21 julho 2013

4. You Make Me Love You - Capítulo 15



                                               Homeless Heart



 Belieber's POV
 
    “Cinco dias. Se não der  certo, caia fora. Você nunca teve garantias”.

    Foi a primeira coisa que li pela manhã. Três frases que eu anotara ao redor do meu pulso na noite passada, com uma caligrafia completamente torta, embora isso não importasse muito. Estava escrito, registrado em minha pele e, apesar da enorme possibilidade de sair no primeiro banho que eu tomasse, aquilo tornava aparentemente minha decisão oficial e essa era a única coisa da qual eu tinha certeza. Escrever me ajudava a permanecer focada e a ter uma direção em que eu devesse seguir.  

   Visto isso, foi mais animador me levantar naquela manhã, mesmo que as imagens da noite passada não tivessem sido apagadas durante as últimas horas em que eu conseguira após muito esforço tirar um cochilo. Mas eu estava tentando começar de onde aquele dia merecia. Do zero. Sem me prender ao passado, assim como todos ali pareciam estar fazendo. E, apesar disso, eu também queria me livrar dessas expectativas, me livrar de tudo aquilo que me fazia esperar demais por coisas que eu sabia que não iriam se cumprir. Era mais satisfatório comigo mesma tentar desse jeito.

   Me pus de pé, devagar, preparando-me para seguir a ordem rotineira de todas as manhãs. Em um tempo muito mais curto que o usual, eu já estava com uma aparência, no mínimo, apresentável, embora minha vontade fosse de permanecer no conforto do meu pijama quentinho. Aliás, passava a ser tido como necessidade a considerar o frio cortante que fazia minha coluna parecer que ia se esfarelar, após congelar por completo.

Deixei o quarto sem cerimônias, seguindo até a sala de estar, no primeiro andar, que estava vazio, arruinando assim meus planos. Os maus hábitos estavam se tornando frequente demais naquela casa, fazendo-me sentir falta de um tempo em que eu era sempre acordada por terceiros por estar atrasada para o colégio. Eu reclamava na época, mas reconhecia que era bom ter companhia logo nas primeiras horas da manhã. Eu sabia que isso me deixava mais leve durante o resto do dia.

Sentei-me no sofá em uma posição que com certeza não era muito favorável a minha postura, mas eu não deveria me importava e realmente não o fazia. Peguei uma revista abandonada na mesa de centro e comecei a folheá-la, rendendo-me a falta de atividade. Como era de se esperar, não havia qualquer coisa interessante ali, apenas mais um monte de fofocas, boatos e especulações. No meio disso tudo, uma ou outra matéria sobre “como você não é bonita o suficiente e precisa entupir sua cara de maquiagem, consumindo nossos produtos”. Tudo tão vazio...

Comecei a considerar a ideia de retornar ao meu quarto e passar o meu dia enroladinha embaixo do cobertor, quando um barulho vindo da cozinha chamou minha atenção. O dia já estava claro o suficiente para que eu descartasse a hipótese de fantasmas me perseguindo. Assim, me disponibilizei a me levantar e ir checar com meus próprios olhos o que acontecia. Se fosse algo como uma aranha ou derivados, pensaria seriamente em ligar para os bombeiros, apenas por precaução.

Felizmente, à medida que eu me aproximava, a voz amável ia me deixando mais feliz por ter companhia. Pattie estava na cozinha, ocupando-se em preparar o café da manhã e tentando fazer com que esse parecesse mais saudável do que estava sendo nas últimas semanas. Ela não pareceu ter qualquer consciência da minha chegada silenciosa, me dando a opção de permanecer ali ou voltar para a sala, solitária e entediada.

 – Bom dia! – suspirei.
    – Bom dia, minha linda! – ela sorriu para mim rapidamente, antes de retornar sua atenção ao que fazia – Já de pé?
    – Eu não estou com tanto sono, assim. Fui dormir cedo ontem... – menti, parecendo convincente pela primeira vez na vida – Então... Você quer ajuda?
    – Ah, não precisa se preocupar...
    – Não é nada demais! – Insisti. – Eu não estou fazendo nada mesmo e, aliás, já faz bastante tempo que eu não fico com você direito, então eu estou ótima em permanecer aqui!

Pattie sorriu para mim, parecendo satisfeita com o que eu dissera e me deixando ter liberdade para fazer o que bem entendesse. Assim, pacientemente, separei uma toalha de mesa, colocando-a sobre tal, antes de começar a dispor de pratos, copos, talheres, frios, cereais, leite, frutas. Arrumando tudo geometricamente sobre a mesa, eu buscava uma harmonia que já obtivera. Soava estranha aquela cena, porque eu nunca gostara de colocar a mesa, decorada ou não, mas não ter que fazê-lo acabava por me deixar mais nostálgica.

 – Acho que acabei... – informei, mais cedo do que eu pensava.
    – Ótimo! – retrucou, embora não tirasse os olhos de sua ocupação – Pode deixar o resto comigo, (Seu nome)...
    – Bem, se você prefere assim...

Dei de ombros, aquietando-me enquanto pegava uma pera da fruteira. Observei aquela frutinha em minhas mãos e comecei a me perguntar sobre o trabalho do meu personal trainer, minha coreógrafa e minha nutricionista. Isso tudo sempre parecera pesado para mim, porque cuidar do corpo de uma garota viciada em doces – tentando fazê-la controlar isso e praticar atividades físicas – não era tarefa para qualquer um. Mas, bem ali, na cozinha da minha, digamos, terceira casa, eu observava todo dia, sem perceber, um trabalho físico e psicológico talvez ainda mais complicado.

 – Pattie... – Chamei, com cautela – Desculpe-me perguntar, mas... Você nunca se cansa? Quero dizer, você não tem vontade de voltar para a sua casa, para a sua rotina?
    – Bem... – ela virou-se para mim, com um sorriso ligeiramente suspeito – Na verdade, não. Aliás, apesar do motivo para estarmos aqui, eu gosto de poder ficar com meu Justin por tanto tempo. Eu não lembrava mais o que era isso...
    – Mas... Você não sente falta da sua casa? Do seu trabalho? Do seu tempo? – continuei.
    – Não há nada que não possa ser adaptado, (Seu nome)! – suas palavras pareciam tão distantes quanto seus pensamentos, como se ela nem tivesse precisado formular muito a resposta – Eu não me sinto como se eu estivesse muito distante da minha rotina normal, porque essa é a minha segunda casa e eu ainda tenho meu tempo. Eu saio às vezes, mas eu gosto de passar a maior parte do dia com o Justin, me faz bem. E, quanto ao meu trabalho, eu não estou muito diferente de você. Só fiz uma pausa e voltarei assim que parecer mais oportuno.
    – É, você tem razão... – falei, tentando não me sentir constrangida por ter perguntado e iniciado aquele tipo de conversa – Eu só fiquei um pouco...
    – Receosa? – ela completou rapidamente.

Pega de surpresa, eu não soube como responder aquilo, porque não era bem a palavra que eu usaria, mas talvez servisse melhor do que eu pensava. A morena virou-se para mim, dando-me total atenção e, inclusive, se aproximando. Senti um leve desconforto por não estar em condições de que alguém se aproximasse psicologicamente dos pensamentos que eu achava serem somente meus. Mas, mesmo assim, eu tinha consciência de que fora eu que começara aquela conversa e agora precisava aceitar a conclusão da mesma.

 – Achou que eu não tinha percebido logo que você começou a falar sobre isso? – indagou, sorrindo, enquanto afastava uma mecha de cabelo do meu rosto – (Seu nome), eu te conheço e sei que você não começaria a falar sobre isso, se não tivesse pensando em algo semelhante. Você está querendo voltar para casa, querida?
    – Bem, a considerar pelo modo como as coisas estão caminhando, eu não acho que haja outra opção para mim.
    – (Seu nome), você sabe que eu não costumo me intrometer muito na vida do Justin, mas, nesse caso, a situação é diferente. Você realmente tem certeza de que não quer que eu converse com ele sobre isso? Tem certeza de que não quer que ele saiba de um jeito mais fácil e direto?
    – Na verdade, não, Pattie... – suspirei, sem sequer analisar a proposta, já que não era a primeira vez que eu a ouvira – Sinceramente, quando você me sugeriu isso pela primeira vez, eu recusei, porque esperava que ele se lembrasse de toda uma história de modo natural e também porque eu não queria embaralhar a relação de vocês com problemas alheios a isso. Mas, agora, notando que não vai acontecer assim, eu também não me sinto confortável com essa hipótese. Justin parece feliz com a Manuela e jogar um balde de água fria nisso não deve mudar muita coisa. Nós já tentamos fotos e vários tipos de aproximação e eu acho que se ele realmente me quisesse de volta em sua vida, isso já teria acontecido!

Respirei fundo, após despejar todas essas verdades, me sentindo completamente cansada pelo desabafo. Felizmente, o profundo silêncio em seguida serviu perfeitamente para que meu interior se acalmasse, deixando que eu não me arrependesse de ter tirado o peso dessas palavras de mim. 

Sem eu precisar fazer qualquer expressão de dó, Pattie me abraçou suavemente e, embora seu tamanho fizesse parecer que eu a estava confortando, seu abraço era tudo o que eu estava precisando no momento. Como se sua voz doce e seu jeito de falar suave, chamando-me de “querida”, não fossem o bastante, ela precisava se tornar ainda mais perfeita me dando todo o apoio materno que eu estava precisando, sem admitir. 

 – Eu respeito a sua escolha, assim como irei respeitar e apoiar quando você decidir o que fazer, ok? – falou Pattie, me abraçando ainda mais forte – Só pense bastante, não faça nada precipitado.  E... Se mudar de ideia ou precisar de qualquer tipo de ajuda, não hesite em me procurar! Lembre-se que a primeira coisa que eu disse a sua mãe, por telefone, no primeiro dia em que te conheci, foi que cuidaria de você e é isso que continuarei a fazer, até mesmo quando você achar que não precisa mais de mim.
    – Eu sempre vou precisar de você, Pattie... – não pude deixar de sorrir entre as palavras – Obrigada, de verdade!

Beijei sua testa, antes de afinal nos afastarmos. Mesmo que isso soasse como o final da nossa conversa e eu não sentisse como se precisasse ou quisesse dizer mais alguma coisa, seus olhos claros me fitando pareciam me induzir a soltar todos os sentimentos e frustrações que eu estivera guardando para mim, nas últimas semanas. Mas eu não estava com vontade de reviver coisas que lutava para enterrar definitivamente e foi isso que me ajudou a escapar daquele poder e me centrar naquilo que meu coração pedia desesperadamente.

 – Falando na minha mãe, acho que eu vou ligar para casa... – afirmei, por fim.
    – Faça isso... Vai te fazer bem! – encorajou-me ela – Só não ouse utilizar isso como forma de se apressar a tomar uma decisão, ok? Você ainda tem tempo para pensar sobre isso, com muita calma!
    – Eu sei... – mordi os lábios, enquanto tentava fixar suas palavras em minha cabeça e colocar meu jeito impulsivo de lado – Então... Você não precisa mais de nenhuma ajuda por aqui?
    – Não. Eu estou quase acabando e ainda faltam alguns minutos para aqueles preguiçosos acordarem. Pode ir tranquila!

Assenti, antes de começar a me dirigir para fora da cozinha. Pattie esperou até que eu estivesse fora dali para poder voltar as suas atividades e isso me deixou levemente culpada por tê-la, possivelmente, preocupado com detalhes que não mereciam tanta atenção assim. Tentando afastar essa sensação e ainda, talvez, tranquilizá-la, sorri para ela, antes de desaparecer de seu campo de visão.

Eu sabia que estava tentando assumir um papel de mulher madura e decidida e, por este motivo, tornava-se muito difícil admitir que não havia nada que eu precisava mais naquele momento do que os meus pais e tudo mais o que poderia representar a segurança de um único lar e uma família. Pattie deixara isso óbvio para mim e, sinceramente, era um fato que me assustava. Me assustava bastante pensar em acabar jogando todas as minhas conquistas pessoais para o alto, já que eu não conseguia me manter segura sozinha.

Esperando que uma simples ligação pudesse acabar com a saudade e, consequentemente, com sentimentos não tão positivos, disquei rapidamente o número de casa e esperei, sem paciência, enquanto a chamada estava sendo efetuada. Mesmo sabendo que meus pais não podiam ficar o dia inteiro em casa e nem grudados no telefone, eu não gostava de esperar. Mas isso conservava um pouco a emoção, quando eu finalmente era atendida no quinto toque...

 – Alô? – a voz masculina em um perfeito português do outro lado da linha me pegou de surpresa.
    – Pai? – arfei, sem encontrar as palavras corretas para dizer.
    – (Seu nome)? – o tom de voz dele deixava claro que ele estava sorrindo, o que me fez sorrir involuntariamente também. – Filha, que saudades de você! Como a minha princesinha está, hein?
    – Pai, é você mesmo? – continuei com meu leve surto, dando pouca atenção às palavras dele – Pai, eu não acredito, é tão bom ouvir a sua voz! Eu estou definitivamente morrendo de saudades de você. Eu te amo, nunca se esqueça!

Eu não estava ficando louca ainda, mas era realmente verdade. Eu não conseguia acreditar que estava falando com meu pai, depois de tantos meses sem ouvir sequer a sua voz. Como o homem ocupado que sempre fora, ele acabava por não estar em casa todas as vezes que eu ligara. E, apesar de as conversas com a minha mãe serem como um delicado abraço em meu coração, falar com meu pai era diferente. Ele, mais do que muita gente, me via como sua eterna garotinha, o que significava que ele ainda me imaginava com as mesmas manias de algum tempo atrás, não gostava de me imaginar apaixonada por ninguém – embora ele não soubesse do pequeno problema que eu estava enfrentando, no momento – e, principalmente, esperava que eu ligasse em uma noite qualquer, pedindo para que ele viesse me buscar e levar para casa.

Era bom imaginar seus olhos brilhando ao falar comigo, mas eu esperava ficar longe dessa ideia de voltar para casa no Brasil, pelo menos por mais algum tempo.

 – Eu não vou esquecer... Eu te amo também, filha! – ele ficou um pouquinho mais sério, talvez surpreso pela minha pressa em preencher meses de conversa perdidos – Mas... Aconteceu alguma coisa? Quero dizer... Você parece nervosa? Está tudo bem, não está? Porque se tiver algo errado, pode me contar que eu vou aí resolver para você!
    – Não aconteceu nada, pai. Eu estou bem! – definitivamente, essa mentira estava ficando cada vez mais fácil de ser contada – Eu só... Estou feliz de ouvir a sua voz! Como eu disse, eu estou com saudades e eu nunca consigo falar com o senhor direito. A mamãe sempre atende e, quando eu pergunto sobre você, ela me diz que você não está. Se você não fosse meu pai, eu começaria a pensar que você está me evitando... Mas eu sei que você me ama, então essa hipótese não tem fundamento.
    – Bom, isso é verdade. – ele riu por pouco mais do que alguns segundos – Aliás, eu sinto muito por isso, eu gostaria de estar sempre aqui quando você ligasse, mas eu passei os últimos meses ocupado com milhares de coisas do trabalho. Só que eu estou de férias agora, o que significa que muito provavelmente estarei disponível sempre que você resolver ligar e, na verdade, eu espero que você faça isso mais vezes!
    – Vou tentar, prometo! Mas, às vezes, o tempo que eu acho que terei simplesmente desaparece, sem que eu nem note. É complicado...
    – Eu acredito... – seu suspiro quebrou meu coração, embora eu soubesse que a intenção não era essa – E, por falar nisso, como você está? Quando eu vou voltar a comprar álbuns seus ou viajar para algum show, hein?
    – Logo, eu espero... – respondi, com o máximo de sinceridade possível – Eu acho que só preciso resolver mais alguns detalhes por aqui, antes de voltar a trabalhar de verdade. Eu estou sentindo falta disso também!
    – E o Justin? Ele já está melhor? Se sim, vocês já terminaram?

Meu pai não fazia ideia da realidade da minha situação. A única coisa que chegara a seu conhecimento era que Justin sofrera um terrível acidente no final do ano passado, assim como todas as outras pessoas do mundo estavam sabendo. Mesmo que minha família devesse ter consciência desse fato importante da minha vida, não era fácil apenas dizer “ei, meu namorado, aquele que eu elogiei tanto quase obrigando vocês a gostarem dele, agora nem lembra o meu nome direito e está saindo com a minha melhor, aquela que eu tratei como irmã durante anos” para os meus pais. E outros conhecidos.

Eu ainda queria manter o pouco de orgulho e dignidade que ainda me sobrara, mesmo que esses se prendessem em formas toscas de ocultar a verdade!

Independente disso, as palavras de meu pai não foram interpretadas de uma forma maldosa, até porque o sonho dele desde que eu começara a namorar o Justin era que eu terminasse com ele. Mas que eu terminasse e não que eu fosse largada e ficasse a sofrer pelos cantos. Esse também era um ótimo motivo para que meu pai não ficasse sabendo de nada que acontecia ao meu redor, porque caso soubesse que eu estava sofrendo – mesmo que a culpa não fosse de ninguém, exceto minha – ele, com certeza, iria contratar pessoas competentes em matar outras e, então, teríamos uma terrível manchete de jornal sobre o assassinato de Justin Bieber.

 – Nós não terminamos, pai! – menti, me esforçando para não deixar que a voz falhasse – Aliás, ele já está bem melhor. Acho que ele deve voltar a ilustrar capas de revistas em breve, acabando de vez com todas essas notícias cheias de especulações sobre seu estado atual e ainda alguns boatos desnecessários!
    – Que pena! Você sabe que eu ainda não gosto dele, não sabe?
    – Sim. Assim como você não gostava do Lucas, do Chaz, de todo o resto dos meus amigos e de todos os garotos que já se aproximaram de mim...
    – Isso não é verdade! – se manifestou, como se eu tivesse dito alguma bobagem – Eu gostava um pouco do Lucas...
    – Pai!
    – Tudo bem, eu não gosto e nem nunca gostei dele! – admitiu, afinal – Você sabe que ele não é uma boa influência e, além disso, você sabe que eu tenho amigos que são pais das suas amigas e já ouvi algumas histórias não agradáveis sobre ele. Esse garoto parece que não sossega nunca. Eu ainda não sei o que você viu nele!
    – E adianta explicar, pai? – ri, surpreendendo-me ao descobrir que eu sentia falta desse jeito chato dele – De qualquer jeito, nada do que eu fale irá te fazer mudar de ideia. Então, vamos falar de outra coisa... Eu estou esperando surpreender vocês em breve!
    – O quê? Do que você está falando?

Já ia me prontificar a responder, utilizando de uma boa dose de suspense, quando ouvi um barulho na escada. Desviando minha atenção por alguns minutos, pude escutar com mais clareza os passos que desciam em direção à sala de estar e as vozes que ecoavam em uma animada conversa. Eram Justin e Manuela se aproximando, prontos para interromper minha ligação. Na verdade, eu poderia continuar ali normalmente, se não soubesse que ela – a cobra – entenderia perfeitamente tudo o que eu falava.

 – Pai, se eu contar, deixa de ser surpresa! – afirmei, apressando-me ainda mais – Bom, eu receio que tenha que desligar agora, desculpa...
    – Já? – sua voz mostrara que ele realmente não esperava por isso, o que me fez ter vontade de continuar com aquilo por, pelo menos, mais duas horas.
    – É, pai! – suspirei, sustentando meu desapontamento com a situação – Estão me chamando e... Além disso, eu não posso falar por muito tempo. Você sabe que essas ligações custam muito caro!
    – Ah, sim, imagino que o dinheiro gasto para falar com seu pai vá fazer muita falta em meio aos seus milhões ou bilhões de dólares. Coitadinha de você!
    – Você é tão bobo... – revirei os olhos, esperando que ele pudesse ver minha expressão – Isso foi só para ressaltar meu argumento, ok? A verdade é que estão me chamando e eu ainda nem tomei café da manhã, então eu tenho mesmo que desligar. Mas o que eu falei sobre uma possível surpresa é verdade, ok?
    – Espero que seja uma máquina do tempo que permita voltarmos à época em que você era bem pequenininha e ainda morava com a gente... – odiava o jeito como ele amolecia meu coração.
    – Bom... Não perca seu tempo tentando adivinhar! – pedi, rindo – Só relaxe e sinta a minha falta. Eu ligo logo para conversarmos mais, sério. Eu te amo, pai!
    – Eu também te amo, princesinha! Se cuida...

Então, eu desliguei a ligação, deixando um pedaço do meu coração encerrado ali também.
   Respirei fundo, ainda ouvindo as vozes do casal passarem pela sala e, provavelmente, seguiram até a cozinha, se afastando. Não fui capaz de sentir nada em relação a isso. A única coisa que realmente parecia importar no momento era eu mesma e eu sabia que o culpado disso era unicamente meu pai. Seu jeito único de fazer com que eu me sentisse importante estava dando resultados, justamente quando eu mais precisava. Pensando nele, eu comecei a lembrar que algumas pessoas gostavam de mim como eu era simplesmente e estava na hora de eu voltar a gostar disso também.

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Capítulo 15, babys :) 
  Então, aí está. Eu não tenho nenhuma boa notícia hoje, exceto a de que eu estou "trabalhando" em uma surpresa para vocês. Surpresa que eu não sei se vai dar certo, mas eu realmente espero que sim, ok? Ok!
  Tá. Sobre os comentários de vocês e pedidos que o Justin volte a se lembrar da protagonista o mais rápido possível... E, bem, vocês sabem que não vai ser "vocês pediram, no próximo capítulo acontece!", não, não vai ser assim, porque I'm a bad, bad girl, rs (: Mentira, mas é porque se não iria ficar muito sem graça, muito maçante. Então, não, não vai acontecer AGORA, mesmo que vocês me odeiem por isso. O que eu posso adiantar para vocês é que nós vamos nos desprender um pouco dessa onda de sofrimento sem fim. Aguardem e saberão!

  Por hoje, eu deixo para vocês o link de duas fics super nenis. Uma delas é de uma leitora aqui do blog, a Carol, e a outra tem a colaboração dessa mesma leitora, junto a uma meiguinha chamada Milena. São estas, respectivamente:


http://running-from-myself-fic.tumblr.com/
e...

http://animespirit.com.br/fanfics/historia/fanfiction-idolos-justin-bieber-love-me-908470 


Enfim, por hoje, eu acho que é só!
Fiquem bem e... Feliz dia do amigo atrasado para as minhas coisas mais lindas do mundo! Obrigada por tudo, nenéns. Boa noite!

01 julho 2013

4. You Make Me Love You - Capítulo 14



Tarde da noite

Música do capítulo: Inalcanzable - RBD

Belieber's POV 

   Sem estar muita certa do que estava fazendo, continuei subindo as escadas até o segundo andar, tentando me convencer de que eu era uma mulher decidida e não tinha nada a temer. Desacreditei dessa hipótese, logo após sentir uma necessidade absurda de rir só por ter me colocado em uma posição como essa. Talvez, “eu”, “séria”, “decidida” e “mulher” não combinassem muito em uma mesma frase. Eu parecia mais para garotinha assustada do que qualquer outro rótulo.

   Meu coração só realmente começou a bater mais devagar quando cheguei à porta do quarto que eu desejava e parei para refletir por um segundo. Embora o que eu planejasse fazer não fosse a coisa mais errada do mundo ou mesmo muito ousada, não seria legal se eu abrisse a porta e desse de cara com ela dormindo ao seu lado. Eu não estava me sentindo tão sensível a ponto de começar a chorar por causa disso, mas também não seria muito agradável se eu esfaqueasse alguém.

   Felizmente, a vida é feita de riscos! 

   Abri a porta devagar, procurando não fazer qualquer barulho que pudesse ser incômodo o bastante para acordá-lo. Dentro do quarto, o silêncio penetrante fazia com que as batidas do meu coração soassem muito mais altas do que realmente estavam. Eu nem ao menos sabia se estava nervosa a esse ponto por estar ali, escondida às três horas da manhã ou, simplesmente, por perceber que ele estava completamente sozinho.

   Apressei-me para chegar até a cama, hipnotizada por aquela imagem graciosa de Justin dormindo, profunda e encantadoramente. Embora parecesse que ele não acordaria nem com uma banda no quarto, eu não conseguia não enxergá-lo como um pequeno bebê adormecido após uma cantiga de ninar. Isso me fazia lembrar o quão maravilhoso era poder acordar, admirando aquilo e já ter um ótimo motivo para sorrir no primeiro segundo após abrir os olhos.

   Suspirei ao me sentar no cantinho entre o final da cama e o seu peitoral. De início, eu não tinha percebido as vantagens que esse lugar me proporcionara, mas assim que senti sua respiração tocar minha perna, um sorriso incontrolável preencheu meu rosto. Fazia séculos que eu não me ficava tão próxima dele assim, próxima a ponto de sentir o toque de sua pele, as vibrações do seu corpo perto do meu.

   Enquanto eu permanecia quieta, praticamente imóvel, eu não conseguia deixar de notar detalhadamente todas as mudanças que vinham ocorrendo há muito, muito tempo. Na época em que eu conhecera Justin, ele era o tipo certo de sonho de consumo adolescente. O cabelo às vezes muito bem ajeitado, e outra, levemente bagunçado; o rosto jovem com traços ainda suavizado com algumas características de criança; um brinco – estupidamente caro – sempre em uma das orelhas; o corpo típico de um adolescente que sonha em ser forte. Atualmente, embora ele continuasse sem ter muito mais cuidados capilares como antes, seu rosto já parecia completamente maduro; suas orelhas já não tinham mais nenhum tipo de acessório; e o corpo – e que corpo! – estava incomparavelmente mais musculoso, sem contar que ele mantinha um de seus braços completamente fechado por tatuagens, deixando-o visualmente ainda mais sexy.

   Em curto prazo, as mudanças eram ainda mais agradáveis. Seu físico já estava completamente recuperado de todas as consequências do acidente. Era como se quase não tivesse acontecido nada, a não ser pelo fato de que eu ainda me lembrava muito bem daqueles tubos de ar e de soro envoltos em seu corpo. Mas era só isso que sobrara: lembranças. Imagens de curativos, inconsciência e dias que pareciam infinitos não significavam nada, quando comparadas ao que estava diante de mim.

   Eu não tinha consciência da minha necessidade absurda de ter aquele homem, até o momento, mas foi se tornando incontrolável diante do retrato de um anjo como aquele. Na verdade, eu nem precisava de muito para satisfazer essa vontade, apenas o som de sua respiração, das batidas de seu coração, o calor de sua pele e a inconsciência tranquila em que ele se mantinha, enquanto dormia.

   Sem conseguir resistir a todos os meus impulsos de tê-lo para mim por somente um instante, ousei mover meu braço lentamente, sentindo meus dedos tremerem diante da ideia de tocá-lo mais uma vez. Porém, mesmo com essas sensações, desisti, afinal o que eu estava fazendo não parecia ter qualquer fundamento racional. Ou seja, eu não poderia simplesmente cede a vontades que poderiam colocar tudo a perder.

   Quando eu já estava me afastando de sua pele, as coisas começaram a fugir de meu controle. Sem qualquer aviso, Justin sentou-se na cama em um sobressalto, devido ao meu ato impulsivo. Ele parecia assustado – com razão – e eu precisei segurar a respiração para não deixar um grito histérico de surpresa escapar. Afinal, eu já parecia louca o suficiente por estar ali no meio da noite em segredo, não precisava de mais nada para completar meu atestado de insanidade.

   – O que você está fazendo aqui?

   Enquanto eu buscava uma resposta, no mínimo, decente para a situação, seus olhos assustados me chamavam atenção. Embora ele não me encarasse de fato, havia algo no modo como ele estava alarmado, que fazia com que eu me arrependesse de tudo o que eu fizera até então. E eu não estava falando sobre o dia em questão, mas sim sobre todas as minhas tentativas frustradas de aproximação.

    Eu não tinha ideia de como equilibrar aquela estúpida bandeja e também empurrar a porta. Aliás, já estava me arrependendo de ter pedido à enfermeira para deixar que eu levasse o almoço, porque não havia jeito de eu entrar naquele quarto, sem antes derrubar tudo o que estava em minhas mãos. Mas eu arranjara essa situação – pedindo a todos que fossem almoçar, que eu tomaria conta de qualquer imprevisto – com a estúpida intenção de ganhar algum tempo com ele, agora eu tinha que lidar com isso. O que eu tinha na cabeça quando propus aquilo?

    Foi preciso utilizar toda a minha inteligência e agilidade, que não era muitas, para afinal conseguir entrar naquele quarto. Ainda assim, quando já estava fechando a porta atrás de mim, Justin virou-se em minha direção e, novamente, quase que tudo foi parar no chão. Definitivamente, era muito mais fácil permanecer ali, quando ele estava dormindo, porque assim eu não tinha que encarar e tentar encobrir seus efeitos avassaladores sobre mim. Era meio embaraçoso.

    Notei Justin se endireitan
do suavemente, enquanto eu me aproximava devagar. Embora as expressões de desconforto físico que ele fazia me incomodassem um pouco, dava para perceber que sua nova posição na cama, era um aviso implícito para que eu não me aproximasse tanto assim e permanecesse no espaço que ele me cedera. Era bizarro ter certeza disso, mas, mesmo que ele achasse que não, eu o conhecia o suficiente para saber o motivo de cada movimento que o mesmo fizera.

    Me acomodei devagar em um cantinho mínimo da cama, tomando o cuidado de não encostar em Justin, apenas para respeitar seu espaço e também com medo do nível atual de fragilidade do seu corpo. Com cuidado, ajeitei a base da bandeja, colocando-a em uma posição que eu considerava boa o suficiente para ele, já que eu tinha certeza que o mesmo não se dirigia a mim com tanta facilidade.

    “Você não precisa fazer isso...”

    Contrariando minhas convicções, sua voz saiu arrastada por entre seus lábios, quando eu enchi a colher do caldo quente da sopa. Eu sabia que aquilo parecia infantil, mas devido às suas condições – em que seus dois braços tinham uma limitação para alguns movimentos – parecera a melhor opção. Aparentemente, Justin não pensava assim, ou pior, pensava, mas continuara a temer minha aproximação de tal modo que até minhas tentativas de auxílio eram rejeitadas por ele.

    “ Tudo bem”, suspirei. “Vá em frente..”.

    Soltei a colher, semi mergulhada na sopa e fingi distração enquanto Justin se esforçava para começar o processo de “eu posso fazer sozinho”. Um longo minuto se passou até que ele movesse o braço engessado, esforçando-se para chegar até o prato. Quando o fez, ele não pareceu tão confortável em segurar a colher tendo aquele gesso se estendendo até metade da sua mão. E levar o conteúdo da colher até a boca também não pareceu muito fácil, já que Justin conseguiu derrubar grande parte na bandeja.

    Soou mal, mas eu realmente precisei morder os lábios para não rir. Eu sabia que se estivéssemos em um dia normal, em uma situação normal, eu começaria a imitá-lo, exagerando na característica de querer sempre pagar de machão independente, mas provavelmente ele não tinha nem consciência de que estava agindo assim. A única coisa que ele queria era não ter que estar sozinho comigo e, principalmente, ser dependente de mim para fazer coisas que ele deveria poder fazer sem ajuda. Ainda assim, tentei não condenar isso, quando ele afinal se dirigiu a mim, sem graça:

    “Talvez, eu possa fazer isso melhor com ajuda...”

    Sorri, satisfeita por ter permissão para fazer algo por ele, já que havia tempo que eu vinha me sentindo inútil naquele hospital. Assim, tomei a colher em mãos novamente e, enchendo-a de sopa, levei-a até a boca de Justin, que não parecia tão tentado a ingerir aquele prato, porém encarou as primeiras doses sem fazer careta. Só realmente me pediu para parar quando teve vontade de beliscar o pequeno pãozinho, que permanecia intocado em um canto da bandeja.

    Pronta para realizar todas as suas vontades, cortei o pão em fatias menores, apenas para facilitar a sua vida. Em seguida, com o intuito de não me distrair e acabar encarando o menino, concentrei-me em examinar o que restara para encerrar a refeição, enquanto Justin ia devorando o pãozinho com muito mais vontade do que fizera com a sopa. Ocupada demais, tentando adivinhar todas as frutas contidas em uma pequena taça abandonada sem chamar qualquer atenção, assustei-me quando aquela maravilhosa voz melódica entrou novamente pelos meus ouvidos.
   
    “Você viu minha mãe?”
    “Hã...”, eu precisei de um momento para associar as palavras e seus significados. “Todo mundo foi almoçar, eu assegurei que ficaria tudo bem e que eu tomaria conta de qualquer coisa. Está tudo bem para você, não é?”
    “Claro!”

    Justin não pareceu muito convincente, mas fez um sinal para que eu terminasse de lhe dar a sopa e foi o que eu fiz, tentando não refletir muito sobre a situação, que eu sabia não estar a meu favor. Mas, ainda assim, não era tão fácil quanto deveria ser, porque a cada vez que eu levava a colher até a sua boca, eu tinha que notar que ele estava sempre olhando para um lugar diferente na tentativa de não ter que olhar para mim, o que era desconcertante e... Triste!

    Mas eu precisava afastar isso de mim...

    Quando Justin, afinal, acabou, parecendo muito satisfeito por isso, pegou com um pouco mais de agilidade o pequeno pote de salada de frutas, que eu admirara minutos atrás. Era bom ver que ele estava lidando bem com aquilo, porém isso acabava com a minha utilidade no quarto, fazendo-me questionar se já não estava na hora de me retirar. Eu só não queria ter que fazer isso, não queria ter que me afastar dele, porque mesmo sem haver conhecimento de sua parte, ele me fazia bem como ninguém mais.

    “Justin, posso te fazer uma pergunta?”

    Tentei não me arrepender de ter deixado essas palavras saírem da minha boca, afinal, eu precisava de um motivo para permanecer ali, mesmo que ele não olhasse para mim, mesmo que ele me ignorasse, eu precisava tentar. E, junto a isso, estava a minha curiosidade e minha carência, que se relacionavam perfeitamente com a questão que eu tinha em mente e eu realmente esperava que ele respondesse e não interpretasse mal.

    “Hã...”, ele não pareceu muito confortável com isso. “Sim.”
    “Como você se lembrou da sua mãe?”, perguntei mesmo assim, embora me sentisse um pouquinho sem graça. “ Quero dizer... Qual foi a primeira coisa que veio à sua mente quando a viu?”

    Houve uma pausa bastante longa, que me fez perder as esperanças de qualquer comunicação entre nós. Aliás, no momento, Justin nem mais olhava para algo específico dentro do quarto e, sim, focalizava a paisagem do lado de fora, concentrado na janela entreaberta. Sinceramente, senti uma vontadezinha bem sutil de me estapear, porque possivelmente fora a pergunta mais idiota que eu já pensara na vida. Na verdade, eu não sabia nem o motivo pelo qual eu deixara aquilo escapar, já que possivelmente ter a resposta dessa questão não resolveria meus problemas como eu queria.

    “Eu...”, Justin suspirou pesadamente, parecendo pensativo. “Eu não sei bem para falar a verdade. Bem, quando eu acordei aqui no hospital e, então, ela e meu pai entraram por aquela porta, eu tive uma sensação boa. Mas, quando eu olhei para os olhos dela, eu soube. Ela estava me olhando com aquela típica preocupação que toda mãe tem, sabe? Foi como se passasse um filme na minha cabeça de todas as vezes que ela havia feito o mesmo...”

    Justin riu, logo em seguida, como se aquela fosse uma boa lembrança e eu não consegui me controlar, deixei um pequeno sorriso escapar pelo canto dos meus lábios. Eu queria que continuasse assim, porém acabou mais rápido do que eu poderia imaginar. Logo que ele percebeu a alteração no meu humor, ficou sério, como se eu o tivesse ofendido de alguma forma. Esse tipo de atitude era, com certeza, a que mais me destruía por dentro. Me dava vontade de sacudi-lo pelos ombros e perguntar por que ele estava fazendo aquilo comigo. 

    Além disso, sua resposta fora um tanto frustrante, considerando que não me trouxera qualquer solução, como eu já previra. Mas, mais do que isso, era estranho ouvi-lo falar desse modo e reconhecer que isso não acontecera comigo e, muito possivelmente jamais iria acontecer, porque ele evitava qualquer tipo de contato visual ou físico comigo. Se eu não me engano, essa era a nossa conversa mais longa desde que ele acordara, o que para mim soara aterrorizante, porque no mundo inteiro, Justin era a pessoa com que eu mais tinha intimidade, e isso tornava sua falta ainda mais dolorosa.

    “Você se incomoda, não é?”, miou Justin, tão baixinho que eu tive dificuldade de ouvir. “Porque eu não me lembro muito bem de você, não é?”
    “Não...”, me esforcei para sorrir, apenas para parecer desagradável.

   Eu estava falando a verdade, surpreendentemente. Eu realmente não me sentia incomodada com seu quadro atual, porque não era culpa dele. Mas, apenas disso, doía e isso eu não podia negar. Doía saber que quase todo dia ele ia lembrando algo – mesmo que mínimo – sobre alguém ou alguma coisa. Doía ver esse tipo de progresso e saber que nem uma pequena parte de mim fazia parte disso. E, mesmo assim, inexplicavelmente, era mais fácil continuar guardando isso só para mim...

    “Eu só me incomodo com você, deitado nessa cama.”, completei. “Ainda dói muito?”
    “Não tanto”, respondeu, enquanto analisava seu braço. “ Eu ainda não me acostumei com o gesso e o tubo do soro incomoda um pouco, mas a enfermeira disse que iria tirá-lo assim que essa dose acabasse e acabou, então eu espero que ela não demore muito. Mas é só isso! Os hematomas já estão sumindo e a costela também não dói mais tanto assim...”

    Sua voz foi diminuindo quando ele falou dos últimos dos seus problemas e eu soube, no mesmo instante, que ele estava mentindo, mas eu não estava em posição de acusação, então apenas assenti, perpetuando aquele silêncio frio e cortante. Parecia que ficar sem falar fazia com que meus pensamentos acelerassem e isso não era bom como parecia, especialmente quando eu estava sozinha com Justin, porque por mais que eu quisesse, sempre acabava por externar coisas que melhor seria se ficassem em segredo.

    Pelo canto do olho, ainda prezando pela discrição, observava Justin terminando o resto da sobremesa. Eu tentava me manter focada o suficiente no que acontecia ao meu redor, mas na maioria das vezes, minha mente conseguia me guiar para uma direção que eu não desejava e eu acabava por voltar a criar hipóteses impossíveis em que meu namorado magicamente se lembrasse de mim. Sim, eu sabia que não era o melhor jeito de lidar com isso, mas também não era tão ruim quando voltar para uma das piores épocas da minha vida, ou seja, voltar a ficar tão desorientada, a ponto de não ter certeza do que é viver.

    Obriguei-me a não ignorar mais a realidade e, então, virei-me completamente para Justin, sem me importar se isso o deixaria ou não constrangido. Felizmente, isso não aconteceu, porque ele sequer reparou minha mudança de posição, apenas limitou-se a devolver a taça vazia à bandeja. Ele não tinha como saber, mas logo abaixo de seu lábio inferior, saudavelmente rosado, havia rastros de uma fruta qualquer, manchando seu rosto impecavelmente limpo. Ironicamente, isso o fazia parecer ainda mais dependente, ainda mais criança e, ainda mais tentador para meus cuidados.

    Com delicadeza, debrucei-me sobre ele, aproximando minha mão de seu rosto, com o único intuito de livrá-lo daquela constrangedora manchinha. Mas, aparentemente, isso não havia ficado claro para ele. Logo que Justin notou que eu estava aproximando-me de sua pele, hesitou, afastando-se discretamente o máximo que lhe era permito pelo espaço. Poderia parecer pouco, mas para mim era o suficiente para me dar a certeza de que, se fosse possível, ele já teria saído daquele quarto há muito tempo, só para evitar ao máximo a minha desagradável companhia.

    “Está sujo...”, avisei, demonstrando em mim o local específico.

    Suspirei, enquanto observava seus movimentos lentos para fazer o que eu tentara anteriormente. Embora eu soubesse o que deveria fazer, meu coração preocupado estava travando uma batalha árdua contra meu seguro e saudável lado racional e, assim, sem que eu tentasse reprimir minha confusão interna como sempre fazia, meu próprio corpo cedeu à pressão da parte de mim que ainda queria me ver bem. Me levantei devagar da cama, disposta a ir embora e, principalmente, a parar de forçar uma coisa que não iria acontecer de uma hora para outra.

    “Nós éramos próximos?”

    Como um imã exercendo a força de atração a polos opostos, a voz de Justin fez com que eu parasse no mesmo lugar e vira-se para ele mais rapidamente do que eu achava ser capaz de fazer. Toda a minha vontade de me retirar dali, misturada com a angústia que sufocava meu peito pareciam ter se escondido embaixo de um canto qualquer dos meus sentimentos. Mais do que qualquer coisa, eu queria no momento responder aquela pergunta como ela merecia. Queria poder beijá-lo tão intensamente que não restariam mais dúvidas sobre nosso nível de proximidade, sobre aqueles últimos dias e, principalmente, sobre o que ele realmente sentia por mim.

    Infelizmente, eu estava congelada demais para fazer isso, enquanto era lentamente enforcada por todas as palavras que se acumulavam em minha garganta, mas se recusavam a sair, simplesmente por não terem certeza da ordem em que deveriam fazê-lo. Havia muitas respostas para aquela pergunta, respostas que transbordavam dos meus olhos o tempo todo, mas nenhuma delas parecia certa. Pelo menos, não quando estávamos em um mundo, onde o garoto que me abraçava apertado e tirava meu fôlego com um olhar, se recusava a respirar o mesmo ar que eu.  

    Já estava à beira de um colapso com aquela situação, quando a porta do quarto se abriu, interrompendo o momento e jogando todas as palavras entaladas em minha boca novamente para onde elas tinham vindo. Supostamente, eu deveria ficar frustrada com a interrupção e, talvez, até bater a porta na cara daquele que havia ousado entrar naquele exato segundo, mas, pelo contrário, eu estava imensamente aliviada, por não estar mais ali sozinha com a minha tendência absurda a passar vergonha. Afinal, muito possivelmente Justin estaria bem mais seguro se tivesse outra pessoa no quarto, além de mim.

    “Com licença...”, a voz docinha de Manuela não me chamou atenção.
    “Oi, Manu!”, miei, esquecendo como se falar normalmente. “Tudo bem?”
    “Claro, por que não estaria?”, ela fechou a porta do quarto, antes de caminhar até nós.“Na verdade, eu só vim aqui para liberar você para ir almoçar. Eu prometi para o Lucas que iria tomar conta de você e é isso que vou fazer, mocinha!”
    “Tudo bem, eu já estava de saída mesmo! Eu vou aproveitar e chamar a enfermeira para tirar esse soro de uma vez e levar essa bandeja...”, informei, apressando-me até a porta.

     No mesmo instante em que eu me afastei, caminhando até a saída e tentando ser rápida, Manuela ocupou meu lugar anterior na cama, ao lado de Justin. Era quase impossível não perceber como ele se sentia mais à vontade perto dela, aliás, quase dava para ver toda a sua tensão se dissipando rapidamente apenas por essa substituição rápida. Embora eu soubesse que não deveria ter qualquer tipo de ciúmes – afinal, ela era a minha melhor amiga –, eu ainda sentia uma dorzinha chata me incomodando e permitindo que eu me visse como facilmente descartável.

    “Você ainda não respondeu minha pergunta...”, Justin interrompeu meus pensamentos com um tom mais alto do que ele costumava usar geralmente comigo.
   
    E faria diferença se eu dissesse “sim”?

    Por mais que eu quisesse, não seria aquela pergunta que devolveriam nossos momentos a sua memória. Não seria aquele o dia em que ele olharia para mim e se lembraria de todas as vezes que ele fez meus ossos derreterem dentro do corpo com apenas uma troca de olhares. Não seria eu que estaria naquele quarto na próxima hora, tendo uma conversa normal, fazendo-o sentir bem por um tempo mais longo. Aparentemente, Justin estava bem com isso, com essas certezas e, se aquela realidade servia para ele, servia para mim também.

    “Deveríamos ser?”

    Era a única coisa que poderia ser dita, porque era a única que realmente contava, a opinião dele sobre mim e sobre qualquer passado que me relacionasse a ele. Mesmo que Justin não se lembrasse de mim, faria diferença se ele apenas quisesse a minha presença apesar disso, como se pudéssemos nos conhecer novamente. Mas não estava sendo assim, aliás, ao contrário, era simplesmente como se fossemos dois estranhos. Pior do que isso, quase como inimigos por debaixo dos panos, já que nenhum de nós externava o que estávamos pensando e muito possivelmente ele também desejava que eu sumisse da sua vida.    
  
    Não esperei por uma resposta que eu sabia que não viria, assim, me limitei a acenar suavemente com a cabeça, antes de sair do quarto, deixando que os dois ficassem sozinhos. Minha ausência fazia bem, não só para Justin, mas também faria muito bem a mim, se eu por descuido me esquecesse de me fazer tão presente em mim mesma. Se eu pudesse ser outra pessoa, com sentimentos e lembranças diferentes dos que restavam agora...


   Justin continuava a esperar uma explicação, enquanto um longo filme passava rapidamente em minha cabeça. Assim como eu não achava uma resposta naquele dia, eu estava também sem argumentos no momento. Junto a isso, tentava me controlar para não deixar um choro idiota recomeçar mais uma vez. Embora eu soubesse que aquilo parecia bobo, aquelas lembranças soavam mais como trinta tapas na minha cara, considerando que na época eu acreditava demais em coisas – ou melhor, pessoas – que não deveria...

   – Bom, eu... – respirei fundo, tentando ganhar tempo – Na verdade, eu ouvi um barulho lá de fora, quando estava descendo para beber água e achei melhor vir verificar se estava acontecendo alguma, para ter certeza que está tudo bem!

   A minha demora para completar a frase, deixava claro que eu não estava mentindo muito bem e, possivelmente, não estava sendo nem um pouco convincente.

   – Eu não ouvi nada... – refletiu ele, com uma expressão que comprovava minhas suspeitas.
   – Provavelmente, não foi nada mesmo! – continuei, tentando me superar dessa vez – Eu só fiquei preocupada.
   – Obrigado, mas eu estou bem...
   – Aposto que sim. – suspirei – Nesse caso, é melhor eu voltar para o meu quarto, afinal, ainda falta um longo pedaço da noite pela frente.

   Me levantei da cama devagar, tentando lutar contra todos os músculos do meu corpo, que pareciam se recusar a sair de perto dele. Aparentemente, eu estava me recusando a cometer o mesmo erro novamente, mas apesar disso não tinha opção, eu não era mais uma criança para agir por impulso sempre que eu quisesse. Infelizmente, eu era obrigada a me preocupar com as consequências de todas as minhas ações e, por hora, eu não poderia lidar com a avalanche de desastres que começaria, caso eu me deixasse levar por vontades e sentimentos. Não era o momento para isso.       

   Ainda assim, tocar a maçaneta da porta me fazia pensar duas vezes se eu deveria sair dali como se tivesse acreditando nas minhas próprias mentiras banais. Eu ainda não tinha certeza se valeria a pena esperar até que eu morresse sufocada com todas aquelas verdades quase transbordando do meu corpo. Mas, não era eu quem deveria escolher. E foi isso que Justin fez, virando-se para o lado oposto e cobrindo-se novamente, antes que eu pudesse sair do quarto, antes que eu pudesse varrer os pedaços de mim dali.

   – Justin... – mesmo após chamar seu nome, não tive um retorno e permiti que minha voz fosse diminuindo, já que permanecíamos em um silêncio duradouro – Desculpa por ter te acordado, mas talvez você deva saber que a sua dúvida pode ser resolvida com um “nem tanto”...

   Não tive uma resposta, como de costume.

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Capítulo 14, babys! :)

  Ai, ai, nem acredito que consegui postar dois capítulos em um único dia, que emoção! Hahahaha
  Enfim, gatinhas, espero que tenham gostado e... Eu estou meio atrasada para fazer outras coisas agora, então eu vou deixar para reler com calminha os comentários que ainda não li e responderei lá na page do blog no facebook!
  Por hoje, é só! Boa noite! :)