dias.  avisou ele, feliz por me dar aquela notícia, mas murchando logo depois  Ou nem tão poucos assim. Eu devo chegar aí só na manhã do dia do casamento. É um problema para você?
     Hã... Não, claro que não. Eu já disse que vocês podem fazer o que quiserem, contanto que estejam lá na hora. Mas  chegar tão em cima da hora não vai te fazer ter problemas para se arrumar ou coisas assim?
     (Seu nome), a noiva é você!

    Ri, sem graça, sentindo novamente aquela cosquinha engraçada na barriga. Talvez não fosse tão fácil de explicar, mas sempre que eu me imaginava vestida de noiva era como se eu tivesse tomado muito rápido alguma bebida com gás e, então, as bolhinhas subissem depressa, tangenciando a parede do meu estômago. Eu quase me sufocava para aplacar a vontade de dar risada.

     Tudo bem, eu já entendi!  suspirei, após respirar fundo  Então, acho que te vejo daqui a alguns dias, certo?
     Claro! Mal posso esperar...  concordou, parecendo tão ansioso quanto eu  Algo me diz que você vestida de noiva será uma das visões mais encantadoras que eu terei em toda a minha vida!
     Vai ter que esperar para ver!
     É o que eu farei. Bom, (Seu nome), eu estou morrendo de saudades de você, mas acho que tenho que desligar agora. Sinto muito!
     É, eu também. – afirmei, insatisfeita.

   A consciência de que ele desligaria em poucos segundos apertou meu coração devagar e eu precisei segurar a respiração para sobrepor a preocupação. Cory não podia nem desconfiar de todo o meu alarde interno em relação a sua saúde  não que eu o ligasse só para saber se ele estava saudável, longe disso, mas querer estar bem informada não era um crime , porque eu sabia que isso o machucava. Mas me machucava também não poder colocá-lo numa mala e levá-lo sempre comigo, para poder cuidar dele quando necessário.

     Mal posso esperar para compensamos esse tempo perdido. – arquejei Eu te amo, ok? E estarei te esperando. Até logo!
     Te amo também, cantorazinha pop! Te vejo logo...

    “Cantorazinha pop”. Bobão!

    Desliguei o telefone, sentindo a animação minguar. Falar com o Cory me fazia tão bem que, logo após ter que parar, as coisas voltavam a ficar sem graça. Não que ele fosse o único a fazer isso comigo  infelizmente, não era algo exclusivo, considerando a existência de Chaz e Lucas , mas, com ele, era sempre uma renovação, porque, por mais que eu quisesse, não conseguia simplesmente ignorar o fato de que Cory aparecera justamente quando eu mais precisava.

     (Seu nome), a comida vai esfriar...

    A voz de Manuela me fez pular de susto, tirando-me da certeza de que estava sozinha. Virei-me rapidamente para ela e a mesma segurava delicadamente uma bandeja com o meu prato, talheres, e um copo de suco. Olhando-me com aquela expressão de censura, ela quase parecia a minha mãe irritada com a minha demora. Com essa sensação nostálgica, tirei tudo de sua mão em questão de segundos e coloquei sobre a mesa.

     Espera! Você não vai comer?  perguntou, ao notar que eu não havia me sentado à mesa também.
     Vou. Eu só estava... Estava querendo conversar!  apontei, paciente.
     Ainda mais?  ela riu, brincando.  E sobre o quê, posso saber?
     Manu...  contei até dez, antes de formular a perguntar como um todo, sabendo exatamente do espanto camuflado que ela traria à minha amiga  O que você acha sobre eu casar, hein? Quero dizer, eu estou fazendo a coisa certa, não é?

    Não houve olhar de censura, como eu esperava. Ela não riu, falando que tinha me avisado antes que era uma decisão muito importante e eu ainda era nova. Ela não fez nada que pudesse me parecer ofensivo. Mas sua expressão de tensão ao ouvir minhas palavras e o que se prosseguiu logo depois foi muito pior...

     Olha, (Seu nome), eu acho, sinceramente, que essa é a escolha que você fez. Só isso!  respondeu, com toda a calma do mundo.  Acho que não existe certo ou errado, quando se trata disso. Essa é uma decisão importante que você tomou e, futuramente, as coisas irão ser um reflexo disso. Mas, se é algo que você escolheu fazer com a consciência limpa, segura do que estava fazendo, não há com o que se preocupar, não é mesmo?

    Então, depois desse discurso digno de uma cena de filme de uma sessão vespertina, ela somente deu um beijo delicado em minha bochecha e saiu, retornando até a sala e me deixando sozinha.

    Sozinha, em termos, pelo menos. Afinal, a última coisa que eu estava era desacompanhada naquele cômodo enorme. Éramos eu, um prato de comida de gosto duvidoso e meus pensamentos todos embaralhados.

    Eu não entendia porque esses raios de decisões tinham que influenciar tanto em nossas vidas ou porque todo mundo fazia tanta pressão em cima delas; eram apenas capítulos separados, não um grande acontecimento. Quero dizer... O casamento era um grande acontecimento, mas como Manuela havia dito, eu não tinha com que eu me preocupar, se estivesse segura do que estava fazendo. E eu estava, sem sombra de dúvidas.

    Bem, talvez...    

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É isso aí, gente, o capítulo de hoje vai ficar nessa monotonia, por agora. Mas esperem um pouco aí!