Contando os minutos...
Belieber’s POV
O maravilhoso cheiro de bolo de chocolate parece a fórmula perfeita para ser acordada quando não é bem exatamente isso que se quer fazer. E foi o que aconteceu àquela manhã. Estava quentinho, meu nariz conseguia definir isso e era detalhista demais para ser apenas sonho. Meus olhos se abriram instantaneamente.
A imagem de Chaz sentado na beira da cama, folheando um livro, enquanto segurava um prato com bolo de chocolate, não era bem o que eu esperava, mas era uma boa primeira visão pela manhã, então não me incomodei em fazer perguntas desnecessárias. Apenas me ajeitei na cama, sentando e virando-me para ele, já prevendo alguma piadinha bem sem graça que ele faria em relação ao meu cabelo ou a alguma olheira desnecessária que havia aparecido no meio da noite.
– Olá, Bela Adormecida! – foi a única coisa que ele disse, enquanto abaixava o livro.
– Olá, Príncipe Encantado que devo presumir que entrou pela janela durante a noite... – sorri, puxando meu cobertor um pouco mais para cima do corpo.
– Dormiu bem?
– Como um anjo deitado sobre a Lua...
– Ótimo! Então eu já posso estragar tudo indo direto ao ponto... – a expressão de Chaz ficou um pouco mais séria do que eu estava acostumada, mas tentei não ficar tensa por isso – Será que você tem alguma coisa para me contar?
– Eu não sei bem. – admiti – Do que você está falando especificamente?
– Por que não me contou que você vai voltar para o Brasil? – Chaz disparou as palavras depressa, fazendo com que eu demorasse um pouco para associar seus significados.
Como ele sabia disso?
Comecei a me perguntar todas as coisas que haviam acontecido durante a noite e não havia nada que eu pudesse me recordar além de sonhos. O medo se arrastou até minha pessoa quando pensei na ideia de ter soltado essa informação enquanto dormia. Definitivamente não havia nada mais humilhante do que falar, sussurrar, cantar ou fazer tudo junto durante o sono. E eu fazia isso... Às vezes.
Mesmo assim, ainda não conseguia enxergar o grande problema que estaria por trás da minha partida. Afinal, era uma coisa boa, pelo menos para mim. Internamente desejei que ele só estivesse ofendido por ainda não ter ouvido de mim, porque eu não sabia se iria aguentar alguém me pedindo para ficar – principalmente se esse alguém fosse ele.
– Como você sabe disso? – indaguei, por fim.
– Bom, eu vim aqui no quarto para me certificar de que você não havia morrido enquanto dormia e após alguns longos minutos te observando, pensando se deveria ou não te acordar, o seu celular começou a tocar como louco. Eu não iria atender, mas pareceu meio urgente quando a ligação se repetiu pela terceira vez, então... Eu o peguei. Foi estranho porque a pessoa do outro lado da linha me informou que eles haviam agendado o avião particular que você solicitou. Obviamente, eu achei esquisito, já que você mencionou algo sobre isso, mas disse que você não estava disponível no momento e que confirmaria tudo mais tarde.
– Eles ligaram? – surtei, nervosa.
Aliás, como essa empresa idiota poderia ter me ligado três vezes tão cedo?
– Eu não mentiria sobre isso e nem teria como saber de algo se não tivessem ligado... – argumentou Chaz – E o irônico é que eu pensava que deveria saber antes de desconhecidos. Por que você não me contou? Achou que eu não ia gostar? É isso?
– Não, Chaz, não é nada disso! Eu apenas não tive tempo para fazer isso. – expliquei – Eu liguei para saber do avião ontem mesmo, porque foi quando me decidi. Mas eu achei mais prudente falar com a minha família, primeiro. Isso não significa que eu iria te surpreender não estando aqui daqui a uns dias. Eu iria falar com você hoje mesmo, assim como falaria com a Pattie também.
– Jura?
– É claro que sim! Eu não teria motivos para ir embora sem falar com você antes... Seria estupidez!
– Concordo com você! – ele riu, parecendo mais leve – Mas eu pensei que não tinha falado nada por medo de eu não gostar da ideia.
– Eu nunca faria isso... – suspirei – Mas, já que tocou nesse ponto, o que você acha, hein? Sobre eu ir embora... Está tudo bem para você?
– Depende. Será que a senhorita poderia me contar o motivo dessa decisão? Você está indo por pura e espontânea vontade ou está só fugindo do que você tem aqui?
Eu sabia a resposta que teria dito se Chaz me fizesse essa mesma pergunta há alguns poucos dias atrás: a mais deprimente possível. Porém, ali, sentada na minha cama naquele momento, eu mal podia esperar para estar em casa novamente, pelo simples motivo de que eu precisava me renovar e eu não conseguiria fazer isso se ficasse para sempre em um mesmo local. Além disso, meu país estava me puxando de volta para casa.
– Às vezes eu nem acredito que estou dizendo isso, mas eu realmente quero ir para casa. – sorri – Há tantas coisas que eu estive perdendo apenas por ficar presa aqui por tanto tempo. Tanta coisa que eu poderia estar fazendo e não estou. Eu não quero mais perder meu tempo com uma depressão que nem me pertence.
– (Seu nome), se você soubesse o quanto eu estava com saudade desse brilho lindo dos seus olhos, nunca mais deixaria que ele se apagasse! – Chaz parecia orgulhoso ao dizer isso e eu me senti incitada a ficar orgulhosa de mim mesma também – Fica tão bonita assim que quase não dá para notar essa cara toda amassada e o cabelo desgrenhado, sabia?
– Estava demorando para você começar com as suas graças, não é? – resmunguei, escondendo o rosto entre o travesseiro.
– Sabe como é? Eu não posso ser negligente com o meu trabalho! – ele riu, antes de dar mais uma garfada em seu bolo delicioso.
– Sinceramente, Chaz, eu até me preocuparia com as suas provocações idiotas, mas eu realmente estou precisando desse bolo que está em suas mãos como café da manhã, ok? Então fique aí com suas piadinhas, enquanto eu vou até a cozinha.
– Hã? Café da manhã? Você não acha que está um pouco atrasadinha, não? Já são quatro horas da tarde, (Seu nome)!
Quatro horas da tarde? Eu hibernei, por acaso?
De repente as coisas começaram a fazer sentindo para mim novamente. O livro que estava, minutos atrás, nas mãos de Chaz era o mesmo que eu ficara lendo a noite inteira até amanhecer, enquanto devorava um pote de sorvete – que eu notei estar em cima da mesa de cabeceira, praticamente vazio – sozinha. A companhia aérea não havia me ligado cedo demais, mas sim no horário que eu recomendara, às duas horas. E eu não atendera, porque estava ocupada demais suprindo as horas que eu passei acordada de madrugada.
– Ah, não! – gemi – Me diga que você está mentindo, pelo amor de Deus.
– Me desculpa, mas não estou, não. Eu não te chamei de Bela Adormecida à toa.
– Eu não acredito nisso!
E eu que tinha prometido para o meu pai que iria dormir cedo...
– Pelo visto, o sonho com algum astro de cinema estava muito bom mesmo, para você acordar assim, tão desorientada. – Chaz falou, mantendo seu estúpido sorriso de provocação no rosto.
– Quisera eu estar sonhando com isso... – sorri, inspirada – Mas, na verdade, se eu me lembro bem, estava sonhando com a Selena.
– Selena? – seus olhos se arregalaram – Você estava sonhando com a Selena e não acordou gritando? Acho que devo te dar os parabéns!
– Deixa de ser bobo, Chaz. Não foi tão ruim assim... – assim que as palavras saíram da minha boca, senti vontade de vomitar por perceber que eu estava meio que defendendo a Selena. – E eu nem sei se foi um sonho mesmo, acho que eu estava apenas lembrando, sei lá.
– Tudo bem, agora você está me assustando. – sua expressão se fechou em um bico de reprovação – A minha adorada (Seu nome) falando da Selena como se as duas se dessem bem. Ai, meu Deus, nunca pensei que viveria o bastante para sofrer tal decepção...
– Menos, Chaz. Esqueça essa bobeira e me conte o que eu perdi enquanto hibernava sem que ninguém se pusesse a me acordar!
– Não sabia que a donzela tinha escravos para acordá-la na hora que bem entendesse... – provocou Chaz no melhor do seu tom apelativo.
Mostrei a língua para ele, fixando-me em todo o meu comportamento infantil, antes de finalmente tomar vergonha na cara. Enquanto Chaz me observava – com uma sobrancelhazinha de curiosidade em evidência – me levantei da cama e comecei a arrumar tudo a minha volta, a começar pelos lençóis completamente embolados. Embora eu não estivesse empolgada, os motivos que me levaram a isso foram bastante fortes, afinal, a última coisa que eu queria era ir embora deixando como recordação a minha bagunça.
– Na verdade – ele retomou a fala, incapaz de permanecer em silêncio –, não aconteceu muito coisa enquanto você estava apagada. Justin ficou com Manuela, como é de costume. Pattie recebeu um telefonema e ficou cheio de segredinhos, os quais eu estou me perguntando sobre até agora e... O melhor de tudo, bolo!
– Gordo! – evidenciei, rindo.
– Eu me aceito como sou, (Seu nome)! Não preciso dos seus julgamentos. – Chaz não pareceu dar muita importância ao que eu falava. – Você é quem deveria parar de se preocupar com os olhos e procurar uma academia, porque não é por nada, não, mas... Acho que estou vendo uma celulite por aí!
– Meu lindo, a única coisa que você está vendo aqui é a sua inveja exalando pelos seus poros... – ironizei, enquanto guardava as tranqueiras que eu havia deixado jogadas – Admita, você queria muito ter o meu corpo!
– Tudo bem, (Seu nome)... Você me pegou dessa vez, porque realmente a maior frustração da minha vida é não ter seios.
– Chaz, você é tão bobo, às vezes...
Com o típico olhar de satisfação que costumava lançar para mim – como uma possível forma de dizer que já havia cumprido seu papel de me perturbar –, Chaz também se levantou da cama e recolheu seu prato de bolo já quase vazio consigo. Ele não disse qualquer palavra de despedida, mas ainda assim se dirigiu vagarosamente até a porta, enquanto continuava a fitar todos os cantos do quarto. Eu já estava esperando que ele saísse, quando o moreno virou-se para mim, pouco antes de tocar a maçaneta.
– Ei, tem mais uma coisa... – sussurrou, fitando o chão – Não fique chateada, mas Jeremy foi embora essa manhã, junto com as crianças. Eles vieram aqui se despedir, mas você não parecia em condições nem de reconhecer alguém!
– Ah, não... – miei, decepcionada – Não acredito.
– Eu sinto muito! – Chaz suspirou, embora mantivesse um sorriso despretensioso no rosto – Mas, se isso ajudar, eles deixaram um presentinho para você...
Apontando para uma das mesas de cabeceira, onde estava o meu pote de sorvete, ele deixou que eu mesma fosse ver o que seria e, então, saiu do quarto, piscando para mim antes de fazê-lo.
Só esperava que isso não fosse mais uma de suas brincadeiras bobas, porque a ideia de ver as criaturinhas mais lindas do mundo no meu quarto, tentando me dar “tchau” enquanto a burra aqui estava em coma já havia acabado com o meu emocional o suficiente, pelo menos por aquele dia.
Mas felizmente não era brincadeira.
Ali, bem em cima de alguma das minhas canetas sempre espalhadas estavam dois pedaços de papel bastante coloridos. Em um deles, que eu pude facilmente reconhecer como sendo de Jaxon, havia um desenho de um dragão vermelho, em que o lápis de cor chegava a sair do contorno. Em cima do monstrinho, estava desenhado um menino que eu poderia jurar representar o próprio Jaxon na sua máxima de corajoso cavaleiro.
O segundo desenho, logo abaixo desse, era o de Jazmyn. Neste, sobre a folha de papel, havia a imagem de duas meninas de mãos dadas, sendo uma mais alta do que a outra. A de maior tamanho estava com roupas roxas e tinha uma setinha logo em cima dela com o meu apelido escrito, enquanto a do lado trajava roupas rosa e estava indicada como sendo “Jazzy”. Era tão encantadoramente fofo que eu não conseguia deixar de sorrir olhando aquilo.
Diante daquela simplicidade cativante, fui levada novamente a pensar nas lembranças que rondaram minha cabeça durante a noite – que na verdade fora um dia – passada. Embora eu não soubesse exatamente o porquê do sonho, ele servira para me lembrar de um dia que eu sempre procurava ocultar dentro da minha cabeça, mas o que não significava que não tivesse sido bom. Apenas surpreendente. Simplório. Quase tocante. Quase...
Eu estava na cozinha, lavando o vigésimo prato pela vigésima vez. Era o penúltimo que restara e talvez não fosse o vigésimo, mas eu preferia que fosse. Afinal, a louça era a única desculpa que eu tinha para continuar isolada naquele cômodo que estava repleto de eu mesma. Não era uma companhia tão boa, mas era melhor do que ser a (Seu nome) melancólica perto de muita gente. Desse jeito, ao menos, eu incomodava apenas a mim mesma.
Eu já estava pensando no que teria que fazer para continuar ali por mais algum tempo quando ouvi a porta da cozinha ser brutalmente aberta e, então, o som de passos delicados. Não precisei me virar muito para perceber Selena bem ao meu lado. Junto com a visão do seu sorriso insuportavelmente solidário, veio também a vontade de me socar até todos os meus músculos faciais pedirem socorro. Por que essa garota tinha que ser assim?
Meus pensamentos estavam focados no quanto Selena Gomez poderia ser inconscientemente insuportável, quando a mesma se apossou do último prato sobre a pia e pegou a bucha, passando-a na louça e sujando suas mãos delicadas com aquela espuma. Ela provavelmente estava pensando que me ajudava – já que eu estava naquela tarefa há mais de uma hora – mas na verdade só estava fazendo com que eu ficasse nauseada com esse nível enjoativo de gentileza.
Entendendo que eu não poderia simplesmente virar e falar para ela que seu lado prestativo estava destruindo todo o meu plano de camuflagem e se a mesma não se retirasse depressa e parasse de respirar o mesmo ar que eu seria provável que no dia seguinte encontrassem seu corpo jogado no chão, com marcas de facas; me aquietei, tentando ficar sozinha pelo menos em minha mente, com meus pensamentos de tortura. Mas não tive esse espaço.
"Está tudo bem?", sua voz doce saiu como um sussurro, perfurando meus ouvidos que se opunham a ouvi-la.
"Claro!"
Uma palavra. Uma palavra foi tudo que me limitei a dizer, na intenção de que esta não pudesse denunciar minha mentira de alguma forma, mas não me sai tão bem assim. Meu tom pareceu saiu falho e trêmulo por entre meus lábios e eu temi que Selena entendesse todo esse receio na fala pelo motivo que ele realmente representava.
De fato, Selena havia chegado ao Canadá há pouquíssimos dias, com o único intuito de saber como estava Justin e também para ficar um pouco perto dele durante esse tempo difícil. Ele havia saído do hospital igualmente há pouco tempo e eu ainda não estava conseguindo lidar com isso. Aliás, ficar vendo ele e a ex-namorada – que eram amigos, mas isso não importa, na verdade – rindo juntos e fazendo parecer que nada mudara para os dois deixava meu estômago embrulhado.
Por que, afinal, eu tinha que simplesmente ser a pessoa mais azarada e imemoriável do mundo? Por que justo eu?
"Você quer ajuda?", Selena indagou novamente, enquanto começava a enxaguar o prato em sua mão.
O seu modo de falar me fez ficar na dúvida se ela estava se referindo aquela simples louça sobre a pia, que já nem existia mais, ou se estava se sentindo confortável o bastante para se intrometer na minha vida de um jeito profundo. Eu não estava, com certeza.
"Não precisa...", sussurrei, receosa. "Está tudo bem!"
Eu não achei que Selena fosse voltar a se dirigir a mim depois disso, aliás, cheguei a pensar que aquele seria o ponto final da nossa pseudoconversa. Ela provavelmente entenderia que eu não estava a fim de ficar jogando mentiras gentis ao vento e simplesmente abandonaria a cozinha, deixando-me sozinha para procurar mais louças para lavar. Eu começaria a escovar o teto se fosse preciso para conseguir ficar sem companhia por mais tempo...
Mas isso não foi necessário, porque não fiquei sozinha.
Selena rapidamente pegou o prato que estava em minhas mãos, sem a maior cerimônia, e o pousou na pia mais uma vez, antes de se virar para mim. Talvez ela esperasse que eu dirigisse meu olhar para ela também, mas eu não estava com a mínima vontade de fazer contato visual com outro pessoal. Em vez disso, permaneci olhando para o prato que fora retirado de mim, enquanto a morena voltava a falar do meu lado:
"Eu entendo que você não queira conversar sobre o que está acontecendo, mas o que acha de pensar nisso?"
"Selena, por que nós estamos conversando afinal?", soltei, frustrada por aquela tentativa patética de comunicação.
"Porque eu estou preocupada, tudo bem?", ela soou sincera, mas eu não tinha tanta tendência a acreditar mais. "Você está passando por toda essa situação e, às vezes, parece que você finge que não liga. Você não deveria fazer isso..."
"E o que isso tem a ver com você? Eu não sei se você já percebeu, mas nós somos pessoas diferentes e passamos por momentos diferentes", eu estava com raiva, muito raiva, mas não era exatamente essa sensação que estava deixando meus olhos marejados. "Você não tem ideia do que eu estou sentindo, então apenas pare de fingir que sabe o que é, ok?"
Era oficial. Ela tinha que sair dali depois disso ou então eu cravaria minhas unhas em seus olhos, porque a última coisa que eu queria era que Selena me visse chorando, o que eu estava prestes a fazer. Obviamente isso era culpa dela também que tinha o poder sobrenatural de me deixar mais para baixo possível. Selena Gomez era o meu carma.
E como todo o resto das coisas ruins que ocorreram ultimamente, ela me abraçou.
Literalmente.
De repente, os braços de Selena estava ao meu redor, enquanto meu rosto afundava em seu ombro e as lágrimas iam descendo freneticamente pelos meus olhos que ardiam. Eu não sabia como tinha chegado a isso, mas a morena estava acariciando meu cabelo suavemente, sem se importar com o fato de eu estar chorando em seu ombro – nem eu mesma conseguia acreditar nisso –, como se esse não fosse um comportamento estranho.
"Eu não estou te julgando e peço desculpas se foi isso que deu a entender...", ela sussurrava tão baixo que fazia parecer que suas palavras eram apenas ilusão da minha cabeça. "Eu só estou dizendo, (Seu nome), que fingir que não existe não vai fazer o problema ir embora. Você tem que se permitir pensar nisso e chorar de vez em quando, como agora, para conseguir superar isso ou, independente do que aconteça, essa mágoa nunca irá embora... E não queremos isso, não é? Tudo vai ficar bem, mas somente se você enfrentar isso alguma hora!"
Selena não sabia sobre o que eu tinha ouvido do psicólogo do hospital e tudo o que aquilo significava para mim. A única coisa que era de seu conhecimento era que eu estava sofrendo pelo estado complicado do meu namorado, mas ainda assim suas palavras não deixaram de fazer sentido e ao mesmo tempo de fazer com que eu sentisse fraca por tudo isso, por não ser capaz de confrontar Justin e contar sobre a enorme parede que aquele acidente estabelecera sobre nós.
Esses pensamentos só serviram para permitir que eu chorasse ainda mais e, de uma forma estranha, em meio a toda confusão que a mesma tinha me imposto, eu notei que somente Selena estava ali comigo. Embora eu estivesse gostando de ter alguém para abraçar, não conseguia acreditar que eu estava chorando na frente daquela que eu repudiara e... Pior que isso, ela era o meu único ponto de apoio, no momento.
Até hoje eu não conseguia acreditar nisso. Na verdade, eu não conseguia sequer entender o que tudo aquilo significou. Provavelmente, se eu encontrasse a Selena na rua algum dia, não saberia o que fazer. Abraçar, dizer um oi simpático ao longe, fingir que nem vi ou passar reto com o olhar mais falso de superioridade possível?
De qualquer forma, aquelas lembranças me faziam entender que eu só realmente senti que estava enfrentando toda aquela situação ao finalmente decidir ir para casa. Era irônico eu concordar com o ponto de vista da Selena e ao mesmo tempo sentir que só estava lidando com aquilo ao virar as costas para Justin, mas era exatamente assim que eu me sentia. Talvez, ir embora era o jeito que eu tinha de dar uma nova chance para mim mesma e isso era superar, afinal.
Lembrando dos meus afazeres, abandonei os desenhos das crianças sobre a mesa de cabeceira, apenas para me certificar de poder vê-los novamente ao retornar ao quarto e – claro! – de levá-los comigo quando fosse viajar.
Em seguida, liguei para a companhia com a qual agendei o voo apenas para certificar que tudo estava bem, enquanto ajeitava o cabelo e lavava o rosto destruído após um dia de sono profundo. Eu não via necessidade de trocar de roupa apenas para descer e comer alguma coisa, então não o fiz, reduzindo o tempo que eu teria gasto para apenas cinco minutos. Cinco minutos foram necessários para que eu confirmasse meu voo para o dia seguinte, bem cedo.
Abandonei o meu quarto, fechando a porta e descendo as escadas com uma alegria quase infantil para relatar a minha notícia a Pattie. Embora eu soubesse que estava muito em cima da hora para eu soltar essa bomba em seu colo, eu tinha esperanças de que ela ficasse feliz por mim, porque a opinião dela contava como poucas.
Encontrei Pattie na cozinha, olhando alguma coisa em um mínimo calendário de parede. No mesmo ambiente, estava um maravilhoso bolo de chocolate com alguns pedaços já cortados e uma estonteante calda escura que fazia minha baba pingar basicamente. Precisei ser forte para me focar no que eu realmente viera fazer, mas ainda assim acabei pegando um pedaço antes de qualquer coisa.
– Oi, Pattie! – cumprimentei, com o meu pedaço já seguro em um prato só meu.
– Oi, querida! – um sorriso se abriu em seu rosto ao ouvir minha voz e eu percebi que ela não tinha notado minha presença antes – Eu pensei que você não iria acordar hoje, sabia? Mas... Está tudo bem?
– Melhor do que bem, Pattie! – deixei minha felicidade exalar, enquanto enfiava um pedaço de bolo na boca.
– Eu imagino! – rebateu – Afinal, alguém por aqui está prestes a voltar para a casa, rever a família. Estranho seria se você não estivesse feliz. Mas... É tão bom te ver com esse sorriso, sabia?
Mesmo com todo o seu jeito doce, acabei quase me engasgando com o que mastigara ao ouvir suas palavras. Como todo mundo estava sabendo que eu ia voltar para casa, se há tão pouco nem mesmo eu sabia? Era alguma bruxaria ou mandinga? Eu sou realmente tão previsível a ponto das pessoas não precisarem saber nada pela minha boca e apenas ler a minha expressão?
– Como você sabe? – meus olhos se arregalaram.
– Sua mãe me ligou hoje mais cedo, aliás, ela perguntou sobre você, mas não achamos necessário te acordar para qualquer coisa. Enfim, ela me contou que vocês conversaram ontem e você disse que estava com vontade de ir para casa. Eu achei ótimo, embora você vá fazer falta por aqui. – Pattie contou os detalhes com a mesma animação com que eu os ouvi – Mas a sua mãe está tão feliz com tudo isso que eu não consigo ficar menos que isso também. Afinal, eu sei como é complicado ter um filho tão longe sempre...
– Eu sei... – concordei, após mastigar mais um pedaço e rapidamente pousar o prato na bancada – Na verdade, eu só tenho a te agradecer, sabia? Por todo esse tempo, você tem sido como uma segunda mãe para mim. Sempre com esse olhar carinhoso, me aconselhando sobre tudo e eu nem sei se um dia poderei retribuir isso, mas eu queria que soubesse que eu aprecio muito tudo o que você já fez!
– (Seu nome), você sabe que não precisa me agradecer, não é? Tudo o que eu fiz foi porque eu gosto muito de você. Desde o primeiro momento em que nos encontramos naquele restaurante, eu soube que você era uma boa garota e a única que você tem feito durante todos esses anos é comprovar isso...
– Ouvindo isso, eu percebo que amanhã é mais cedo do que eu gostaria. Não faça com que eu me arrependa de ter marcado essa viagem!
– Ah, mas você já vai amanhã? – ela apareceu surpresa – Não vai dar tempo nem de fazer uma festinha de despedida ou alguma coisa?
– Acho que não. Eu não quero chamar muita atenção como se fosse uma grande coisa, sabe? Afinal, eu estou sempre viajando, posso voltar a hora que quiser. Então eu devo ir amanhã muito cedo, mas isso não significa que seja definitivo. Eu volto logo!
– Bem, aonde quer que esteja, só continue sorrindo, ok? Você não sabe como esse sorriso lhe cai bem, mesmo depois de tanto tempo sem ele...
– Ah, minha baixinha, o quanto eu amo você, hein?
Não esperei nem mais um minuto para abraçar Pattie da forma mais apertada que eu conseguia, afinal, eu não tinha certeza se teria essa mesma oportunidade mais uma vez durante um longo tempo. Além disso, um abraço era pouco para suprir todas as coisas maravilhosas que ela já havia feito por mim, porque aguentar a minha presença por tanto tempo e ainda conseguir ser meiga comigo era uma tarefa que poucos conseguiam concluir. Mas ela havia feito aquilo. Com muito sucesso, devo acrescentar.
– Eu também te amo, minha linda! – falou, retribuindo o meu abraço.
Quando nos afastamos novamente, notei seus olhos sorrindo para mim e quase tive vontade de tirar uma foto daquele olhar maravilhoso. Na verdade, quase tive vontade de pegar Pattie e colocá-la furtivamente na minha mala. Ela era baixinha, não pesava tanto, daria perfeitamente e ninguém iria perceber. Se eu tivesse que responder qualquer questão sobre o conteúdo da minha mala, diria que era uma boneca e não estaria mentindo, de fato.
– Bem, acho que eu tenho que arrumar as minhas malas... – falei, realmente considerando a ideia que me passara pela cabeça.
– Se precisar de ajuda, não só para isso, mas qualquer coisa mesmo aqui ou a vários quilômetros de distância, você sabe que é só me chamar e eu ficarei feliz em ajudar... – respondeu, prestativa como sempre.
– Obrigada, Pattie, muito obrigada!
Deixei escapar um último sorriso escapar enquanto me dirigiria para a porta da cozinha, com o meu olhar sempre preso a morena que ficara atrás de mim. Talvez tenha sido essa distração que provocou o enorme susto que tomei ao ver aquela que estava bem a minha frente...
Assim que cheguei à porta entreaberta do cômodo, dei de cara com Manuela e meu coração parou de bater por um minuto, dentro do peito. Pela primeira vez em muito tempo, minha reação não fora causada pela repulsa que ela me passava, mas sim pela surpresa. Eu estava muito perplexa de encontrá-la com uma expressão tão inocente no rosto. E então, me surpreendendo ainda mais, as palavras saíram de sua boca em um tom que eu poderia jurar que nunca mais ouviria vindo dela:
– Será que podemos conversar?
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O capítulo 26 está aí e eu espero que vocês gostem. Na verdade, ele era para ser postado mais cedo, enquanto eu estava no colégio, mas minhas amigas gatas ficaram me atrapalhando no laboratório de informática e... Isso explica o post anterior, rs. (: Caso vocês a odeiem, o twitter delas: @marinabsalles e @1997rafaela. Se eu fosse vocês, iria lá demonstrar ódio por essas idiotas, rs. (:
Enfim, agora, por um milagre, um amigo da minha tia veio na minha casinha, ajeitou meu computador e eu acho que meu velhinho vai aguentar mais um pouquinho, o que significa ib hoje e sexta, rs (:
Espero que gostem do capítulo, nenéns! (:
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Oi, oi, gatas! (:O capítulo 26 está aí e eu espero que vocês gostem. Na verdade, ele era para ser postado mais cedo, enquanto eu estava no colégio, mas minhas amigas gatas ficaram me atrapalhando no laboratório de informática e... Isso explica o post anterior, rs. (: Caso vocês a odeiem, o twitter delas: @marinabsalles e @1997rafaela. Se eu fosse vocês, iria lá demonstrar ódio por essas idiotas, rs. (:
Enfim, agora, por um milagre, um amigo da minha tia veio na minha casinha, ajeitou meu computador e eu acho que meu velhinho vai aguentar mais um pouquinho, o que significa ib hoje e sexta, rs (:
Espero que gostem do capítulo, nenéns! (: