27 fevereiro 2013

3. You Make Me Love You - Capítulo 59 (Final)




Funeral de memórias

Música do capítulo: Last Kiss - Taylor Swift                                                                                                                     (3 semanas depois...)

Belieber's POV
  
As últimas semanas pareceram se arrastar, com cada dia aparentando ser composto por cem horas. Infelizmente, Justin não mostrava nem um tipo de melhora em seu quadro. A única coisa que mudara drasticamente durante esse tempo fora a rotina no hospital. Agora, eu era obrigada a fazer um breve revezamento entre o quarto de Justin, a sala de espera e uma estúpida suíte em um hotel qualquer perto dali. Eu não gostava disso, mas Pattie estava sempre preocupada comigo o bastante para se certificar de que eu estava descansada e alimentada – o episódio do desmaio havia deixado muita gente assustada.

   Assim, incapaz de seguir todos esses critérios como deveria, eu apenas enrolava na maioria das vezes. Saia do hospital, somente após chegar ao limite e, então, seguia para o hotel perto dali, tomava um banho e vestia outra roupa – essas haviam sido compradas por Lucas, a pedidos de Scooter, em uma loja perto dali, já que eu me recusava a sair dos limites daquele quarteirão. Eu também tentara escapar da comida algumas vezes, mas sempre que eu passava pela porta do hotel para o meu quarto, vinha um funcionário com uma bandeja, trazendo a refeição propícia, como serviço de quarto. Eu não sabia quem havia estipulado isso para mim, mas definitivamente não me agradava ter que enfiar qualquer tipo de alimento em minha boca e me obrigar a engolir.

   Durante o tempo em que eu ficava no hotel, algumas poucas vezes, eu conseguia pegar no sono, mas era rápido. Quase sempre que meus olhos se fechavam, eu tinha o mesmo sonho relacionado com o estado de saúde de Justin piorando no hospital. Obviamente, eu acordava depressa e corria para voltar para perto dele o mais rápido possível. O meu recorde de sono contínuo era de quatro horas. Em outras palavras, eu estava completamente acabada, tanto física como emocionalmente.            
       
   O movimento no hospital também havia mudado bastante nos últimos dias. Scooter, por exemplo, não pudera mais ficar em tempo integral, tendo milhares de outras coisas que requeriam sua atenção e sem conseguir desmarcar todas. Mas ele sempre dava um jeito de se encontrar presente periodicamente. Assim como ele, Lucas também já não estava mais lá. Apesar da sua relutância em me deixar ali, sabendo como eu estava, tive que insistir para que ele voltasse para o colégio. Eu tinha consciência de que ter de me ver daquele jeito não era bom para ele e, mais que isso, ficar ali, perdendo as tantas aulas que estavam acontecendo em seu colégio no país vizinho, não lhe faria bem, no futuro.

   Além disso, diversas outras pessoas também passaram por ali, durante aquelas semanas. A maioria eu conhecia, o que não eu não considerava tão bom assim. Eles sempre se prestavam a vir falar comigo e com Pattie, o que me obrigava a dissimular um otimismo ridículo e um meio sorriso consolado falso, enquanto meu rosto permanecia completamente inchado. Porém, oposto a esses, passaram por ali também, pessoas que eu me recordava de ter visto uma vez ou outra e não tinha qualquer tipo de intimidade. Era mais fácil lidar com esses, já que na maioria das vezes, eu apenas precisava cumprimentá-los brevemente sem qualquer expressão falsa, e, logo, eles dirigiam sua atenção a algo mais interessante que a jovem com aparência de mendiga atropelada.

   A única visita não passageira fora a de Jeremy. Ele havia chegado um pouco mais tarde do que esperávamos, devido a um atraso no voo, mas após chegar era realmente raro vê-lo sair dali para qualquer coisa. Eu quase nunca tivera a oportunidade de ver meu sogro agindo como pai – o que era uma pena, na verdade, pois eu apostava que ele fazia um bom trabalho como tal, com Jazzy e Jaxon –, mas os últimos dias valiam por todas as chances perdidas.

   Era incrivelmente perceptível o quão doloroso era para ele ter que deixar o quarto de Justin, todas as vezes que era necessário. Embora Jeremy não tivesse a intenção de monopolizar aquilo, eu acabava me sentindo mal sempre que nos revezávamos no cômodo. Parecia que eu estava lhe privando de mais alguns momentos com o filho. Mas apesar de toda essa situação horrível, ele não se afastara dali de jeito nenhum. Assim, meu querido sogro também estava presente naquela tarde incomum...

   O dia havia transcorrido como todos os outros, durante o período da manhã. Até o usual momento em que uma enfermeira pediu que eu me retirasse do quarto para que ela pudesse trocar o soro. Eu já estava começando a me acostumar com essa rotina, porém nunca ficava mais fácil ter que sair dali, pelo contrário, cada vez parecia pior. Sem muitas alternativas, como sempre, me retirei do quarto, após dar um beijo em Justin e retornei ao corredor, que nos últimos dias, já quase aparentavam ser parte do meu lar.

   Não me prontifiquei a esperar a saída da enfermeira ali, já que era a hora de dar uma chance a Pattie, considerando o fato de que ela me concedera a manhã inteira com seu filho. Assim, segui novamente para a sala de espera, para onde era sempre um sofrimento retornar. Aquelas cadeiras já estavam de tornando desagradáveis e torturantes, à medida que os dias passavam e mais tempo eu tinha que permanecer sentada sobre elas. Ou, talvez, eu estivesse culpando objetos inanimados por toda a pressão de mudanças que nunca aconteciam.

   Ao finalmente chegar ao lugar que tinha em mente, notei a ausência dos dois adultos que eu esperava estarem ali. Deduzi pela indicação das horas no relógio enorme na parede da sala, que Jeremy deveria ter levado Pattie para almoçar. Era a única coisa que eu conseguia pensar, já que ele também sempre garantia um tempo para dirigir um pouco de sua preocupação a nós. Assim, o que me restava era aguardar, sem poder retornar ao quarto, pois a ideia de ter que ultrapassar a dor de deixá-lo mais uma vez tão rapidamente não parecia tão agradável.

   Perguntei-me quanto tempo mais aquilo duraria. Será que essas semanas, dias e horas infinitas não acabariam nunca? Será que esse sofrimento, essa angústia duraria para sempre? Por quanto tempo mais eu teria que suportar ver meu bebê daquele jeito horrível? Por quanto tempo mais eu teria que aguentar aquilo, sustentando esperanças sem fundamentos, enquanto tentava não desistir de tudo?

   Antes mesmo que eu pudesse terminar meus questionamentos, notei a porta principal do hospital se abrir e, então, um casal entrou em um passo constante. Eles pareciam conversar casualmente, mas a expressão em ambos os rostos não conduzia com o caráter de algum tipo de assunto simplório. Aparentemente, Pattie havia sido a primeira a notar que eu agora permanecia sentada em silêncio na sala de espera, o que significava que o quarto estava completamente disponível para os dois. A morena apertou o passo para chegar a mim mais rapidamente, enquanto Jeremy seguia um pouco atrás.

   - (Seu nome)... – começou ela, diante de mim.
   - Pode ir em frente! – interrompi, tentando forçar um sorriso, mas sem muito sucesso – Ele é todo seu.

   Pattie assentiu devagar, antes de pedir licença educadamente. Ela tocou o braço de Jeremy, levando-o pelo corredor em que mais transitáramos nos últimos dias. Os dois ainda continuavam a passos largos, quase correndo, tomados pela ansiedade, enquanto eu observava, calada. Era estranho vê-los assim tão ligados por um mesmo sentimento em determinada situação e pensar que eles não estavam juntos há tanto, tanto tempo, embora atualmente isso não passe de mais uma casualidade.

   Mesmo após a sombra deles sumirem em outro corredor, me esforcei para continuar mantendo minha mente distraída com algo tão simples. Imaginei um final alternativo para os dois, onde eles fossem um casal de jovens adultos apaixonados e pudessem terminar com um final feliz e clichê. Mas era ridículo perder tempo pensando em algo como aquilo, até porque se eu não tivesse a estúpida idealização de felizes para sempre ou vida perfeita, talvez, eu não estivesse tendo que suportar uma dor tão forte agora, enquanto via todo o meu castelo de areia ser destruído por um maremoto.

   Suspirei, me esforçando para guardar todo aquele sentimento doloroso dentro de mim e trancá-lo em uma caixa com algum tipo de cadeado emocional. Era incrivelmente masoquista o que eu estava fazendo, mas parecia inevitável. Já era para eu estar mais do que acostumada de ter que passar todo o meu tempo livre sozinha me torturando com um pensamento mais melancólico do que o do dia anterior. Aparentemente, o sofrimento deveria ser algo muito seguro para mim.

   Me levantei, desnorteada. Estava cansada de ficar naquele hospital. Não cansada no sentido literal da palavra, mas eu sentia como se precisasse sair dali, antes que me afogasse mais em mim mesma. O hotel foi o primeiro lugar que me ocorreu, mas também não era muito reconfortante lá. Para falar a verdade, não fazia muita diferença. Os dois lugares eram preenchidos com pessoas que não me dariam a atenção que eu necessitava e só me tratariam como mais uma cliente ou perambulante. Eles faziam os meus problemas parecerem tão exclusivamente meus, que meu coração se apertava devagar.

   Antes que eu pudesse me dirigir à saída, a sombra dupla no corredor apareceu novamente. Meu discreto desespero, de alguma forma, me deixava mais sagaz em algumas situações, de modo que pude reconhecer rapidamente Jeremy e Pattie voltando pelo mesmo caminho. Havia tão pouco tempo que eles haviam saído de perto de mim, que era óbvio e ululante que algo estava errado.

   Congelei minha expressão facial em algo mais sereno, com todo o esforço possível, antes de retornar ao meu lugar na cadeira. Paciente, esperei até que meus sogros percorressem todo o caminho até onde eu estava, fingindo uma indiferença que não era minha. Eu sabia que se eles notassem meu pânico, tentariam amenizar qualquer notícia assustadora que os fizera voltar. Não podia culpá-los. Afinal, eles não faziam isso por mal, era apenas um mecanismo – em nada funcional – para proteger pessoas mais jovens, como eu, de algo que pudesse magoar.
   - O que houve? – perguntei, quando eles já estavam próximos o suficiente.
   - Não sabemos... – respondeu Pattie – Uma enfermeira que saia do quarto pediu para que não entrássemos, porque alguns exames estavam sendo feitos.
   - A essa hora?

   A morena não tinha uma resposta para minha pergunta, então apenas se sentou, junto a Jeremy, em completo silêncio. Respirei fundo, buscando algum sentido em tudo aquilo, mas não havia, pelo menos, eu não conseguia enxergar nenhum e, aparentemente, não era a única. Aas duas pessoas ao meu lado permaneciam com expressões tão confusas quanto a minha. Era claro que não era uma armadilha mental dessa vez, eu realmente tinha motivos para ficar preocupada com a situação incomum.

   Tentei manter a calma, imaginando que fosse apenas uma mudança na rotina, que passaria a se seguir desse modo agora. Mas o autocontrole não foi o bastante, quando passou a primeira hora desde que eu tinha deixado Justin. Assim, a tortura se reiniciara novamente. Algum tipo de jogos mortais da vida real estava acontecendo ali, enquanto uma equipe de médicos brincava conosco inconscientemente por longas e longas semanas. Mas, diferente da versão mais macabra em filme, aquilo não tinha um fim. Ou se tivesse, talvez ele estivesse mais próximo do que eu gostaria.

   Mais duas horas se passaram. Jeremy já estava andando em círculos pelo espaço fazia quinze minutos e seu movimento contínuo de ansiedade só me fazia ficar mais nervosa, quando meu coração bateu tão forte que me proporcionou uma real dor física. Pelo que eu aprendera nas últimas semanas, aquilo poderia significar que o pior ainda chegaria. Parecia ilusório, mas eu realmente estava desenvolvendo algum tipo de sensibilidade diante do que ocorria a minha volta. Corri os olhos pelo local, buscando vestígios de que eu estivesse certa em relação ao meu pressentimento.

   Ao longe, algo me chamou atenção. Dois médicos altos e jovens caminhavam pelo mesmo corredor habitual, parecendo debaterem sobre algo que ia além do conhecimento de todos. Na verdade, aquela seria uma cena como outra qualquer em meio aquele ambiente, podendo até passar despercebida, se não fosse por um único detalhe. Um dos homens era bonito, moreno e incrivelmente familiar. O mesmo rapaz que havia nos dado a dura notícia de que Justin estava em coma, há algumas semanas.

   Pelo canto do olho – tentando ser mais discreta do que da última vez –, observei enquanto o homem desconhecido dava de ombros para algo que lhe havia sido dito, antes de mudar seu caminho, seguindo até a recepção. Ao contrário deste, o moreno continuou andando em nossa direção, ao mesmo tempo em que examinava uma prancheta que estava carregando. Sua expressão estava ligeiramente mais suave e tranquila do que a última vez que eu a tinha visto.

   Suspirei, reagindo a aproximação pausada. Já podia sentir distintamente o sangue em minhas veias ardendo, enquanto levava para todo o meu corpo, uma onda de ansiedade. Aquele estado de alerta no qual eu já estava, podia muito bem me ajudar a me preparar para qualquer coisa que estivesse prestes a ser dita, mas não tive todo o tempo que eu realmente necessitava.

   - Boa tarde! – cumprimentou o médico, já diante de nós.
   - Doutor Alves! – Pattie se levantou em um sobressalto. – O que aconteceu? Como está o meu filho?
   - Pode ficar tranquila, senhorita Mallette! – tranquilizou ele, com um pequeno sorriso se formando no canto dos lábios – Nós tivemos um enorme avanço com seu filho, hoje.

   “Nós tivemos um enorme avanço”. Tentei traduzir essa frase sem qualquer gota de eufemismo. Avanço significava algum tipo de progresso. Justin estava em coma. Logo, o seu quadro havia piorado. Algo pior do que um coma estava se passando naquele quarto. Morte. Em outras palavras, Justin estava morto!

   - O que aconteceu? – repetiu Jeremy, cego pela esperança de boas notícias.
   - Hoje, mais cedo, quando a enfermeira entrou no quarto para trocar o soro, houve uma pequena reação, bastante inesperada, na verdade, já que se tratava de um processo rotineiro. Assim, nós mantemos Justin em observação por alguns minutos e... Bem, seu filho está completamente consciente agora. Ele saiu do coma!

   Pensei ter visto o olhar de Pattie se iluminar imediatamente, mas não estava bem o suficiente para enxergar com clareza, então ignorei a imagem que meu cérebro indicava que eu estava vendo. A única coisa que passava pela minha cabeça era absolutamente nada. Meu coração simplesmente batia tão intensamente rápido – de uma maneira que nunca tinha acontecido antes – que por mais que eu me esforçasse para acalmá-lo, parecia impossível. Eu nem conseguia ter algum tipo de reação, ou mesmo, acreditar no que estava ouvindo. Era bom demais para não ser um sonho...

   - ... acontecer! – peguei a fala da minha sogra pela metade, quando afinal consegui me concentrar em algo que estivesse acontecendo no meio externo. – Então, nós podemos vê-lo agora?
   - Hã... Claro que sim, mas... – havia uma leve hesitação na voz do médico.

   Esperei, insegura. Afinal, não tinha qualquer motivo que pudesse fazer com que uma notícia como aquela precisasse de um “mas...”. A essa altura do campeonato, não podia mais haver controvérsias quanto o estado de saúde de Justin. Não podia mais haver “porém” ou “talvez”. Eu não queria uma boa notícia com algumas condições. Eu queria a verdade. Eu precisava de certezas. Certeza de saber que aquele sofrimento, por fim, acabaria.
   - Eu acompanho vocês até lá! – sugeriu o moreno, me fazendo ter certeza de que ele queria ganhar tempo.

   Dessa vez, eu não hesitei ou pedi espaço. Pelo contrário, me levantei no mesmo segundo em que Pattie e Jeremy, antes de abraçar, suavemente, de lado a primeira, enquanto caminhávamos, seguindo o mesmo trajeto até o quarto de Justin. Não era comum, mas eu estava mais ansiosa do que nunca para chegar lá. Queria me separar do grupo e tomar a dianteira, correndo o mais rápido que meus pés permitiam, até o encontro de meu bebê. Provavelmente – devido ao meu estado mental suspeito – seria o que eu faria, se ainda não tivesse a consciência de que a conversa com o médico não tinha terminado.

   - Bom, nós estivemos realizando alguns exames nas últimas horas, desde que ele recuperou a consciência. É um processo de verificação para certificar-se de que o paciente está bem de saúde, mesmo após esse período... – recomeçou Alves, parecendo ainda receoso.
   - E... Ele está completamente bem, não é? – arriscou Pattie. – Nada mais lhe aconteceu?
   - Bem... Não. – concordou ele, sem jeito – Mas... O apoio de vocês será muito importante nos próximos dias!
   - O que você quer dizer com isso? – perguntou Jeremy, sem se deixar levar pela clara e patética protelação alheia.

   Houve um silêncio, que durou mais do que era realmente necessário. Por um tempo que parece infinitamente longo, a única coisa que se ouviu foi o barulho constante de nossos passos no chão do hospital. Desejei poder encarar aquele tal doutor Alves até ele se sentir intimidada por mim, mas meu senso de educação falou mais alto e eu continuei a fitar o solo, com a consciência de que o profissional ao nosso lado estava receoso o bastante ao ter que dizer algo que pudesse não ser tão agradável assim.

   - Hã... Justin desenvolveu um quadro de amnésia retrógada. – disparou ele, suspirando. – Ele não se lembra de nada anterior ao acidente. Absolutamente. A única coisa que ele sabe é que se chama Justin.
   - Mas... Fora isso, ele está bem? – indagou Pattie, demorando-se nas palavras, enquanto parecia bastante desnorteada.
   - É... Sim. – concordou o moreno – Esses casos podem ser bastante passageiros, dependendo do qual grande foi o trauma na região. Ainda assim, é comum pessoas buscarem ajuda de psicólogos, mas eu não acho recomendado, pelo menos, por enquanto. O mais importante agora é o contato com a família e os amigos, embora vocês não devam exigir demais dele nos primeiros dias. Cada pessoa tem seu tempo. Mas se realmente nada adiantar em algumas semanas, talvez vocês devam procurar ajuda profissional!

   Pattie e Jeremy assentiam, ao mesmo tempo, enquanto escutavam o médico. Eu estava mais perdida em suas palavras. Sinceramente, ouvir isso me assustou – não tanto quanto os últimos dias haviam me apavorado, mas de um jeito mais particular. Eu nunca tinha lidado com alguma pessoa que passasse por isso e eu não tinha ideia de como eu deveria agir diante de tal alegação. Era claro que mesmo essa situação era melhor do que ter que observar Justin inconsciente em uma cama de hospital, mas ainda assim, me senti despreparada para lidar com ele, agora. Afinal, o que eu sabia sobre isso? Ou melhor, o que eu sabia sobre tudo o que estava acontecendo?

   Chegamos à porta do quarto de Justin mais cedo do que eu esperava. Por um momento, senti toda a insegurança que me atingira na primeira vez que havia entrado ali. O mesmo desejo de correr e me esconder da realidade. O mesmo frio na barriga – e dessa vez, não era porque ela estava vazia – e o arrepio na pele. Engoli em seco, tentando obrigar meu corpo a se controlar.

   - Bom, acho que devo deixá-los sozinho agora! – observou o médico, abrindo a porta do quarto suavemente.

   Alves não chegou a entrar, apenas esperou que nos o fizéssemos e, em seguida, chamou a enfermeira que estava a fazer companhia a Justin. A moça se surpreendeu com o chamado tão mais cedo do que ela esperava e sorriu suavemente para o meu namorado, antes de caminhar apressada até a porta. Houve um pedido de licença baixa e, então, a porta se fechou ruidosa, atrás de nós.

   Fiquei parada ali, perto da saída mais próxima, observando meus sogros que se aproximavam de seu filho, com expressões admiravelmente radiantes. Quis ter essa coragem toda de avançar até a cama, mas não era tão simples quanto deveria ser. Eu me sentia completamente chocada, congelada ali no chão. Eu não sei se isso fora causado pelo modo como a cena que eu estava vendo me atingiu ou porque ficar mais perto da porta era um jeito fácil de fugir, caso necessário. E, eu estava achando que seria.

   Independente do meu jeito covarde, não pude deixar de perder a naturalidade, diante daquela situação. Justin estava ali, parecendo completamente ele, sentando na cama, brincando com os próprios dedos. Seus olhos pareciam tão brilhantes e encantadores como antes, porém com algum de magia por estarem abertos novamente, depois de tanto tempo na escuridão. Minha visão do ambiente apenas melhorou, quando Pattie e Jeremy se sentaram na cama também, cada em um lado. Eles não pareciam ter qualquer medo de assustá-lo. Talvez, estivessem tão eufóricos por estarem diante de seu filho consciente de novo, que não se importavam com uma hipótese tão impossível, que parecia me manter afastada.

   Continuei no meu canto, enquanto assistia a Pattie deslizar sua mão suavemente pelo rosto de Justin, sem qualquer receio. Um sorriso lindo estava estampado no rosto da morena e com um excelente motivo. Seu filho não teve qualquer reação adversa aquilo, apenas a observou atento e aparentemente pensativo. Ele levantou seu braço engessado e segurou a mão dela, com notável cuidado.

   - Você não sabe como é bom te ver acordado, filho... – suspirou ela, soluçando devagar, quando as lágrimas pararam de respeitar um limite.
   - Mãe? – sua voz estava bastante rouco, talvez devido à falta de uso, mas ele não parecia nem um pouco incomodado.
   - Você se lembra? – gaguejou ela, sem parecer ter nem um pouco de curiosidade quanto a isso. Era mais um incentivo.
   - Não exatamente... – admitiu Justin, parecendo envergonhado – Mas... Seus olhos... Eles não me parecem estranhos. Você é bonita!

   Pattie sorriu, enquanto Justin se esforçava para que seus dedos alcançassem o rosto da mulher a sua frente, para que pudesse lhe secar as lágrimas. Eu não tinha percebido até o momento que também estava deixando gotas inapropriadas escaparem dos meus olhos. Pensei em secá-las, mas desisti. Era o primeiro choro, em semanas, que não doía, nem machucava. Pelo contrário, eu estava feliz em ver aquilo. Ver aquela conexão acontecendo diante de mim.

   Após um minuto, meu príncipe pareceu voltar sua atenção para o enorme homem sentando ao seu lado, analisando-o durante certo tempo. Jeremy também não estava com uma aparência muito diferente da de Pattie. Seus olhos estavam levemente avermelhados, reprimindo algumas lágrimas, enquanto um sorriso satisfeito se conservava em seu rosto. Ambos pareciam ansiosos para quebrar o silêncio, mas o primeiro a falar foi Justin...

   - Então... Você é o meu pai?
   - Sim. Com o maior orgulho do mundo, eu sou. – explicou, com a voz completamente inundada de emoção – E... Como tal, peço que nunca mais me dê um susto desses de novo!
   - Eu não sei bem como aconteceu, mas é um pouco dolorido. – suspirou Justin, rindo e olhando para seus próprios machucados. – Então, eu não vou!

   Notei o esforço de Pattie em esconder um olhar de reprovação, enquanto ela sorria. Era óbvio que ouvir que o filho estava sentindo dor não faria nenhuma mãe pular de alegria, mas talvez perceber que Justin parecia exatamente tão bobo quanto antes era algo reconfortante. Pelo menos, eu achava isso. Aliás, nada estava me fazendo melhor do que vê-lo rindo e animado, pelo menos por uns poucos segundos, já que era exatamente o oposto do que eu esperava.

   - Vocês... Não estão juntos, não é? – meu namorado me afastou de meus pensamentos de uma forma tão incomum, que provocou uma quietude em todo o local em seguida.

   Jeremy e Pattie se entreolharam, rapidamente. Seus rostos transmitiam toda a estranheza que aquela pergunta provocava. Eles sustentaram o olhar um no outro por um minuto e depois voltaram a fitar Justin. O último não parecia mais tão seguro como antes e aparentemente também notou que algo em sua atitude estava sendo considerado inapropriado.

   - Ah, desculpa! – sussurrou ele – Foi grosseria perguntar isso. Não é da minha conta. Em todo caso, eu não queria ofender!
   - Justin, é claro que é da sua conta! – discordou Pattie, já com o mesmo ar satisfeito de antes. – Você é nosso filho, tem o direito de saber essas coisas. Sua pergunta só nos pegou de surpresa, mas está tudo bem.
   - Eu não quis aparentar ser tão curioso... – se explicou como se não estivesse com esse total direito – Mas... Vocês parecem tão diferentes um do outro!

   Pattie e Jeremy deram de ombros para essa afirmação, talvez concordando, mas não importava mais. Antes que eu pudesse perceber que Justin já havia se afastado dos dois, encontrei seus olhos me encarando, curiosos. Reprimi um grito de susto, junto com a vontade de abrir a porta e sair correndo. Me esforcei para parecer natural, mas ele continuou a me fitar com o mesmo interesse confuso, quando, na verdade, não era algo que ele devesse fazer. O plano que eu tinha formado em minha cabeça era ficar ali no meu canto, parecendo tão invisível como o ar. Porém, ao que tudo indicava, eu falhara miseravelmente.

   - E quanto a ela? – a voz de Justin era só um sussurro, mas o silêncio na sala era o bastante para que eu pudesse saber que ele estava se referindo a mim.
  
   Finalmente, minha sogra pareceu perceber que eu não me prontificara a dar nenhum passo, desde que tínhamos entrado na sala. Pior do que isso, ela pareceu descobrir o real motivo pelo qual eu havia criado raízes naquela parte do chão. Suspeitei de que isso se tratava dos meus olhos, que nunca hesitavam em me denunciar injustamente. Mas, apesar dessa possibilidade, não pude ser ágil o suficiente para desviar o olhar, até porque algo na expressão de Pattie me incentivava a ter força o suficiente para me aproximar.

   Obriguei minhas pernas congeladas a caminharem em direção à cama. Levou um pouco mais de tempo do que levaria caso meu corpo estivesse sincronizado corretamente com a minha mente. Assim que eu estava perto o suficiente, Jeremy se levantou de seu lugar, apenas para me dar espaço, mas permaneceu ali em pé, ao lado do filho, sem coragem de se afastar mais do que poucos centímetros.

   Com as batidas do meu coração ecoando altas em meu ouvido, fixei meus olhos em Justin, antes de me sentar com cuidado, ao seu lado. Eu tinha que admitir para mim mesma que de perto era ainda mais satisfatório observá-lo. Pela primeira vez em dias de horas incontáveis, minha visão ignorava completamente todos aqueles tubos e curativos presos ao corpo do meu bebê e me concentrava só nele, afinal. Meus olhos começaram a liberar lágrimas compulsivamente enquanto meu corpo todo se arrepiava e meu coração inchava de felicidade. Eu mal conseguia acreditar que estava enxergando aqueles olhinhos brilhantes e fascinantes novamente.

   - Justin... – foi a única coisa que consegui sussurrar.

   Deslizei meus dedos pelo lençol, tentando tocar sua mão, que agora estava jogada mais uma vez sobre a cama. Mas antes que eu o fizesse, ele já a havia tirado do meu alcance discretamente. Em poucos segundos, seus olhos haviam perdido a serenidade para dar espaço a uma possível preocupação e ansiedade. Hesitei diante do pequeno sinal que só eu percebia, me esforçando para lembrar se havia feito algo errado.

   Na realidade, eu só estava tentando fazer com que a verdade não parecesse tão pesada quanto eu sabia que seria. Mas, eu tinha certeza disso desde o segundo que eu escutava “aquela” palavra. Desde que eu tivera o pressentimento na sala de espera. Desde o segundo que a boa notícia do dia trazia um porém. Eu tinha consciência de que iria doer, de que iria me magoar e de que me deixaria sem qualquer reação. Eu apenas não imaginava que seria na mesma intensidade da ferida anterior. Mas o buraco no meu coração só realmente começou a se abrir, quando as seguintes palavras saíram por entre lábios de Justin:

   - Qual é o seu nome?

----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

Capítulo 59? Final da YMMLY? Espera! Eu acho que não! rs rs rs
   Antes que vocês organizem um multirão para me matar, lembrem-se que eu amo muito vocês e vocês devem me amar muito também e quem ama, perdoa! skaopskaksaoksaokasokssok
   Seguinte, admito, que há muito tempo (lá pelo começo da segunda temporada) eu pensei em fazer a YMMLY acabar na terceira temporada, mas essa idéia passou. A verdade é que eu passei muito tempo trabalhando essa história na minha cabeça para fazê-la terminar assim, sem a conclusão merecida. Então, todo esse mimimi de the end que eu vim fazendo há uns dez capítulos(?)... Bom, era trollagem. rs rs rs  (Continuem lembrando que eu amo vocês hahahaha).
   Admitam, o que é a vida sem um pouquinho de diversão? hahahaha Levem na boa, não me matem, segurem o coração aí, porque daqui há 1 semana e meia teremos a QUARTA TEMPORADA de YMMLY. E eu vou tentar ser mais boazinha com vocês a partir de agora hahahah. Ou não. Vou me esforçar!

   O capítulo de hoje não é dedicado para uma pessoa só, eu quero que todas vocês aceitem esse capítulo como eu enorme pedido de desculpas por eu não ter um pingo de vergonha na cara hahahhahaha Amo vocês, minhas nenéns. E juro que não faço por mal!
   Então, vejo vocês daqui há alguns dias para uma temporada nova?
   Espero que gostem da idéia!
   Boa noite... 

25 fevereiro 2013

3. You Make Me Love You - Capítulo 58


Dura realidade


Música do capítulo: I won't give up - Jason Mraz


Belieber’s POV

   Pattie passou a noite inteira com Justin. Algumas vezes, Scooter aparecia no corredor mais próximo a nós para pegar um pouco de água para a primeira. Ele não se dirigiu nem a mim, nem a Lucas, possivelmente, receoso em nos incomodar ou preocupado demais com a minha sogra desesperada que esperava por ele.

   Ainda assim, permaneci paciente durante toda a madrugada, enquanto rezava para que esse conturbado furacão passasse logo. Para ser sincera, eu estava até gostando um pouco de ter que esperar. Me dava espaço suficiente para superar o significado de “coma”, ao mesmo tempo em que Pattie poderia passar um momento que durasse o quanto desejasse com seu menininho.

   Aquela noite foi diferente. Lucas não cochilou, apesar de todo meu esforço para que isso acontecesse. Pelo contrário, o loiro passou grande parte da madrugada, tentando me fazer cair no sono, mas fracassou, como já era de se esperar. Eu provavelmente não voltaria a saber o que é sono até ter certeza de que Justin já não corria mais nenhum risco de saúde. Felizmente, porém, dessa vez, as horas foram mais calma. Lucas me deixou quieta – sem ter que ouvir qualquer frase mentirosa que deveria supostamente me ajudar –, enquanto mexia em meu cabelo de uma forma tão suave, que fez com que toda minha negatividade reduzisse discretamente.

   Pela manhã, quando eu já estava começando a sentir uma leve dormência nas pernas, dois vultos surgiram no fim do corredor. Respirei fundo, tentando achar alguma desculpa para protelar esse momento ao máximo, enquanto Pattie e Scooter se aproximavam mais e mais. Notei que a morena trazia um pequeno monte de roupas dobradas e empilhadas – peças que provavelmente Justin usara antes de entrar ali. A meu ver, a situação foi piorando à medida que os dois se aproximavam. Isso porque quando pararam diante de nós, eu pude perceber que ambos estavam com os olhos ligeiramente vermelhos. Ambos.

   Era besteira minha achar que Scooter não estava tão afetado com isso quanto nós duas, afinal, de certa forma, Justin era seu garotinho também. Ele o acompanhou durante toda a mudança surpreendentemente rápida, ao longo dos últimos anos. Mas apesar disso, acabei me surpreendendo da mesma forma. Eu nunca o vira passar por uma situação que o deixasse assim, pelo menos, não até agora.

   - Bom dia! – cumprimentou, mais por educação. – Bem, eu vou levar a Pattie para comer alguma coisa e, talvez, alugar alguns quartos de qualquer hotel aqui perto. Eu sei que todos estamos preocupados, mas vocês precisam descansar...

   Pela expressão de Pattie, estava claro que ela não gostava nem um pouco dessa sugestão, do mesmo modo que me desagradou ter que ouvir tudo no plural, como se ele estivesse me incluindo também. Preferi ficar em silêncio, apenas para não causar um conflito por detalhes banais. Afinal, Scooter não precisava saber que seria necessário um trator para conseguir me fazer sair daquele hospital, se não fosse com Justin.

   - É, é melhor assim mesmo... – dissimulei – Aliás, falando sobre isso, acho que eu deveria ver como estar Justin, não?

   Pattie arfou rapidamente, antes de assentir. Em seguida, os dois continuaram o seu caminho até a saída. Fiquei aliviada quando os vi saindo do meu campo de visão. Era bom saber que Scooter estava ali para fazer minha sogra manter-se saudável, apesar de tudo. Eu tinha certeza que todas as horas que ela passara dentro daquele quarto, tendo que observar seu filho de uma maneira que eu não conseguiria imaginar, haviam causado um grande impacto em seu emocional já fragilizado.

   Me levantei devagar, esperando que o sangue voltasse a correr até as minhas pernas, lentamente. Ficar de pé foi um pouco desconfortável para mim, mas logo Lucas estava ao meu lado, pronto para me acompanhar até o quarto. Era bom saber que ele estava ali me amparando. Era bom sentir seu braço em volta da minha cintura. Ainda assim, não era o suficiente para me fazer relevar o silêncio constante desde a nossa última conversa no corredor. Perguntei-me se algo que eu dissera o teria incomodado ou, talvez, ele apenas não tivesse tirado aquela ideia maluca da cabeça ainda. Estremeci ao pensar sobre segunda possibilidade.
  
   Antes que eu pudesse perceber, estávamos parados diante da porta do quarto de Justin. Eu podia sentir o olhar constante de Lucas sobre mim, possivelmente estranhando meu retardo temporário. Na verdade, eu não sabia se estava pronta realmente para aquilo. Não sabia se estava preparada para fazer o que eu mais estive desejando nas últimas horas. Pensei em sugerir mais uma volta pelo hospital, mas não queria que meu melhor amigo notasse que eu estava apavorada. Já era humilhante demais ter meu sofrimento exposto tão obviamente, então, seria ainda pior se nem o medo pudesse ser algo só meu.

   - Lucas... – comecei, insegura. – Você se importa se eu fizer isso sozinha? Acho que vai ser melhor assim!
   - Você vai ficar bem? – murmurou ele.   
   - Acho que sim...
   - Tudo bem, mas... Eu vou ficar te esperando aqui fora!

   O loiro se aproximou para beijar minha testa suavemente, antes de afagar meu cabelo. Seus olhos permaneciam tão preocupados quanto em qualquer outro momento ali dentro. Lucas hesitou por um minuto e, então se encostou à parede, me dando espaço para fazer o que eu quisesse ou... O que eu deveria fazer. Afinal, era óbvio que se dependesse só de mim, eu já teria cravado uma faca no meu peito, apenas para não ter que enfrentar isso. Aquela situação estava deixando claro o quanto eu era fraca e covarde.

   Toquei a maçaneta, ainda receosa. O metal frio parecia querer congelar todo o meu corpo ou talvez eu mesma já estivesse tentando fazer isso para mim. Empurrei a porta devagar e me certifiquei de entrar, fechando-a logo atrás de mim para que Lucas não me pegasse completamente desnorteada com a cena que eu acabara de ver. Mordi os lábios com força, fechando os olhos. Eu precisava de um tempo na solidão silenciosa do meu escuro interno para poder me controlar.
      
   Forcei os músculos da minha perna a desempenharem sua função, enquanto abria os olhos calmamente. A tranquilidade passou um segundo depois. Agora não era mais suposição, nem imagens aterrorizantes projetadas por minha mente traiçoeira. A realidade estava bem ali, estampada diante dos meus olhos. Justin permanecia deitado, inconsciente, em uma estúpida cama hospitalar, cercado por uma aparelhagem estranha, tendo uma o apitar mais agonizantes que eu já ouvira em minha vida.
   Embora eu já não tivesse mais vontade de avançar para mais perto daquele pesadelo, meu corpo se recusou a concordar comigo. Eu já estava chegando perto da cama, antes mesmo de me obrigar a parar.

   Quando me vi ali, tão perto da figura maltratada do meu bebê, meu coração sofreu uma rápida parada e eu tive que me esforçar para permanecer íntegra. Era meio desconcertante ter que encarar aquilo. Havia um tubo pequeno entrando pela pele do seu braço direito – a conexão oculta por um esparadrapo –, que levava o soro de um pacote transparente com identificação até suas veias. Outro, de semelhante tamanho, logo abaixo de seu nariz. Tentei não olhar muito para este, sempre me dava nervoso quando eu via em filmes e imagens, assim, ao vivo e principalmente nele, parecia ainda pior. Não dava para ver onde o monitor cardíaco se conectava devido à camisa fina e tosca de hospital, mas nem era necessário. Só os bipes demorados já eram suficientes para me desesperar. Era exatamente o som que eu temera durante um tempo infinito.
   
   Me sentei no espaço minúsculo disponível na cama, ignorando completamente a cadeira ao lado da mesma ou o pufe largo encostado à outra parede. Desejei tocar sua pele, mas ele ainda parecia tão frágil que não prossegui nessa ideia. Fitei seu rosto por um longo minuto, tentando ignorar tudo aquilo, mas era impossível. Havia uma faixa – ou qualquer outra coisa de outro material, não importava – envolta em sua cabeça, um curativo que se estendia da metade da testa até a lateral do rosto, na altura da orelha, e, embora este parecesse minúsculo em relação aos outros, um pequeno corte na parte inferior do seu lábio. O mesmo já havia sido devidamente tratado, mas ainda dava para notar.

   Suspirei, lembrando a mim mesma que eu não deveria ter mais lágrimas para chorar, enquanto tentava me manter o mais distante do corpo dele possível, na cama. Eu não sabia qual costela havia sido fraturada e tinha medo de que fizesse algo que pudesse infligir alguma dor ou algo mais sério. Infelizmente, não dava para ter qualquer noção disso, já que a roupa e os lençóis da cama dificultavam a visão deste e de, talvez, outras marcas daquele acidente. A única coisa que não era oculta por qualquer tipo de pano – além dos ferimentos do rosto – era o gesso em seu braço esquerdo. E alguns hematomas.

   Eu não sabia mais como encarar aquela cena, sem poder fazer nada. Como continuar olhando seus olhos suavemente fechados sem saber ao certo quando eles iriam voltar a abrir e me fitar da maneira mais encantadora possível. E nem como continuar bem, mesmo sendo obrigada a ouvir aquele barulho insuportável que distorcia o verdadeiro som maravilhoso das batidas de seu coração, que agora estavam fracas e esforçadas.

   Não consegui aguentar mais. Debrucei-me devagar sobre o corpo desacordado do meu namorado, tendo o cuidado de não posicionar meu peso em cima dele. Tentei me apoiar ao máximo no colchão, mas sem encostar em qualquer parte do tronco de Justin, enquanto aproximava meu rosto do dele. Examinei cada pequeno detalhe de sua face como eu sempre gostara de fazer nas horas vagas e permiti que a dor em meu peito se agravasse. Apesar de eu não me importar muito comigo, era estranho ter que assistir àquilo e sentir meu coração batendo fraco, como se cada ferida dele estivesse agora em meu corpo.

   Já era tarde demais quando percebi uma pequena gota cair sobre o rosto de Justin, seguida por tantas outras. Rapidamente, me concentrei em engolir o choro, mas não parecia mais tão fácil quanto antes. Aparentemente, meu próprio organismo estava me sabotando, se esforçando para drenar todo o meu corpo, como se eu já não estivesse desidratada o bastante, devido a minha falta de preocupação com detalhes banais nas últimas horas.

   Deslizei meu dedo suavemente pelas gotas que eu deixara cair e que definitivamente estavam no lugar errado. Enquanto tentava ser o mais cuidadosa possível, não pude deixar de notar que a pele de Justin – que anteriormente parecia tão cálida ao meu toque – estava ligeiramente mais comum e fria. É claro que poderia ser apenas o clima ambiente da sala que fazia isso acontecer, mas também poderia não ser. E, ao julgar por sua aparência pálida, eu não tinha muitas esperanças de que aquilo pudesse ser explicado por algo tão simples como o primeiro pensamento ilusório que me ocorreu.

   - Justin... – miei, desolada.

   Eu não estava tão desesperada ao ponto de achar que ele magicamente abriria os olhos e se prontificaria a falar comigo, mas até ouvir a minha voz completamente rouca e entrecortada era melhor do que barulhento silêncio daquela sala. Além disso, era mais reconfortante imaginar que ele poderia escutar minhas palavras, embora elas não pudessem fazer muito por ele.

   - Ei, lembra o que você me falou antes de entrar naquele carro idiota? – suspirei – Você disse que eu era a coisa mais preciosa que você tinha. Tem noção de como é errado fazer isso comigo? Ficar sem você é assustador...

   Deixei que minha imaginação criasse uma cena mais agradável em minha cabeça, me perguntando o que Justin diria, caso não estivéssemos nessa situação. Provavelmente, ele começaria negando que falara qualquer coisa parecida com aquilo, embora soubesse da verdade. Ele passaria um longo momento se gabando por tudo o que eu havia admitido sobre ficar sem sua companhia. Em seguida, nós passaríamos rápidos minutos discutindo sobre nossa própria idiotice e terminaríamos com toda a cena quando Justin avançasse em cima de mim para me beijar, como era usual. Era uma das poucas rotinas de que eu gostava...
        
   Sequei as lágrimas que começavam se acumular, se preparando para cair novamente. Eu já estava começando a ficar cansada daquilo, sentindo que em breve meus olhos cairiam de tanto chorar. Mas, dessa vez, tinha sido minha culpa. Era uma tremenda falta de consideração com o meu emocional, comparar a hiperatividade de Justin – com a qual eu já havia me acostumado – com o estado em que ele se encontrava agora.

   - Você não tem ideia de como eu queria poder te fazer prometer que vai ficar bem... Ou melhor, como eu queria fazer você ficar bem. – toquei sua mão direita, enquanto falava, observando o encaixe de nossos dedos. – Eu sei que eu deveria confiar na capacidade dos médicos, mas eles nunca podem dar certeza de nada. Não consigo esperar por “talvez” e eu... Eu não posso te perder, Justin!

   Solucei baixinho, desistindo de todas as minhas patéticas tentativas de manter o mínimo de calma que eu ainda achava conseguir. Separei minha mão da dele e esperei até que eu, afinal, parasse de tremer, mas demorou mais do que pensava. Eu estava deixando o pouco autocontrole que eu mantivera nas últimas horas – ou pela aparentara manter – se esvair lentamente.

   Com cuidado, ao mesmo tempo em que obrigava a recuperar a firmeza, levei minha mão até o seu rosto, acariciando-o devagar, enquanto meus dedos passavam entre o curativo na lateral do seu rosto e o pequeno tubo transparente que passava pelo meio do mesmo. Me ajeitei novamente na cama, aumentando a proximidade e sentindo minha respiração ficar ligeiramente irregular, como se o poder dele sobre mim não fosse nem um pouco afetado, inclusive em situações como essa.  Devagar, deslizei um dedo por sua boca, antes de beijar o canto de seus lábios, com toda a delicadeza possível. Ele não saberia, mas aquilo ainda era capaz de fazer com que eu me arrepiasse.

   Afundei meu rosto no travesseiro, quando minha pele deslizou pela dele. Reprimi a vontade de afagar seu cabelo, ao notar novamente aquela faixa ridícula. Eu continuava com medo de fazer algo errado. Ainda assim, apesar do latejar insistente em minha cabeça, era um pouco mais reconfortante ficar tão próxima do Justin. Ali, eu podia sentir o cheiro imutável e agradável dele. Além de estar perto o suficiente de seu ouvido para poder abrir todo o meu coração sem parecer uma tola iludida.

   - Eu sei que falar isso agora não vai fazer diferença, mas de qualquer maneira, eu espero que você já saiba... – recomecei, ligeiramente nervosa – Você é uma das coisas mais importantes que a vida me deu e não vou permitir que ela te tire de mim assim. Não vou saber viver sem você. Eu te amo, Justin! E te amarei para sempre...

   Mordi o lábio inferior, tentando não soluçar desenfreadamente, pois eu ainda desconfiava de que aqueles ruídos involuntários pudessem de alguma forma incomodá-lo. Suspirei, enquanto deixava que minhas lágrimas molhassem o forro branco do travesseiro. Infelizmente, precisei resistir à vontade de abraçá-lo apertado, já que brutalidade era a última coisa que eu queria que se infiltrasse pelo meu pânico. Justin já tinha problemas demais no momento e não precisava que eu lhe arranjasse mais um.

   - Com licença...

   Droga!

   Hesitei ao escutar outra voz no quarto, junto a nós. Aquilo era um aviso claro de que já estava na hora de me retirar. A ideia de ter que me afastar de Justin pareceu completamente torturante. Embora ficar ali doesse e fizesse meu coração se revirar de agonia, pior seria voltar para a sala de espera idiota e ter que ficar aguardando informações igualmente idiotas e editadas, onde a pior das notícias seria completamente remontada até parecer menos desagradável. Esse eufemismo era realmente repugnante...

   Arfei, me recompondo internamente. Como era de se esperar, levei um longo tempo até conseguir achar força suficiente para me distanciar de Justin. Ao finalmente fazê-lo, sequei o rosto depressa, antes que eu acabasse me humilhando ainda mais ou fazendo sabe-se lá quem, que entrara no quarto, sentir pena de mim. Tentando eliminar qualquer possibilidade de dó alheia, me levantei da cama rapidamente, enquanto tentava parecer íntegra – mas na verdade, minha mão ainda tremia, agarrada a mão do meu bebê.

   Ao dirigir meu olhar até a porta, vi uma enfermeira baixa e loira, que segurava um daqueles típicos carrinhos de hospital. Esse estava entupido de pequenas bolsas transparentes e resistentes, preenchidas por um líquido de cor semelhante. Como se não bastasse, a moça me fitava com uma expressão de solidariedade, que imediatamente fez com que eu sentisse vontade de expulsá-la do quarto, antes que ela fizesse o mesmo comigo, tendo a audácia de me afastar do meu namorado. Porém, embora, na teoria, parecesse um bom plano, na prática, não beneficiaria ninguém.

   - Sim? – perguntei, por fim.
   - Eu sinto muito, senhorita, mas precisarei pedir que se retire, pelo menos por um minuto... – informou a loira – Eu tenho que repor o soro!

   Assenti, sem a mínima vontade. Com receio, soltei a mão de Justin e me preparei para caminhar até a porta do quarto, mas embora eu tenha me esforçado para parecer natural, não foi tão fácil assim. Os poucos passos até a porta foram, enquanto eu começava a me sentia levemente tonta. Sinceramente, eu não esperava que o efeito de ter de me separar dele fosse tão avassalador assim, mas fazia com que o desejo de me recusar a sair dali aumentasse. Porém, ainda que eu não quisesse sair dali, eu fora estupidamente educada pela minha mãe que me ensinou a respeitar os mais velhos. Em outras palavras, minhas pernas se arrastaram contra a minha vontade até a porta, deixando os dois sozinhos.

   Voltar àquele corredor me pareceu a morte. Eu não queria estar ali, não queria ter que olhar para aquelas mesmas paredes lisas e passar pelas portas com enumeração. Eu precisava permanecer no quarto, eu precisava sentir que, mesmo por só pouco tempo, Justin ainda estava comigo. A única coisa que me fez esconder todas essas questões e debates em minha cabeça foi Lucas. Ele cumprira o que tinha dito e estava me esperando, encostado a parede. Assim como antes, eu não queria que ele achasse que eu estava me despedaçando em dor, embora agora parecesse mais verdade do que nunca.

   - Você está bem?

   A voz dele soou baixa e arrastada, quase como se eu estivesse com dificuldade para entendê-las. Tentei não pensar muito nisso, afinal, eu sabia que não responderia. Ao invés de me preocupar, apenas me apoiei na parede, ainda sentindo a mesma tontura perturbadora que me atingira dentro do quarto. Gotas de suor começaram a brotar em minha testa e eu respirei fundo, esperando que não fosse mais alguma armadilha do meu próprio corpo para me deixar pior.  

   - Droga, (Seu nome)! – gritou Lucas, ainda com a voz arrastada, mas em um volume maior.

   Antes que eu pudesse demonstrar minha insatisfação com a sua atitude estranha, senti meu corpo começar a ficar dormente e cambaleei, perdendo totalmente o equilíbrio – que nos últimos dias não tinha sido muito minha amiga. Porém rapidamente braços fortes estavam ao meu redor. Eu tinha certeza que alguém estava me segurando, mas minha visão estava começando a ficar embaçada. Gemi baixinho, ainda com dor de cabeça.

   - Ei, o que aconteceu com ela? – era uma voz feminina, possivelmente, mas eu não conhecia.
   - Eu não sei! – já esse som estava mais próximo de mim, então deveria ser Lucas – A pressão dela deve ter despencado. Ela não come nada há horas...

   As vozes foram diminuindo até que eu não pudesse ouvir mais nada. Não me lembrava de ter fechado os olhos, mas também não mais podia ver. Por um minuto, meu estômago se contraiu, mas passou depressa. Assim como a dor de cabeça também. E todas as feridas aterrorizantes que ultrapassavam o estado físico haviam sumido. Não fui capaz de sentir mais nada... 


----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
  Capítulo 58, gatinhas :)      
   Vocês devem estar pensando que eu não tenho calendário em casa, porque falei que iria postar no sábado e, olha, hoje é segunda! Hahahhaha Mas eu tentei, só que realmente não deu tempo, porque eu passei o dia inteiro ocupada e, no domingo, não tava em casa para postar. Enfim...
   O capítulo de hoje vai para uma leitora "antiguinha" aqui do blog, a @semimysong, porque... HOJE É ANIVERSÁRIO DELA! Cadê bolo? Cadê confete? Cadê? Por enquanto, não tem, mas parabéns (de novo), Maria. Te amo muito, Miss Drama hahahahha

   Por hoje, é só, gatinhas. Amo vocês, então tentem segurar o coração aí. Eu sei que níveis de tristeza elevados na reta final da ib, mas vai que eu sou boazinha e termina tudo bem? Ou vai que eu sou maligna e futrico o final inteiro? Quem sabe? Ah, espera. Eu sei! rs rs rs
   Enfim, relaxem e durmam bem!